Anarquismo – Perguntas e Respostas Frequêntes




O Anarquismo não é outro regime de governo, mas sim um modo de organização social livre e cooperativo. O Anarquismo, acaba com a organização social onde  um, quer sempre mandar no outro. Nele, ninguém é obrigado  a fazer nada que não tenha vontade, nem muito menos a  aceitar pontos de vista divergentes aos seus.  Nos regimes de governo, o indivíduo é quem tem que  abandonar sua natureza e adaptar-se aos padrões impostos pelos aparelhos de poder, já no Anarquismo não é o indivíduo que tem que se adaptar a sociedade, mas sim a sociedade que tem que se adaptar ao indivíduo.  O Anarquismo permite que as próprias pessoas decidam  os rumos de suas vidas e construam a organização de sua  vida social. Só quem sabe o que é melhor para uma pessoa é  a própria pessoa. Nele, as pessoas se reúnem em grupos (se  quiserem) e decidem entre si o que é melhor para todas.  Essa forma de organização Anarquista chama-se  AUTOGESTÃO. Autogestão, significa AUTONOMIA, ou  seja, governo das pessoas por elas mesmas, sem ninguém  para liderá-las ou dize-las o que podem ou não fazer. Essa  forma de organização faz com que as riquezas produzidas pela sociedade fiquem diretamente nas mãos de quem  pertencem, ou seja, seus produtores.

O Anarquismo abre caminhos ainda que as pessoas  nadem contra a correnteza, vivendo o Anarquismo do modo  que o concebem, seja individualmente, isoladamente ou até mesmo ciganamente. A lei da vida é o amor… mas o amor sob vontade. Todo mundo tem direito de viver a vida da  maneira que quiser.  O Anarquismo não quer o poder… pois é incompatível com ele. O Anarquismo virá de uma Revolução Social que  se dará na base de todas organizações sociais existentes até  hoje… ou seja, de uma Revolução que se dará dentro das  pessoas. Se as pessoas pararem e decidirem que não mais  serão escravas dos governos e que desejam ser livres… a liberdade estará a um passo delas.  Por isso o Movimento Anarquista não compactua com eleições, partidos políticos ou coisas do gênero. Sob o ponto de vista Anarquista, todo aquele que visa o poder sobre seus semelhantes é inimigo da liberdade dos mesmos. Se alguém quer mandar em você, isso quer dizer que quer te privar de tomar decisões sobre sua própria vida… ou seja, esse alguém quer te escravizar.

 Mas e a comida? E as roupas? Quem vai dividir todas as coisas?

Na Autogestão, todo mundo parte de um princípio lógico: se não produzir não tem comida, se não fabricar não tem vestimenta; se não construir não tem casa. Então cada  um produz de acordo com suas possibilidades, trabalhando naquilo que gosta, na hora e período que quiser. Cada um fazendo um pouquinho daquilo que mais sabe fazer irá dar a sociedade uma qualidade ótima de vida. Analise bem: quantas pessoas trabalham mal hoje em dia, fazem coisas que não gostam de fazer só por causa do dinheiro? E o imenso número de desempregados, de pessoas  sem oportunidades nessa sociedade que sabem fazer (e gostam) muitas coisas mas não tem recursos. Já pensou todo mundo plantando, colhendo, fabricando, costurando, montando… só um pouquinho cada um. Você acha que alguma coisa irá faltar? Hoje só existe um desequilíbrio na sociedade porque, além das pessoas produzirem sob pressão, o fruto de toda produção fica nas mãos da casta governante e de toda sociedade que é movida pelo maior inimigo da cooperação humana: o dinheiro. Dinheiro na sociedade de hoje significa recursos (comida, roupa, etc.) e quem tem mais recursos vive melhor… isso gera outra coisa inimiga da solidariedade humana: a competição. O anarquismo põe abaixo todo esse esquema social  doente em que somos obrigados a viver nos dias de hoje. No lugar do dinheiro a troca, a compartilhação. No lugar da competição, a solidariedade. Todo mundo que da sua forma, de acordo com suas possibilidades, colabora com a sociedade, tem direito aos frutos de seu trabalho. Da mesma maneira que cada um produz de forma diferente, da forma que mais lhe agrada, que mais se adapta as suas capacidades individuais, cada um também deve consumir da mesma forma, de acordo com suas necessidades, suas vontades pessoais. Nenhum tipo de racionamento seria justo visto que cada pessoa tem necessidades diferentes… Alguns comem mais, outros comem menos… Alguns sentem mais frio, outros mais calor… Enfim, cada pessoa tem suas particularidades e o Anarquismo possibilita que estas sejam respeitadas. Para se entender de forma definitiva a forma de organização social Anarquista deve-se perceber que nela todo fruto do trabalho de todos, da produção efetuada na sociedade autogerida, pertence à seus produtores (ou seja, a todos) e deve ser consumido pelos próprios de modo que todos fiquem satisfeitos. Ninguém é dono das cidades, dos mares, da terra, das florestas… mas ao mesmo tempo tudo pertence a todo mundo e qualquer desrespeito ao que é de todos consecutivamente é um desrespeito a todos. Ninguém pode chegar e dizer “esse rio é meu” porque não é só ele que vive do rio, que bebe de sua água… Mas se só uma pessoa usa uma calça, essa pode com certeza dizer “essa calça é minha”. Deu pra sentir a diferença?

Mas e as pessoas que não quiserem colaborar? E quanto aos crimes?

Partindo do princípio básico de que ninguém é obrigado a fazer nada que não tenha vontade, não podemos obrigar uma pessoa a cooperar com a sociedade. Mas como a sociedade Anarquista possibilita que cada um viva sua vida como quiser, essa pessoa pode viver o Anarquismo de sua forma (contanto que – já que não compactua – não interfira no Anarquismo das outras) e sobreviver como quiser (contanto também que não cause mal as pessoas que também vivem da maneira que querem). É tudo uma questão básica de respeito mutuo. Acima de a liberdade do próximo terminar onde começa a minha, a liberdade do próximo é uma extensão da NOSSA liberdade. Qualquer pessoa com o mínimo de senso pode sentir que a maioria dos crimes derivam da desgraça econômica em que o mundo vive, da forma organizativa social em que vivem as pessoas. Os governantes dominam as pessoas com violência e a violência só faz gerar mais violência ainda. Vivendo sob pressão qualquer ser (não só as pessoas mas até mesmo os animais) torna-se bruto e enfurecido. A violência não resolve nada, só piora. O Anarquismo propõe uma nova sociedade onde todas as pessoas tenham iguais oportunidades e direitos. Tudo isso com certeza reduzirá em muito a margem de criminalidade. Mesmo assim, os seres humanos não são perfeitos e todos nós não estamos esclusos de tomar atitudes brutas ou que venhamos a ter posteriormente arrependimentos. Um dos objetivos do Anarquismo é ensinar as pessoas a ter responsabilidades sobre seus atos, pois todo ato com certeza tem uma consequência. O Anarquismo pede as pessoas principalmente respeito mútuo e senso de responsabilidade. Sempre haverão casos de divergências pois nenhuma pessoa pensa absolutamente igual a outra. O que as pessoas precisam aprender é a conviver com suas divergências, a viabilizar meios de vida que possibilitem a todas as pessoas viverem de acordo com seus pontos de vista. É natural dos seres humanos concordar ou discordar… Quando a compactuação for impossível, deve-se pelo menos saber respeitar ambos pontos de vista. A verdade de um pode não ser a verdade do outro, mas cada um deve ter direito de viver a sua verdade.

Como participar da cultura anarquista?

A única coisa necessária para se aderir ao Movimento Anarquista é ser Anarquista… da sua forma… segundo sua utopia pessoal de sociedade futura, seja essa coletivista, mutualista, individualista ou seja o que for. Cada um tem o seu modo de ver o Anarquismo, a sua concepção de vida em liberdade (lembre-se de que no anarquismo, é a sociedade quem se adapta ao indivíduo) e a sociedade futura será o resultado da união de todas as utopias libertárias, de todas aspirações e vontades das pessoas. Seja Anarquista da sua forma, do seu jeito, sozinho ou em grupo, mas seja você mesmo. Manifeste suas ideias, imagine sua utopia libertária (o que seria viver em liberdade para você), não feche a boca, não abaixe a cabeça. Aquele que te escraviza é o seu inimigo, aquele que quer te prender consecutivamente não quer sua liberdade. Desobedeça as imposições, obedeça somente a seu próprio coração. Seja a ovelha negra, o filho rebelde, a ferrugem na engrenagem social. Não deixe seus sonhos, lute por suas convicções. Conspire… divulgue o Anarquismo a seus colegas… mostre a eles que todos somos capazes de governar nossas próprias vidas… as limitações existem para serem abolidas… as fronteiras para serem ignoradas… os muros para serem derrubados. Morda a maçã do pecado… se ser livre é subversão… seja subversivo. O seu sonho é a sua verdade… você não é obrigado a aceitar as verdades de outras pessoas. A sua liberdade é seu maior tesouro… Estar vivo sem liberdade é como beber água sem matar a sede… seja realista… deseje o impossível. Conheça a história do Movimento Anarquista mas faça você também a sua história. Veja o que outros Anarquistas disseram mas diga você também aquilo que pensa. Ninguém é mais do que ninguém. Cada pessoa é uma estrela e todas estrelas são iguais.

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a) Este informativo não pode ser vendido.

b) Este informativo pode e deve ser copiado, impresso e distribuído para o máximo de pessoas que estiver ao seu alcance.

c) Você pode reproduzir qualquer parte deste informativo desde que você cite de onde saiu o texto e se possível o endereço para divulgação da ideia.

d) Escrevam pela amizade, enviem materiais, façam perguntas, deem sugestões, critiquem.

SⒶúde, PⒶz e Ⓐnarquia!

VER TBM: O que querem os Anarquistas?

Fonte: http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/tudosobreanarquia.html

40 comentários em “Anarquismo – Perguntas e Respostas Frequêntes

  1. Bem eu li o texto e concordei com tudo , me julgo 1 anarquista . Mas quero saber se numa sociedade Anarquista , um Homem ou Mulher quando cometer 1 crime como homicídio ou roubo , ele vai ser preso ou até morto , por favor me respondam .

  2. Olá João Vitor,

    Seja qual for o motivo nenhum homem tem o direito de tirar a vida de outro homem, mas não cabe a nós ser o defensor, promotor, juiz ou carrasco para tal ato. Porém toda sociedade possui regras, que é diferente de leis… Penso que o julgar é extremamente complicado nem mesmo o estado com todo aparato judicial o faz bem…
    Logo, se um homem matar ou roubar, haverá por exemplo a regra de expulsá-lo daquela sociedade para sempre pois matá-lo não servirá de nada, nem mesmo como exemplo para possíveis futuras reincidências.

    Em uma sociedade anarquista seria praticamente impossível ocorrer roubo pois a concorrência por status seria abolida, o dinheiro não seria o deus da sociedade.

    Eventualmente poderia haver brigar e possíveis assassinatos, neste caso poderia haver normas mais detalhadas e específicas que de certa forma ‘pré-julgariam’ o assassino dando devido ‘castigo’ aos seus atos, mas matar, jamais!

  3. Então e em relação às infraestruturas de maior porte e importância? Como é o caso das escolas e dos hospitais… Como seriam construídos? Como seriam organizados sem recorrer a qualquer tipo de liderança individual ou de pequenos grupos com maior poder sobre os restantes?

  4. oi eu sou anarquista sim (socialista libertario)… e gostaria de saber duas coisas, como seráorganizada a saude e a educação?? e como será organizada uma defesa, se caso algum lider (estilo olavo de carvalho) iniciar um movimento contra a sociedade, ou mesmo como defender um pais anarquista (eu sei que o anarquismo deve ser mundial, mas caso se forme um pais ou uma sociedade anarquista)???

  5. Eu tenho duas duvidas em relação ao anarquismo, a primeira é o que fazer com pessoas que praticam crimes que nao têm motivação do capital, como estupro?
    E a minha segunda duvida é, se numa sociedade anarquista nao gostariamos que ninguem a atrapalhe por que atrapalhamos a sociedade capitalista? Não estou julgando e nem dizendo que uma é melhor que a outra, mas é que eu sempre vi isso como uma hipocrisia do anarquismo e queria saber outros pontos de vista
    Obrigado 🙂

  6. Tenho lido sobre o anarquismo e me interessado pela idéia , mas não tenho um conhecimento muito amplo sobre o assunto , queria tirar algumas dúvidas , como a sociedade anarquista lidaria com a tecnologia (celulares , TV , Internet ) ? Como você acha que o anarquismo seria em países da áfrica onde não há recursos materiais necessários para a sobrevivência coletiva ? Como você acha que deveria ser o dia-a-dia de uma pessoa que vivesse no anarquismo ?

  7. Ótimas perguntas feitas pelos outros visitantes! Ficarei feliz se puder vê-las.

    O que não estou conseguindo entender bem é a contradição entre o ideal anarquista (de felicidade plena) com os meios para se atingí-lo (custe o que custar). Sei que existe o status quo já implantado, mas penso que um estilo mais pacífico, mais Gandhi ou Mandela, poderia ser bem vindo e produtivo.

    E tenho as seguintes dúvidas:
    1- Não seria o caso de se criar uma sociedade anarquista experimental? Seria a melhor forma de convencer a todos de que o sistema seria bom (ou não). Mas, claro, daí teríamos que analisar e considerar o quanto essa sociedade poderia ser autônoma e independente das outras sociedades já estabelecidas, com seus sistemas monetários, religiosos, políticos… Ou seja, sendo isso viável, essa sociedade experimental começaria do zero (com todo mundo nu e sem ferramentas) ou já começaria com os recursos tecnológicos disponíveis?
    2- Teriam ou não contato com o mundo externo?
    3- Quantas pessoas a comporiam?
    4- Como seriam estabelecidas as regras de conduta (por leis registradas ou no boca-a-boca, conforme os índios)? Se for por leis, quem as faria – todos dando palpites e propondo emendas – mesmo se essa sociedade experimental for composta por milhares de pessoas?
    5- Seria o homem realmente capaz de viver numa democracia plena e sem líderes? Sei que todos queremos isso, mas estaríamos preparados para viver nele?
    6- E como o Anarquismo vê a pirâmide de Maslow, já que haveria menos espaço para enfatização do indivíduo (realização pessoal, no caso).

    Desculpem se pareço estar apenas contestando – pelo contrário, são apenas dúvidas.

  8. Olá<

    Nasci anarquista! Ovelha negra, rsrs
    Como citou no início do texto, para essa transformação social, primeiramente, a transformação tem que acontecer no indivíduo.
    Aos poucos os homens irão perceber que, essa mudança, ou melhor, essa transformação será pelo amor…
    Hoje, para grande maioria é utopia pura!
    Mas existem milhares de pino frouxos…

  9. Concordo em ordem, número e grau com a Simone.
    Costumava a acreditar que o anarquismo era possível para já.
    Mas cresci, conheci o mundo em que vivemos.
    Não deixei o ideal morrer, mas sei que para que o anarquismo seja possível temos que evoluir muito.

    E isso vai ocorrer naturalmente e não pela força, até lá muita coisa vai acontecer.

    E rezo para que os “anarquistas” não se vendam para socialistas totalitários, e que sejam verdadeiros anarquistas, respeitando a liberdade do próximo, respeitando o tempo, e claro, respeitando a própria liberdade.

  10. e ai pessoal blz? queria responder algumas coisas q o Pedro disse ali em cima.
    ele falou que uma sociedade anarquista teria de se defender de outros paises. claro. isso ocorreria da maneira mais simples: resistencia armada. assim como aconteceu durante a guerra civil espanhola e a Comuna de Shinmin.
    ele tbm falou que acha uma hipocrisia os anarquistas atacarem a sociedade capitalista quando nao querem que interfiram na anarquista deles. acontece que a capitalista simplesmente IMPEDE a formaçao de uma anarquia bem construida e organizada. só seria uma hipocrisia se a anarquista tivesse livre para existir. eu nao quero apanhar, mas se me baterem e quiserem brigar comigo eu nao vou ficar olhando. vou bater tbm. isso nao eh hipocrisia. é defesa, resistência.
    espero ter ajudado, não percam a esperança!! Utopia e luta! (A)

  11. Primeiramente, não sou religioso e não frequento nenhum templo, igreja ou algo do tipo. E sim, sou defensor do estado laico( pois creio que em qualquer sociedade livre, deve-se existir esse leque de opções).
    Com essa introdução quero ressaltar que meu comentário é livre de qualquer posicionamento religioso.
    Mas todas as formas de sociedades criadas pelo homem até hoje mostraram-se covardes, opressoras e ditadoras(de regras, de modas, de leis e outros)
    Mas entre tantos “sociólogos” como: MARX , BAKHUNIN e outros, gostaria de ressaltar JESUS, que viveu em uma época ode cultuava-se a violência, e quem se opusesse a tais conceitos eram punidos de formas bem pesadas(forca, apedrejamento, crucificação e outros).
    E mesmo em uma sociedade tão opressora, JESUS pregou o seu socialismo, Livra-te da tua riqueza e compartilha com o teu irmão.(distribuição de capital). Ama teu próximo como a ti mesmo(respeito). Veja o mundo como uma criança(libertação de qualquer tipo de preconceito). E quando levar um bofete, ofereça o outro lado da face para bater(libertação de todo tipo de violência). Creio que com esses termos básicos, iremos construir uma sociedade justa, pacífica e FELIZ. Por favor respondam meu comentário.

  12. Então, esse sistema ainda me parece meio confuso, pois penso ser necessário um líder na nação, para construir escolas, hospitais, etc. porque se deixar na mão do povo talvez ninguém faça nada, entende? Acho que o problema está no governo corrupto que nós temos, não no governo em si.

  13. Quando uma pessoa comete um crime contra a vida, como ela seria punida no sistema anarquista??
    Por favar responda no meu e-mail

  14. Respondendo algumas questões, relevantes, grife-se, acerca do sistema jurídico que haveria de vigorar em uma sociedade libertária.

    Colaciono o seguinte texto, para lançar luz a questão:

    “Há grande dificuldade de se pensar em um direito anarquista, sem cair nessa problemática visão da anarquia como anomia. O direito anarquista, em suas diversas variações, apresenta um importante contraponto ao direito positivista. Era exatamente esse direito que vinha ganhando força na Primeira República no Brasil, com a formação do Direito dos códigos em detrimento do Direito Natural. Assim, a idéia de Direito e anarquismo não são incompatíveis a princípio.

    Alfredo Gaspar em um pequeno texto de 12 itens aponta como o direito e o anarquismo não são incompatíveis. O jurista apresenta algumas características do que chama de direito libertário: não admite o direito como lei escrita e estatal; é um direito natural, está ligado às leis da razão; é um direito fruto de participação direta e individual, não admitindo a representação; o costume é fonte primordial do direito libertário; não admite a codificação, pois essa impede a constante transformação de um direito que é vivo; tem por seus instrumentos processuais primordiais a arbitragem; elege como valor fundamental a liberdade.[18]

    Dificilmente o Direito anarquista é estudado nas Faculdades de Direito, uma vez que estas pressupõem a adoção de concepções de Direito contrarias ao que propõe o direito libertário. Porém, esse estudo deveria ser feito, como aponta Rivaya, nem que seja por curiosidade histórica, uma vez que ele traz uma outra teoria de Direito natural. Nas palavras do autor:

    “Ainda que seja só por sua peculiaridade, mas merece consideração, uma vez que mostra uma tendência jusnaturalista realmente surpreendente na doutrina anarquista o Direito Natural não serve como tradicionalmente ocorria, para fundamentar o Direito positivo, mas unicamente para combatê-lo, e provavelmente para considerá-lo como único direito verdadeiro. Ao menos tem um interesse taxonômico, para uma classificação completa das teorias de Direito Natural exige-se um capitulo dedicado ao anarquismo”[19].

    O anarquismo traz em seus princípios a admissão de um direito, que não é o direito positivado, uma vez que esse passa necessariamente pela intermediação estatal. O anarquismo não nega apenas um direito capitalista, mas um direito positivado e essa particularidade é importante para a construção de uma luta por direitos como era a dos operários. A adoção do direito libertário em decorrência de suas características é bem mais complexa do que a adoção do direito socialista, que não pressupunha uma intermediação direta, nem um direito que não fosse codificado, nem deixasse de ser balizado pelo Estado. Assim, Rivaya chega a falar de um radicalismo da concepção anarquista quanto ao direito:

    “(…) o radicalismo anarquista, que repudia qualquer possibilismo, que se nega a aceitar qualquer transação ou composição para ir se aproximando de seu objetivo. Com o fim de acabar com o Estado não procuram criar outro Estado, nem para acabar com o Direito se tem de legislar outro Direito. O Direito e o Estado têm de ser abolidos de uma forma imediata, direta e revolucionária.”[20]

    Há um outro componente fundamental na distinção do direito adotado pelos socialistas (marxistas) e pelos anarquistas, que é a adoção de uma concepção de Moral não ligada à esfera da religião, mas pautada nas relações sociais. Enquanto a visão positivista do Direito afasta o Direito da esfera da Moral, a teoria do direito anarquista não vê uma cisão entre direito e moral, já que não aceitam um direito positivado e uma moral religiosa e heterônoma. Segundo Rivaya é a moral o grande elemento de distinção entre a concepção marxista de direito e a concepção anarquista, uma vez que os dois compartilhavam a idéia de serem socialistas:

    “Os libertários souberam distinguir entre seu socialismo e o socialismo autoritário, enquanto os marxistas os tacharam de idealistas e anti-científicos. Realmente ambos partilharam o ideal socialista, mas enquanto uns pensavam que seria imprescindível uma fase de transição para chegara e esse estado, os outros se negaram a aceitar que seria necessário utilizar a maquinaria jurídica e política do regime que se derrubava para construir um novo…

    Além disso, uns e outros possuíam uma visão diversa da natureza humana e isso trazia conseqüências, inclusive para as suas teorias do Direito. No caso dos anarquistas, os homens pareciam capazes de discernir corretamente entre o bem e o mal, entre o egoísmo e a solidariedade, e por isso que manejavam um conjunto de critérios objetivos que serviam para julgar e condenar o Direito do Estado.”
    Fonte: http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11466

    Conforme é perceptível, em linhas gerais o anarquismo, primeiramente, não é uno, existindo várias formas de percebe-lo e, por consequência, colocá-lo em prática.

    Em segundo momento, no que tange ao sistema jurídico que vigoraria em uma sociedade anárquica, ele haveria de ser absolutamente descentralizado, não existindo o Jus Puniendi como nas sociedades estatais/autoritárias.

    Havendo a transformação social é plausível que os níveis de delinquência caiam vertiginosamente, pois para que tal mudança se dê de forma concreta é de se esperar uma elevação do nível de consciência/responsabilidade dos indivíduos, elementos essenciais para existência de um viver libertário.

    Insta destacar que não havendo mais opressão levada a cabo pelo Estado e Capital inúmeras situações criminosas deixarão de existir por si só. Contudo, se algum indivíduo praticar ato considerado ilícito pela sociedade em que se encontra inserido, tal sociedade pode deliberar acerca de (a) seu afastamento, (b) seu tratamento, na hipótese de sua conduta haver sido perpetrada em razão de alguma doença, (c) ou outra solução prática que julgar conveniente.

    Tais situações são apenas conjecturas, vez que são os indivíduos que hão de decidir acerca do que fazer, porém dentro de uma ética libertária.

    A história nos dá pequenos exemplos. O primeiro é o da Revolução Espanhola de 1936, uma experiência em que milhões de pessoas viveram sem a existência do Estado e, em decorrência disso, de um Poder Judiciário. Os litígios em tais sociedades eram raros. Quando ocorriam os litigantes escolhiam uma terceira pessoa para juntas chegarem a uma composição, em um processo conciliatório arbitral que se mostrou extremamente eficiente na prática.

    Outro exemplo, mais atual, é a hodierna sociedade Zapatista, com sua organização comunitária na região de Chiapas, no México. O Zapatismo colocou em prática os chamados Caracóis (ligados as Juntas de Bom Governo), que além de serem assembleias populares que tratam da organização das zonas zapatistas, também lida com questões relacionadas a atos contrários aos interesses de tais comunidades.

    Mais uma vez aqui se tem que são raríssimos os casos de delinquência. Geralmente, quando existente algo definido como infração, o indivíduo que praticou tal conduta é aconselhado a não mais pratica-la, vez que sua conduta traz ou pode trazer dano à comunidade. Se reincide, tenta-se uma conciliação para que eventuais prejuízos sejam reparados. Se tal conciliação é infrutífera ou impossível, a Junta de Bom Governo delibera coletivamente acerca do que fazer.

    Destaque-se que nas sociedades zapatistas a prisão, via de regra, não existe. Se for o caso de se propor alguma punição, ela se dá através de algum trabalho que venha a beneficiar toda a comunidade. Tais práticas vem se firmando como soluções reais e não autoritárias para se lidar com conflitos de interesses nas sociedades (a título de exemplo: desde 1994, ano do levante zapatista, não se registra nenhum homicídio entre os cidadãos das localidades sublevadas).

    De tal modo, assim se daria o posicionamento antiautoritário no que tange aos atos ilícitos.

  15. Gostaria de agradecer a equipe do site, vocês mudaram minha vida de verdade. Eu estava sem guia, sempre fui a favor da conservação do meio ambiente e não entendia como o capitalismo agredia a natureza, também nunca havia notado a agregação de valor a algo tão babaca que é o dinheiro. Tento praticar minha anarquia no meu dia a dia passando tudo que aprendi até hoje para as pessoas próximas, com muita paciência e compreensão. Anarquia é amor.

  16. Eu vou refazer a mesma pergunta que o guri ali em cima fez e n foi respondido, até então mandei pelo bate papo no face e não me responderam…
    em relação às infraestruturas de maior porte e importância? Como é o caso das escolas e dos hospitais… Como seriam construídos? Como seriam organizados sem recorrer a qualquer tipo de liderança individual ou de pequenos grupos com maior poder sobre os restantes?

  17. Quanto à pergunta recorrente sobre como seriam construídas escolas e hospitais, sem recorrer a uma liderança, pergunto: para quê seria necessária uma liderança para se construir essas estruturas.
    Creio que uma sociedade esclarecida certamente identificaria a necessidade de construção de estruturas como essas e, identificada essa sociedade, reuniria os indivíduos capacitados para montar a infraestrutura e para fazer funcionar esses serviços, da mesma maneira que se faria com qualquer outro tipo de indústria ou de serviços que se tornassem necessários.
    Não sei se me expressei claramente, mas espero ter auxiliado.

  18. Olá, tenho uma dúvida, o anarquismo é contra o Estado e a opressão, e como diz no primeiro tópico, o maior inimigo da sociedade é o dinheiro por ser um grande manipulador, numa sociedade anarquista, o dinheiro não existiria? Usaríamos o escambo?

  19. Digo e repito: anarquismo é lindo na teoria (eu mesmo posso sim me considerar teoricamente um anarquista), mas na prática é IMPOSSIVEL, exceto se tudo for destruído pra todos viverem em agrovilas como os índios vivem! A verdade é: quem vai querer abrir mão de vários avanços tecnológicos e cientificos que o capitalismo promoveu através da revolução industrial? Quase ninguém! O que eu concordo são com as propostas anarquistas: democracia direta, faça você mesmo, pedagogia libertária, entre outras propostas! E todas elas deixaram o capitalismo mais “humano” com o passar do tempo se todos vocês verem! E também concordo com mais uma coisa com o anarquismo: esperar que um país mude apenas pelo voto nas eleições NUNCA vai acontecer! Não importa se tiver políticos de esquerda ou de direita no poder! O povo tem que se revoltar constantemente!

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