Anarquismo na Espanha

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Este foi o único país do mundo no qual as idéias de Bakunin se concretizaram tornando-se um poder real. Foi lá inclusive, que o anarco-sindicalismo alcançou seu apogeu.

A história de sofrimento das massas populares espanholas é anterior a chegada de Fanelli, precursor persuasivo e expressivo de tal doutrina tão brava, calorosa e criativa.

Por volta de 1840 o parlamento espanhol provocou uma grande revolução ao confirmar o desapropriamento das terras de pequenos fazendeiros, para dá-las à ricos cidadãos das cidades. Para se defender desta injustiça os camponeses se armaram e se defenderam como puderam. A “nova classe de fazendeiros” desenvolveu um pequeno exército de ocupação das terras, iniciando uma interminável guerra entre guerrilhas.

Assim, os camponeses seguiram um “ritual” quase que pré-programado. Eles mataram os guardas, sequestraram padres e funcionários, incendiaram igrejas, queimaram registros cadastrais e contratos de arrendamentos, aboliram o dinheiro, declararam sua independência em relação ao Estado, proclamaram comunas livres e exploraram coletivamente a terra. Porém, tudo isso ocorreu anos antes do surgimento das idéias libertárias.

Em 1845, um discípulo de Proudhon, Ramón de La Sagra, fundou em Coruña o jornal El Provenir que, apesar de ter sido fechado imediatamente pelas autoridades pode ser considerado o primeiro periódico anarquista.

Isolada da Europa e com características ao mesmo revolucionárias e conservadoras a Espanha produziu um poderoso movimento anarquista.

Antes do aparecimento dos bakunistas houve várias greves e tumultos em diversas regiões da Espanha. Em setembro de 1868 a rainha Isabelle foi forçada a se exilar quando começou imediatamente a história do ouro e do anarquismo espanhol. Em outubro desse ano, aproveitando a agitação geral, Fanelli espalhou entre os jovens intelectuais e operários as idéias antiautoritárias defendidas na I Internacional. Quase todos, imediatamente aderiram ao movimento, aparecendo os primeiros jornais relatando as primeiras seções da Internacional. Em 1870 foi fundada a Federação Espanhola da Internacional e dois anos mais tarde, apesar das pressões do genro de Marx, os anarquistas descentralizaram as sessões locais, que ganharam total autonomia e criaram um escritório central, apenas com o intuito de fazer correspondências e estatísticas.

Depois da curta e infeliz presidência do federalista Pi y Margall, sem a participação dos anarquistas, o exército tomou o poder e suspendeu a Federação Espanhola da Internacional, prendeu os anarquistas, obrigando-os a se exilarem. Porém os anarquistas continuaram na clandestinidade, atuando com relativo sucesso.

Em 1878, com a tentativa de assassinato do rei Afonso XII a repressão contra-atacou com violência, gerando greves. Quatro anos mais tarde um governo mais liberal legalizou as corporações de operários e liberou a organização Internacional Espanhola. Mesmo assim, a violência adotada por alguns grupos de anarquistas levou-os novamente à clandestinidade um ano depois. Ao mesmo tempo, os anarquistas espanhóis se dividiram entre anarco-comunistas e coletivistas (adeptos de Bakunin).

Anos mais tarde, os anarquistas tomaram a CNTConfederação Nacional do Trabalho – e evitaram a formação de uma burocracia permanente dentro desta.

Em 1924, depois de muitos incidentes e participações nos movimentos operários de toda a Europa, a CNT foi dissolvida por ordem de Primo de Rivera.

Em 1927, em Valência, representantes de diversos grupos anarquistas se uniram e fundaram a FAI- Federação Anarquista Ibérica- sendo uma organização clandestina e destinada à preparação de revoluções.

Com a queda de Primo Rivera, em 1930, todos os grupos políticos, inclusive os anarquistas passaram a brigar pela república. Mesmo com a conquista desta, os anarquistas continuaram com as greves e reivindicações radicais, deixando bem claro o que pretendiam. Sob o comando da FAI, eles fizeram ma série de atentados, saquearam igrejas e redistribuíram terras, provocando uma verdadeira reforma agrária.

Em maio de 1936, Duruti e Garcia Oliver participaram de um congresso e Saragoza, onde se recusaram a atuar junto aos socialistas, deixando a Espanha em um estado de expectativa e agitação. Com a revolta dos generais em julho de 1936 estourou a guerra civil. Três anos depois, a Espanha caiu sob a tutela de Francisco Franco.

O problema dos anarquistas espanhóis é que eles não podiam se manter fiéis à sua doutrina, ao mesmo tempo que participavam de uma guerra e uma constante luta pelo poder.

Por outro lado, eles podiam acrescentar à sua honra uma extraordinária experiência na guerra civil, tendo praticado com muito sucesso a coletivização dos meios de produção e realizando na prática a autogestão espanhola.

Fonte: www.geocities.com

Anarquismo na Espanha

Revisionismo e a Guerra Civil Espanhola

Poucas mentiras e falsificações históricas tem conseguido ter uma vida tão longa e tranqüila como o mito da “heróica CNT-FAI” durante a Guerra Civil Espanhola. A apresentação da CNT-FAI como único baluarte revolucionário na Espanha da década de 30 tem seu espaço consolidado na memória social da esquerda por uma série de razões que este texto se propõe a esclarecer. Entendo, assim como Bakunin, que a verdade é revolucionária, logo que o compromisso de todo revolucionário passa pelo compromisso com a verdade. Desta maneira este texto se propõe a ser um ataque frontal contra a farsa suja que mascara a atuação reacionária e contra-revolucionária da CNT-FAI durante a Guerra Civil Espanhola, trazendo a luz o verdadeiro contexto que determinou as ações e reações no interior do campo daqueles que reivindicavam o anarquismo na Espanha dos anos 30.

1 As origens do anarquismo e sua deformação: Bakunin versus Kropotkin

Desgraçadamente o número daqueles pensadores sérios que se dedicaram a investigar a história do anarquismo enquanto ideologia é extremamente reduzido. A imensa maioria do que se escreveu neste sentido possui um caráter diletante, com pouco ou nenhum compromisso com métodos de análise e comprovação historiográficos, baseados apenas em formas literárias grandiloquentes e vazias de conteúdo.

Este método irresponsável e diletante de se escrever a história do anarquismo tem por resultado afirmações grotescas tais como aquelas que apontam a origem histórica desta ideologia ainda na ” pasmem! ” Grécia Antiga, quando não na arqui-milenar China da Antiguidade. É necessário que se rompa definitivamente com esta maneira equivocada de se compreender a história do anarquismo até mesmo para ser possível compreender com maior clareza os contornos precisos que constituem a particularidade e a especificidade do anarquismo no interior do campo mais amplo do socialismo.

Os avanços da ciência histórica tem possibilitado o esclarecimento de importantes questões colocadas pela sociedade de classes em que vivemos e tem francamente beneficiado o pensamento progressista contra o obscurantismo das Direitas. Como exemplo é importante citar o recuo que a ciência histórica impôs aos nacionalistas reacionários dos mais diversos países ao provar que a idéia de nação é socialmente construída e além do mais é um fenômeno relativamente recente, o oposto da idéia de nação como comunidade ancestral e anterior a todas as outras como se encontra presente no discurso do nacionalismo romântico (necessariamente reacionários), aí incluído o nazismo alemão.

Da mesma maneira é importante realizar a investigação sobre as origens do anarquismo munidos da metodologia científica da historiografia. A primeira vez em que foi registrada a utilização do conceito “anarquia” e “anarquista” de uma maneira positivada para definir um determinado programa político e seus aderentes foi com o revolucionário francês Pierre-Joseph Proudhon em meados do século XIX. Assim sendo, qualquer tentativa de marcar antes deste contexto histórico a origem do anarquismo é um grave anacronismo, tal como definir Zumbi dos Palmares ou Tupac Amaru como anarquistas, somente por que seria conveniente aos anarquistas de hoje. É importante não esquecer que as pessoas e os povos do passado devem ser respeitados em suas escolhas concretas e a falsificação da história por conveniência política foi sempre algo acertadamente combatido nos regimes totalitários de toda espécie.

Proudhon foi um intelectual operário que buscou em toda sua vida servir à luta do proletariado pela sua libertação, toda sua produção teórica era apontada diretamente ao fim de munir os trabalhadores de um programa concreto a ser aplicado quando de sua vitória sobre a burguesia e de uma teoria que permitisse uma leitura adequada da realidade no contexto da luta destes mesmos trabalhadores contra esta mesma burguesia. Já se sabe hoje que Proudhon influiu direta e pessoalmente na conversão de Bakunin ao Socialismo Revolucionário. Este incansável militante russo provinha do campo político do republicanismo radical e popular e tinha conseguido plasmar ao longo de sua vida uma complexa formação intelectual e uma vasta experiência política forjada em anos de duros combates.

Bakunin que havia estudado profundamente a filosofia de Hegel, Kant, Fichte entre outros, além de ter sido oficial de artilharia do exército czarista durante a juventude, combateu nas primeiras fileiras das principais sublevações revolucionárias da Europa da década de 40 do século XIX. Foi com base nesta matriz de experiência política e intelectual que Bakunin pôde sistematizar e levar às últimas conseqüências o programa e a teoria de Proudhon e a experiência de luta revolucionária por socialismo e liberdade do proletariado europeu de sua época.

O anarquismo é uma ideologia, quer dizer, é um sistema de valores e aspirações articulados de maneira coerente e dialética. Às aspirações de socialismo (igualdade) e liberdade, se plasmam os valores da luta classista e da organização dando os contornos precisos daquilo que é o anarquismo (enquanto idéia e enquanto prática, indissociavelmente) e que como tudo é produzido por homens e na história. Diferentemente dos idealistas que acreditam que os ideais pairam sobre a humanidade e conduzem os destinos desta, nós, materialistas, sabemos que os ideais são produtos dos homens e refletem a experiência material destes.

Assim sendo é preciso saber diferenciar a origem do anarquismo ” enquanto sistematização intelectual produzida por Bakunin a partir das bases legadas por Proudhon e pela própria experiência do proletariado da qual fazia parte ” da origem da aspiração humana pela liberdade ou pela igualdade.

É a confusão “propositada ou não” entre estes dois elementos que tem acarretado tantos prejuízos a uma história séria do anarquismo. ,

Bakunin no interior de seu pensamento sistematizou o anarquismo enquanto ideologia assim como construiu as bases de sua teoria, de seu programa e de sua estratégia. A própria vida de Bakunin, na qual estava intimamente associada a prática política organizativa, armada e conspirativa com a produção intelectual, certamente possibilitou o desenvolvimento de sua imensa obra. Resumidamente pode-se dizer que Bakunin sistematizou o anarquismo (ou socialismo revolucionário ou coletivismo revolucionário como chamava) como uma ideologia revolucionária a ser instrumentalizada por parte de uma organização política no interior das lutas do proletariado que pudesse o conduzir no sentido de uma intransigente separação política com relação à burguesia rumo à ruptura revolucionária que teria por programa a abolição do sistema político burguês (o Estado) e a propriedade privada, fundando uma sociedade de trabalhadores livres organizados em conselhos (ou comunas, como se chamava em sua época) necessariamente federados entre si gerindo a economia e o poder.

É importante perceber que no interior das formulações de Bakunin são centrais as idéias do: 1) Anti-cientificismo (defesa da ciência mas recusa de seu papel dirigente na sociedade); 2) materialismo enquanto método analítico e político (uma recusa profunda de todo “educacionismo”): “Eu gosto muito desses socialistas burgueses que nos gritam sempre: ” Instruamos primeiro o povo e depois o emancipemos”. Pelo contrário nós dizemos: Ele que se emancipe primeiro e se instruirá ele próprio”.3) classismo (intransigência com relação à burguesia): “Nenhum aparente acordo de opiniões políticas é suficiente para superar o antagonismo de interesses que divide a burguesia e os trabalhadores” . Estas idéias são indissociáveis no processo que leva à sistematização do anarquismo e fazem parte de um todo coerente com a própria ideologia tal como Bakunin a desenvolveu.

Logo após a morte de Bakunin em 1876, inicia-se no interior do movimento operário europeu, no interior mesmo da “ala federalista” deste movimento operário uma profunda revisão teórica e fundamentalmente política daquilo que Bakunin havia sistematizado enquanto anarquismo, e esta revisão ” tão nefasta para o futuro do anarquismo ” inicia-se com a introdução do “comunismo” enquanto explicação última do programa anarquista. O defensor máximo desta revisão foi o Sr. Piotr Kropotkin.

Em um primeiro momento pode ser estranho que uma ” aparentemente” mínima revisão da sistematização de Bakunin pudesse ter conseqüências tão funestas para o socialismo e o conjunto do proletariado. Bakunin havia definido que o programa do anarquismo era o coletivismo, ou seja, uma sociedade onde a propriedade seria coletiva e o direito a participação no fruto da produção estaria condicionada pela participação nesta mesma produção: “De cada um de acordo com suas possibilidades, a cada um de acordo com seu trabalho”. O fundamental aqui é a afirmação de uma sociedade de trabalhadores, onde não existe qualquer possibilidade de desenvolvimento de classes ociosas e onde a sociedade controla a produção e a distribuição no âmbito de seu sistema econômico, não o deixando a mercê dos interesses privados (como no capitalismo).

A idéia do comunismo: De cada um de acordo com suas possibilidades, a cada um de acordo com suas necessidades é plenamente desenvolvida no âmbito da chamada “Escola Alemã” que tem por ideólogo o Sr. Karl Marx e está profundamente vinculada ao conjunto das racionalizações marxianas. Um dos principais responsáveis pela revisão que introduziria o comunismo enquanto programa do anarquismo foi Carlo Cafiero, um antigo colaborador de Marx e Engels e que antes de sua morte volta a associar-se a eles. Ou seja, a origem do comunismo dos anarco-comunistas está em Marx. A idéia do comunismo é extremamente problemática pois lança a discussão sobre sua realização para o plano do absurdo. Em Marx e na tradição marxista, o comunismo nada mais é do que um elemento retórico que legitima a ditadura do partido único enquanto programa a ser realizado pela revolução popular, é a chamada fase de transição.

Entre os que fazem a revisão do anarquismo haverão duas linhas de interpretação distintas com relação à implementação do comunismo: Malatesta vai admitir a possibilidade de uma etapa coletivista de transição ao comunismo; já Kropotkin, um inveterado idealista, vai entendê-lo como ápice de um processo evolutivo da humanidade.

Aqui está o núcleo central de todos os problemas, desvios e deformações que a idéia do comunismo traz ao revisionismo do anarquismo. No comunismo não há regulação social da economia, o indivíduo é o soberano absoluto na produção e na distribuição dos bens materiais, tudo girando em torno de sua necessidade. É importante ficar claro que a “necessidade” é algo absolutamente subjetivo e arbitrário, ou seja, enquanto um homem pode ter a “necessidade” de viver e consumir com simplicidade um outro pode ter a “necessidade” de ter tudo a toda hora e, de acordo com o comunismo, nada pode se interpor a esta “necessidade” individual já que ela é o centro em torno do qual gira a própria sociedade. Tamanho absurdo encontra uma solução autoritária e mecanicista na teoria marxista: a ditadura do Estado Popular se encarrega de condicionar moralmente as massas e de desenvolver ao infinito as forças produtivas com vistas a atingir uma abundância permanente. Já com Kropotkin e seus seguidores se vai cair no educacionismo, no evolucionismo cientificista e no flerte com o liberalismo.

Kropotkin entende que o comunismo exige um adequada preparação moral das massas para que as “necessidade” de uns não se oponham às “necessidades” dos outros e façam ruir esta verdadeira “cidadela de anjos”. Assim sendo, de maneira extremamente coerente, Kropotkin assume uma linha política condizente com o evolucionismo biológico que já vinha sistematizando como núcleo de sua elaboração intelectual relativa à história das sociedades humanas. Para Kropotkin, a humanidade evoluía inexoravelmente rumo a formas elevas de apoio mútuo e neste processo evolutivo (que guardaria semelhanças com aquele de animais sociais como as formigas e as abelhas) tendia a romper com as estruturas sociais opressivas tais como a dominação burguesa.

Desta maneira caberia aos “anarquistas kropotkinianos” agir de maneira a esclarecer e a educar intelectual e moralmente as massas no sentido de avançar o processo evolutivo que levaria à consolidação do comunismo. Assim e naturalmente Kropotkin e seus seguidores tenderam a se afastar do movimento operário e se aproximar da intelectualidade burguesa no sentido de convence-la a trabalhar no sentido de educar moralmente as “massas ignorantes” de proletários, como afirma Kropotkin neste trecho: ?não tardei em reconhecer que não se produziria nenhuma revolução, pacífica ou violenta, enquanto as novas idéias e o novo ideal não tivessem penetrado profundamente na própria classe cujos privilégios econômicos e políticos estavam ameaçados.

Eis aqui claramente o nível de profundidade da revisão liderada por Kropotkin com relação aos pressupostos desenvolvidos por Bakunin. Ao invés do anti-cientificismo de Bakunin, eis o evolucionismo biológico enquanto matriz teórica. Ao invés do método analítico e político materialista tal como formulado por Bakunin, eis o idealismo analítico e o educacionismo enquanto prática. Ao invés do classismo intransigente e revolucionário de Bakunin, eis a burguesia assumindo o papel de conduzir o proletariado a sua elevação moral. Estas deformações vão conduzir a outras no plano prático. A idéia de organização vai ser violentamente atacada pelos kropotknianos em perfeita concordância com seus pressupostos teóricos. Se a sociedade comunista é aquela em que o indivíduo e suas “necessidade” sujeitam o conjunto da sociedade, porque então o indivíduo que se educa hoje moralmente para este futuro deveria “castrar-se” frente a necessidades organizativas coletivas que diferem das suas individuais. É destas maneira que vai ganhar fôlego um agressivo individualismo anti-organizativo entre os kropotkinianos, e é deste meio que vai sair o resgate do liberal Max Stirner que até então era um absoluto desconhecido autor do passado.

Já na década de 1880, o comunismo kropotkiniano vai ser francamente hegemônico entre aqueles que reivindicam o anarquismo. É desgraçadamente o avanço do revisionismo que conseguiu obliterar e deformar a herança do bakuninismo.

2 CNT-FAI, a Guerra e a traição

O tópico anterior é importante para definir com clareza em que sentido se usa aqui o conceito de revisionismo do anarquismo. É necessário agora fazer uma análise atenta e minunciosa sobre o processo espanhol como se deu na realidade.

A Confederação Nacional do Trabalho

O combativo povo espanhol estava agrupado em volta de uma enorme organização anarco-sindicalista chamada Confederação Nacional do Trabalho (CNT).

Esta organização reunia em seus sindicatos um milhão de trabalhadores, e defendia a derrubada do governo e o fim do capitalismo para que os trabalhadores pudessem controlar a economia e a política fazendo reinar a igualdade e a justiça. Desde 1910 a CNT vinha lutando bravamente contra a burguesia e seus governos e resistindo contra a repressão.

Na CNT estavam os melhores filhos e filhas do povo espanhol, operários e camponeses que não aceitavam a vida de humilhações e misérias imposta pelos poderosos. Gente humilde, pobre e trabalhadora que não corria de uma luta justa pelos seus direitos e sua dignidade. Sonhavam com uma sociedade onde ninguém viveria do trabalho de ninguém e o trabalhador receberia o fruto do seu trabalho. E por este sonho lutavam.

Por esta dignidade popular a CNT foi sempre o alvo do ódio da burguesia. Diversas vezes foi considerada uma organização criminosa e colocada fora da lei. E diversas vezes os trabalhadores continuaram se organizando clandestinamente. Os militantes da CNT sofreram prisão, tortura, assassinato, mas sempre souberam responder com a firmeza necessária.

Nunca houve uma grave repressão ou uma matança de trabalhadores neste período que não tivesse uma pronta resposta. Políticos, empresários, generais, pistoleiros, todos aqueles que se envolviam na repressão contra o povo viravam alvo da justiça popular e muitos deles encontraram uma bala ou uma bomba vingadora para reparar o povo pelos seus filhos e filhas presos, torturados ou assassinados.

Nos períodos de maior repressão, os operários íam para o trabalho com a arma em uma mão e a ferramenta na outra. Os patrões pagavam pistoleiros para matar os trabalhadores organizados na CNT em pleno local de trabalho. Muitos companheiros foram covardemente assassinados por esta aliança entre patrões, governos e o crime organizado que eles criaram.

Quando caiu o rei em 1931, os trabalhadores da CNT passaram a enfrentar a repressão do governo do Partido Socialista, partido de traidores do povo. Neste momento a CNT era uma organização já provada por décadas de luta e era muito poderosa pois contava com o apoio e a participação da massa dos trabalhadores espanhóis. Assim, ela não aceitou esta situação e continuou avançando a luta pela libertação completa dos trabalhadores.

Os mais ferrenhos inimigos do povo: patrões, militares e a cúpula da Igreja Católica espanhola, também não estavam satisfeitos com a nova situação. Eles queriam a volta do rei queriam esmagar de vez os trabalhadores organizados e principalmente a CNT. Neste período a classe dominante vai assistir o aumento enorme das greves e ocupações de terra e vai tremer de pavor com a possibilidade de uma revolução dos trabalhadores.

Os privilegiados tramaram e em 1936 botaram os miltares nas ruas para derrubar o governo do Partido Socialista, esmagar a CNT e impôr uma ditadura fascista para acorrentar os trabalhadores. O povo reagiu e teve início a Guerra Civil Espanhola, mas antes de falar nela, vamos falar de Buenaventura Durruti.

Buenaventura Durruti

Buenaventura Durruti, ou simplesmente Durruti, foi o revolucionário que melhor representou o povo espeanhol em sua luta por justiça e liberdade. Viveu uma vida de completa entrega a sua causa e morreu combatendo junto aos trabalhadores contra a opressão. De tantas lutas, sua vida parece ter sido mais longa do que realmente foi.

Desde bem jovem, ainda na adolescência, começou a militar no movimento operário. De família muito pobre, Durruti desde cedo se tornou um anarquista, combatente do povo pela libertação. Como operário e anarquista, Durruti nunca aceitou a exploração de seu povo e desenvolveu um profundo ódio pelos opressores e inimigos dos pobres.

Durruti revelou-se um homem bravo e destemido e esteve sempre onde a causa da libertação popular exigia sua presença. Organizando greves, promovendo reuniões, libertando companheiros da prisão, fazendo justiça contra os opressores. Durruti foi na CNT um dos seus principais homens de ação e em 1927 ajudou a fundar a Federação Anarquista Ibérica (FAI) que devia manter a linha revolucionária anarquista da CNT.

Além disto, a FAI se organizava em grupos clandestinos que eram os responsáveis por fazer as tarefas que não podia ser feitas às claras. Punição contra patrões e repressores, libertação de presos, expropriação de dinheiro para a luta revolucionária e etc…

Durruti com seu grupo “Os Solidários” da FAI percorreu a Europa e a América Latina ainda na década de 1920 para contribiur para a luta na Espanha. Desde Cuba até a Argentina, Durruti e seus companheiros souberam tomar de volta para os trabalhadores a riqueza roubada pelos grandes banqueiros e empresários.

Grandes ações foram organizadas em todo o continente latino-americano, tomando o dinheiro de grandes bancos e companhias e enviando para financiar a luta da CNT na Espanha.

De volta à Espanha, Durruti iria continuar sua luta sem tréguas contra a burguesia e pelos trabalhadores. Durante a Guerra Civil Espanhola vai se destacar como o principal símbolo dos operários revolucionários anarquistas de seu país. Ele foi um dos membros do Comitê de Defesa da CNT que preparou a resistência ao golpe militar fascista e barrou o avanço dos inimigos do povo.

Durruti organizou e liderou uma coluna de trabalhadores revolucionários que foram para o campo de batalha enfrentar os militares fascistas para impedir seu avanço e fazer triunfar a causa dos trabalhadores. Na cidade de Madri quando ela foi atacada pelos miltares fascistas, Durruti e sua coluna estavam a postos e nesta cidade, no dia 20 de novembro de 1936, Durruti tombou com um tiro nas costas em condições até hoje inexplicadas.

O funeral de Durruti reuniu centenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras. Camaradas que rendiam sua última homenagem ao guerreiro da justiça e da liberdade.

CNT-FAI: da glória à traição

Em 18 de julho de 1936 os oficiais das forças armadas espanholas, juntamente com os grupos políticos de direita, iniciaram um levante contra o governo de esquerda reformista republicano. A ação coordenada pelos exploradores do povo encontrou a resistência imediata das massas de trabalhadores.

Na maior parte das regiões espanholas, o povo pobre se armou com tudo o que podia, inclusive invadindo os quartéis do Exército, e derrotou os fascistas. Os trabalhadores mostraram que não iam se entregar e que iam lutar até as últimas consequências contra os patrões e os opressores.

A CNT-FAI organizava a grande maioria dos trabalhadores que foram para as ruas derrotar os militares e barrar o golpe fascista. Os trabalhadores, armados e controlando as principais regiões do país, viram naquele momento a oportunidade de tomar posse total da economia e da política nacional. Era a hora de ganhar a guerra contra o General Franco e construir o Poder Popular e o socialismo.

Da CNT-FAI o povo esperava que viessem as orientações corretas que íam permitir a vitória na guerra contra os fascistas e a tomada da economia e da política pelos trabalhadores. Acontece que grande foi a surpresa de todos quando os líderes da CNT-FAI se recusaram a tomar as fábricas e colocar os trabalhadores no poder. Os partidos dos burgueses democratas e reformistas que estavam no governo e tinham se negado a entregar armas para o povo na luta contra os militares, foram mantidos no poder pelos líderes da CNT-FAI.

Mesmo estando na luta por mais de vinte anos, enfrentando todas as perseguições e combatendo toda a classe dominante, a CNT-FAI não tinha uma teoria e um programa claro para conduzir a vitória do povo contra os patrões e seu governo. Quando os líderes desta organização se viram de cara com as chances de derrotar de vez a burguesia, a falta desta teoria e deste programa fez com que tremessem. Esta falte de um programa claro, falta esta produzida pelas debilidades impostas pelo revisionismo reinante, já haviam se manifestado no início da década de 30 na colaboração com os republicanos em 31.

A CNT-FAI contava com mais de um milhão de filiados, tinha o apoio da imensa maioria dos trabalhadores do país, o povo estava armado e queria a vitória contra a burguesia, mas mesmo assim os líderes da CNT-FAI recuaram traindo a causa da justiça e da liberdade.

Com medo de uma invasão imperialista da Inglaterra, os líderes da CNT-FAI aceitaram que os burgueses reformistas ficassem no poder e deixaram a propriedade privada nas mãos da classe dominante. Pior que isto, entraram para o governo dos burgueses nomeando quatro ministros. O povo ía para a frente de batalha combater os fascistas e trabalhava nas fábricas e nos campos para sustentar a guerra contra os inimigos do povo, enquanto os burgueses continuavam explorando o trabalho do pobre e vivendo no luxo das cidades.

Além de entrar no governo republicano dos burgueses reformistas, a CNT-FAI começou a frear o povo e participar da sangrenta repressão contra-revolucionária. Os ministros e líderes desta organização falavam para o povo trabalhar sem descanso, respeitar a propriedade dos burgueses e aceitar a autoridade do governo. Também ordenava agora que as milícias de trabalhadores que tinham se organizado para combater os fascistas e garantir a vitória do povo, deviam obedecer o governo e não construir osocialismo.

Os líderes da CNT-FAI neste momento completavam a traição ao povo espanhol e se colocava lado a lado com os burgueses contra os interesses da classe trabalhadora.

A União Soviética

O único governo que ofereceu ajuda para o governo espanhol dos burgueses reformistas foi a União Soviética. A Alemanha de Hitler e a Itália de Mussolini estavam apoiando os militares fascistas do General Franco com homens e armas na guerra civil que ficava cada dia mais violenta. A União Soviética em 1936 nem lembrava mais os dias da Revolução Russa de 1917 quando pela primeira vez os trabalhadores derrubaram a burguesia e tomaram conta do poder.

Debaixo da ditadura de Stalin a União Soviética não pensava mais em apoiar a revolução dos trabalhadores mundo afora. Agora o que o governo de Stalin queria era ficar bem com a Inglaterra, a França e os Estados Unidos. Tudo pela convivência pacífica entre o país socialista e os países capitalistas. Por isto, a União Soviética queria mostrar que era confiável para os capitalistas e não ía apoiar nenhuma revolução na Espanha.

Desde o começo Stalin decidiu apoiar o governo dos burgueses reformistas espanhóis com medo que os nazistas alemães se fortalecessem com a vitória do General Franco. Então, através do Partido Comunista Espanhol (PCE) que ele controlava, Stalin apoiava a luta contra os fascistas mas combatia também todos os revolucionários espanhóis que queriam botar os trabalhadores no controle do país.

Mesmo sendo um partido bem pequeno no começo, o PCE foi crescendo com o apoio da União Soviética até passar a controlar o governo dos burgueses reformistas. Tudo isto com a permissão dos líderes da CNT-FAI que controlavam as massas nas ruas e podiam ter dado outra direção para o rumo das coisas.

Stalin tinha implantado uma ditadura terrorista na União Soviética contra todos aqueles que discordavam de sua opinião, principalmente os revolucionários. Agora ele estava fazendo a mesma coisa na Espanha através do Partido Comunista Espanhol e do governo dos burgueses reformistas que ele controlava.

Surgem os Amigos de Durruti

Apesar da traição dos líderes da CNT-FAI, a maioria dos militantes de base desta organização continuavam sendo trabalhadores revolucionários sinceros, mas que estavam desorientados pela situação e pelo posicionamento dos líderes. Eram os operários e camponeses da CNT-FAI que estavam nos campos de batalha combatendo os fascistas, controlando as fábricas e as fazendas que iam sendo coletivizadas mesmo contra os líderes, e impondo a justiça popular contra traidores e inimigos camuflados nas áreas sob controle.

Estes operários e camponeses de base da CNT-FAI estavam dando a vida nesta luta que eles acreditavam que ía levar à vitória sobre os opressores do povo.

Mas a maioria não percebia que estava sendo traída pelos seus próprios líderes. Acreditavam na mentira de que era preciso ganhar a guerra primeiro para depois fazer a revolução. Enquanto os burgueses reformistas, os stalinistas e a burocracia da CNT-FAI no governo combatiam a revolução e sabotavam a guerra. Com medo dos trabalhadores revolucionários o governo não entregava armas para os combatentes na frente de batalha e deixavam os fascistas irem ganhando a guerra.

Neste momento, em março de 1937, é que surgem os Amigos de Durruti. Este grupo formado por militantes anarquistas da CNT-FAI que não aceitavam o governo dos burgueses reformistas e nem a obediência das milícias a este governo de patrões, chegou a ter mais de quatro mil membros.Eles eram camponeses, operários, intelectuais e milicianos que queriam fazer a revolução para ganhar a guerra, porque só os trabalhadores tinham interesse em derrotar a burguesia e construir o socialismo.

Os Amigos de Durruti acusaram a traição dos líderes da CNT-FAI. Apontaram corretamente que os stalinistas e os burgueses reformistas eram inimigos dos trabalhadores. Chamaram os trabalhadores para a luta e levantaram as armas contra a tentativa de desarmar o povo em maio de 1937. Os Amigos de Durruti formularam um programa claro e correto para levar à vitória do Poder Popular e no meio do povo sustentaram este programa revolucionário contra toda traição.

Os Amigos de Durruti foram perseguidos, censurados, presos e muitos assassinados por ordem dos próprios líderes da CNT-FAI. Foram odiados pelos burgueses porque nunca esqueceram sua condição de trabalhadores e nunca esqueceram a causa da igualdade e da liberdade. Nunca se deixaram enganar pelas tentações dos ministérios. Sempre confiaram nas forças do povo organizado e só nelas. Mostraram para o povo que todo burguês era seu inimigo, fosse ele fascista ou reformista. Levantaram alto a bandeira anarquista da revolução social.

Um dos principais líderes dos Amigos de Durruti foi Jaime Balius. Este foi um companheiro de ferro que lutou sem descanso até o fim pela causa do povo. Era deficiente físico e por isto se dedicou fanaticamente a escrever as verdades que o povo precisava saber. Também não fugia da frente de luta, e foi ele quem amargou as piores penas de prisão. Jaime Balius e os Amigos de Durruti vivem em nossa memória e devemos fazer com que vivam em nossa prática.

Mesmo com toda sua atividade os Amigos de Durruti se viram derrotados pelos traidores e inimigos do povo. Seus principais líderes foram presos ou mortos pelo próprio governo dos reformistas burgueses, stalinistas e líderes da CNT-FAI. Mas sua verdade foi vitoriosa e seu ensinamento fica até hoje.

Em 1939 os fascista derrotam finalmente o governo dos reformistas burgueses. Esta derrota condenou o povo espanhol a um período de terror de 40 anos.

Muitos milhares de trabalhadores morreram combatendo pela sua libertação, e traídos, morreram também nas mãos dos fascistas. Somente o Poder Popular faria o povo ganhar a guerra contra os burgueses, essa foi a mensagem dos Amigos de Durruti. Nenhuma confiança na burguesia e nos seus governos.

3 Conclusões

É nojento como hoje ainda, quase 70 anos depois destes episódios, a imensa maioria do chamado “movimento anarquista” ou “campo libertário” ainda sustenta a defesa de uma supostas “CNT revolucionária” na Guerra Civil Espanhola. Personagens como Garcia Oliver, Abad de Santillan, Frederica de Montseny, ou seja, os burocratas e ministros da CNT no governo burguês e contra-revolucionário da República, são reverenciados e louvados e aqueles que se levantam para denunciar os crimes reacionários da CNT-FAI na Espanha são desqualificados sem a menor argumentação coerente. De duas uma, ou a imensa maioria do “movimento anarquista” e do “campo libertário” está profundamente mal-informado sobre os eventos da Guerra Civil Espanhola, ou transformaram-se em convictos contra-revolucionários como a própria burocracia cenetista da década de 30.

A primeira hipótese é muito plausível já que um manto de mentiras recobre a história da Guerra Civil Espanhola. A tese da CNT-FAI no exílio segundo a qual estas organizações sustentaram uma política revolucionária contra os traidores stalinistas alcançou enorme sucesso. Mesmo o cinema, como demonstra o filme “Terra e Liberdade” defende esta tese ( é bom lembrar que o POUM também colaborou com os burgueses e stalinistas contra-revolucionários). Mas além da mentira cenetista existe a mentira stalinista, que foi a versão oficial da história marxista durante o período da guerra fria, segundo a qual a CNT-FAI enquanto organização “ultra-esquerdista” teria forçado a coletivização das terras camponesas querendo avançar artificialmente a revolução, o que teria passado o campesinato para o lado de Franco e determinado a derrota do governo republicano.

Curiosamente, a mentira cenetista e a mentira stalinista convergem no que diz respeito a afirmar o papel revolucionário da CNT-FAI durante a guerra. Sabemos que as coletivizações foram feitas pelos próprios camponeses contra a burocracia da CNT-FAI no governo dos stalinistas e que depois todos os setores do governo reprimiram e suprimiram as coletivizações camponesas no processo contra-revolucionário. Além destas, existe a mentira trotskista segundo a qual o papel da CNT-FAI na Guerra Civil Espanhola encarna perfeitamente o anarquismo desde Bakunin e os Amigos de Durruti teriam tido uma outra política (anti-colaboracionista) porque estavam controlados pelos próprios trotskistas. Aqui a mentira trotskista também está de acordo com a mentira cenetista, para quem os Amigos de Durruti eram uma infiltração trotskista no meio do “anarquismo”.

Na verdade, os AMIGOS DE DURRUTI, foram a expressão dos elementos fundamentais do classismo bakuninista, representaram uma tentativa (ainda presa aos equívocos do anarco-sindicalismo) anarquista de buscar um programa e uma teoria revolucionária que já estavam delineadas em Bakunin. Os que na época chamavam os Amigos de Durruti de “marxistas” e “autoritários” como se não estivessem em um governo burguês irmanados a stalinistas são os mesmos que chamam os bakuninistas de hoje de “marxistas” e “autoritários”.

É fundamental buscar a verdade sobre a CNT-FAI e a Guerra Civil Espanhola porque são muitos os que conhecem a história dentro do chamado “movimento anarquista” e a camuflam, escondem e omitem para não romper a “santa unidade” do “Movimento” e não deixar cair o castelo de cartas sustentado por mentiras.

É ilustrativo o debate que tem ocorrido recentemente na Espanha diante do livro “La Revolución Traicionada: La verdadera historia de Jaime Balius e los Amigos de Durruti”, onde notórios revisionistas defendem abertamente a posição contra-revolucionária da CNT-FAI durante a Guerra Civil Espanhola. Entendo que o debate sobre esta tema é hoje o “x” da questão na separação entre anarquistas e revisionistas e os ocultadores da verdade terão que mostrar a cara.

O elemento principal desta discussão está no fato de que o papel desempenhado pela CNT-FAI na Guerra Civil Espanhola não se deve a traições pessoais, ou pelo menos não se deve principalmente a isto, mas sim tem suas raízes no revisionismo que se inicia ainda no final do século XIX. O idealismo de Kropotkin levava, como levou, a uma aproximação com a burguesia e não se pode esquecer que este idealismo levou Kropotkin a apoiar o Czar na I Guerra Mundial (porque a Entente simbolizaria os “ideais mais avançados” na guerra), e a apoiar o governo de Kerenski contra os soviets revolucionários russos em 1917. Não por acaso Kropotkin estava na mesma posição, em ambos os casos, da social-democracia reformista marxista. Entendo que a posição de “social-democracia libertária” que a CNT-FAI vai assumir na Guerra Civil Espanhola está perfeitamente de acordo com a tradição do revisionismo legada por Kropotkin. “Sem teoria revolucionária não há revolução”, está frase defendida pelos Amigos de Durruti em 1937 é extremamente verdadeira e a teoria revolucionária dos anarquista tem suas bases desenvolvidas em Bakunin. É até admissível que revolucionários anarquistas não conheçam esta base (como os próprios Amigos de Durruti não conheciam) e fiquem tateando no escuro, mas aqueles que conscientemente tentam dar a idéia de que o pensamento de Bakunin, Kropotkin e outros são convergentes ou que a diferença entre estes pensamentos não é importante são verdadeiros inimigos do anarquismo e da verdade histórica.

Via: www.midiaindependente.org