A Constituição De Si Na Experiência Da Revolução Espanhola (1936-1939)
O anarquismo é um tipo de experiência que se colocada no interior do tema da cultura de si, estáinserido naquele conjunto de tentativas difíceis e ambíguas para a constituição de uma ética e de uma estéticado eu que percorreram os séculos XIX e XX, e que foram definidas por Foucault como uma tarefa urgente,fundamental e politicamente indispensável, “se é certo que depois de tudo não exista outro ponto, primeiro eúltimo, de resistência ao poder político que na relação de si consigo.” No Brasil, existem duas referênciasfundamentais para uma leitura da anarquia como arte de viver e dos anarquistas como inventores de umaética libertária. Edson Passetti faz uma leitura que atravessa Foucault, Nietzsche e Stirner, e que investe no anarquismo como estética da existência. “Os anarquistas foram decisivos fazendo vibrar suas vidas, muitasvezes contra quase todos, para expressar suas possibilidades de existência.” O anarquismo aparece como um “pedaço menor” e “uma forma moderna de afirmação de uma longa descrença na hierarquia”. Já Margareth Rago traçou o percurso existencial da anarquista italiana Luce Fabbri destacando o “trabalho político, ético e estético sobre si mesma, um elaborar a própria vida como obra de arte, uma construção subjetiva sofisticada, tendo em vista o exercício da liberdade e a ampliação dos espaços da autonomia.” É nessa perspectiva que se coloca este trabalho ao procurar localizar nas práticas dascoletivizações da Revolução Espanhola modos de constituição de um sujeito anárquico.