Primeiro de Maio para além do memorialismo romântico
1. Este texto destina-se aos companheiros e companheiras anarquistas na intenção de refletir sobre o primeiro de Maio e sua lembrança encarnada na realidade brasileira.
2. Sequer discutiremos aqui com a fração dos ditos “anarquistas” que não se organizam ou que rechaçam a necessidade de organização. O anarquismo, enquanto ideologia, é composto por colunas de sustentação teórica que contam com o fator de organização, e não pode ser confundido com o liberalismo radical, individualista e pós-moderno dessas frações infiltradas.
3. É sabido por todos nós, que o 1° de Maio nasce a partir das reivindicações da classe trabalhadora em Chicago, no ano de 1886. Durante uma das várias manifestações combativas que ocorriam naquela cidade, uma bomba foi jogada contra o batalhão policial, que não hesitou em descarregar suas armas sobre a massa proletária na Praça Heymarket. A justiça burguesa logo procurou encontrar “os líderes”, assim como faz hoje. Propositalmente, escolheram oito trabalhadores. Oito anarquistas. Oito heróis da classe trabalhadora: George Engel, Samuel Fisher, Adolph Fisher, Louis Lingg, Michael Schwab, Albert Parsons, Oscar Neebey e Algust Spies. Destes, um se suicidou na prisão com uma bomba, três receberam a sentença de prisão perpétua, revogada em 1893, e todos os outros foram enforcados em praça pública. Posteriormente foi comprovado que não haviam provas contra os 8 trabalhadores. Os “Mártires de Chicago” tornaram-se o símbolo da luta pela redução das horas laborais no mundo inteiro, que foram conquistadas ao custo de muito suor e sangue do povo.
4. Na realidade brasileira e mundial, a lembrança dos Mártires de Chicago é, para nós, anarquistas revolucionários, não só importante como estratégica: Aponta politicamente a força histórica de nossa ideologia, a capacidade política das classes trabalhadoras, e a disposição para o enfrentamento pela via da ação direta contra os inimigos do povo. Mas pouco adianta ouvir o bradar de anarquistas a defender que “o primeiro de maio é um dia de luto e luta”, e na prática material, comporem a linha política em sindicatos, organizações estudantis e populares com PSOL, PT, PCdoB ou PSTU, para disputar junto a eles o movimento de massas. A memória assim se torna romântica, pois não alcança a realidade e a atualidade da luta de classes no Brasil, além de trabalhar de livre escolha para que tais burocracias avancem contra esses importantes setores organizativos do povo.
5. Além disso, é muito comum no anarquismo brasileiro a perspectiva “ativista”: A organização se dá de acordo com a conjuntura do momento, e não é construída com o objetivo de manter-se sólida; O objetivo deve ser conquistado de qualquer forma, embora pouco se percebam suas raízes estruturais e a necessidade de se aprofundar nessas questões, o que demanda mais que o simples imediatismo. Essa prática ativista-imediatista tem produzido em curto prazo, inúmeras frustrações coletivas, e em longo prazo, dissidências em massa, absolutamente convictas de que o “anarquismo não é uma ferramenta revolucionária útil pois falharam em todas as suas tentativas de organização”. O ativismo imediatista é nosso inimigo, e um vício a ser esmagado e retirado de nossas fileiras.
6. Para além de um primeiro de maio memorialista e romântico, é preciso construir o Sindicalismo Revolucionário pela base, livre do reformismo e do governismo, organizado em locais de estudo, trabalho e moradia, que se utilize da ação direta para conquistar vitórias e desenvolver experiência reivindicativa entre as massas trabalhadoras, estudantis e populares, para que sob certas condições materiais, o patamar das exigências se eleve, fundindo-se com as reivindicações históricas, isto é, com a perspectiva revolucionária.
7. O presente é claro: O ajuste fiscal do governo Dilma avança contra o povo, que não reconhece na democracia burguesa uma saída para o problema. Cabe à nós, anarquistas revolucionários, a tarefa de auxiliar na organização desses setores, numa perspectiva classista, independente do jogo da democracia burguesa, e interligadas por uma organização revolucionária, construída pela base, e por isso, sem recorte ideológico, mas que em suas fileiras estejam os mais sinceros e convictos lutadores do povo. É preciso honrar o sangue e o suor de nossos companheiros que tombaram na luta pela causa do povo, não só em palavras, mas em ações.
PELA LEMBRANÇA DOS MÁRTIRES DE CHICAGO!
VIVA O SINDICALISMO REVOLUCIONÁRIO!
CONTRA O AJUSTE FISCAL, CONSTRUIR A GREVE GERAL!
O POVO VENCERÁ!