Anarquismos e governamentalidade: Tese (Doutorado em CiênciasSociais – Política – São Paulo)
Estudo das reflexões do anarquista francês Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865) e do anarquista italiano Errico Malatesta (1853-1932) sobre o exercício do governo utilizando uma abordagem dos estudos em governamentalidade que procura demonstrar a existência de uma problemática “anarquia e governamentalidade” descrita como um posicionamento crítico frente ao poder no qual a análise do governo é tomada a partir das práticas de governo e no qual a inteligibilidade do político é analisada em termos de relações de força e o governo em termos de tecnologia. Busca não somente aproximar a concepção anárquica dos estudos em governamentalidade, mas apontar a possibilidade de uma relação de procedência entre os
estudos em governamentalidade e a anarquia esboçada por Proudhon no século XIX. Demonstra como a noção de força teve para a anarquia um efeito de rompimento com as interpretações clássicas da teoria do direito de soberania e com o seu funcionamento na racionalidade política do século XVII e nos socialismos dos séculos XIX e XX. Retoma a configuração inaugural dada por Proudhon em que analisa o governo a partir do exercício do poder governamental, mostrando como sua reflexão tomou como problema maior, na segunda metade do século XIX, o de tornar evidente a racionalidade do poder e as práticas do princípio de autoridade cristalizados em domínios de objetos da economia política. Retoma a reflexão de Malatesta e o problema da dominação, da organização e do governo e afirma a necessidade de afastar sua concepção sobre a dominação das concepções liberal e marxista, percebendo como, para Malatesta, o problema colocado no final do século XIX e começo do século XX foi o do princípio da organização e de suas conexões com a dominação. Propõe uma outra fisionomia à revolução no anarquismo fora do modelo da Revolução Francesa. Aborda uma dimensão agônica no anarquismo, que faz do governo uma atividade sempre perigosa por meio da qual re-valoriza alguns temas do debate. Estuda a propaganda pelo fato, sua evolução para o anarco-terrorismo e a elaboração de Malatesta sobre os usos da violência e sua oposição ao terror como princípio. Trata do movimento operário e do sindicalismo, propondo o pauperismo como realidade sobre a qual repousa a subversão política e a anarquia
como elemento de tensão que impulsiona o movimento operário para a revolução. Retoma o problema do fascismo como indissociável ao problema da Primeira Guerra, abordando a polêmica que colocou em campos opostos Kropotkin e Malatesta. Estuda o fenômeno do fascismo através da crítica indistinta, do ponto de vista analítico, que Malatesta realizou da democracia e da ditadura, com a qual rejeitou a estratégia liberal de conferir positividade ao Estado de direito, denunciou na ditadura a eficácia em despertar desejos de democracia, e viu
na democracia o elemento que a tornava mais perigosa e mais liberticida que a ditadura: a contínua capacidade de renovação estratégica do princípio de autoridade.