A Estratégia de Massas de Neno Vasco

Artigo que discute, fundamentado no livro “Concepção Anarquista do Sindicalismo”, as posições de Neno Vasco — militante português com ampla participação e influência no anarquismo e no movimento operário brasileiro da Primeira República — em relação às lutas dos movimentos populares. Neno propõe, como anarquista, um determinado funcionamento para os sindicatos, dando corpo ao que se chamou de sindicalismo revolucionário.

OS CAMPOS ESTRATÉGICOS DO ANARQUISMO NO BRASIL DAPRIMEIRA REPÚBLICA

Pode-se dizer que o anarquismo no Brasil da Primeira República tinha dois camposestratégicos fundamentais: o organizacionismo e o anti-organizacionismo, sendo o primeiro maior, tanto numericamente quanto em termos de influência, do que osegundo. Alexandre Samis, na biografia de Neno Vasco:

 Minha Pátria é o Mundo Inteiro explicita essa diferença das estratégias:

“Uma primeira […], a organizacionista, buscava uma relação entre os libertários, com vistas ao estabelecimento da tese malatestiana de partido. Em conformidade com esta perspectiva viam no sindicato um excelente meio para unir trabalhadores e fazer a necessária propaganda, objetivando criar uma organização anarquista com base operária sólida.[…] Em oposição, a tendência antiorganizacionista suspeitava da aproximação excessiva entre anarquistas e sindicalistas. Pensavam os dessa vertente que a constituição de grupos estáveis, com relações sólidas e permanentes, alheios muitas vezes à efemeridade de determinados objetivos, era um desvio da própria essência do anarquismo.

Minha Pátria é o Mundo Inteiro: Neno Vasco, o anarquismo e o sindicalismo revolucionário em dois mundos

. Lisboa: Letra Livre, 2009, p. 161.]Os organizacionistas, como o próprio nome já evidencia, defendiam a organização, os segundos desconfiavam dela. Dentro dos organizacionistas, havia duas concepções fundamentais. Aqueles que defendiam que a organização anarquista deveria se dar no nível de massas, e, portanto, no campo do sindicalismo; os anarquistas deveriam ingressar individualmente nos sindicatos e fazer do centro de sua militância o sindicato, defendendo uma concepção determinada de sindicalismo. E também aqueles que defendiam que a organização anarquista deveria se dar em dois níveis: o nível político ideológico (da organização política, do partido) e no nível social (de massas, do sindicato). No Brasil a primeira concepção foi sempre mais numerosa e influente que a segunda.

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