Neno Vasco ou Gregório Nazianzeno Moreira de Queiroz e Vasconcelos
Neno Vasco (1878 – 1923) foi um poeta, advogado, jornalista e escritor, ardoroso militante anarcossindicalista nascido em Portugal. Emigrou para o Brasil onde estabeleceu uma série de projetos com os anarquistas daquele país. É de sua autoria a tradução do hino A Internacional mais difundida nos países de língua portuguesa.
Primeiros anos
Gregório Nazianzeno Moreira de Queiroz e Vasconcelos, mais conhecido como Neno Vasco, nasceu em Penafiel em 9 de Maio de 1878. Aos 8 ou 9 anos de idade imigra junto com seu pai e sua madrasta para a cidade de São Paulo, no Brasil. Alguns anos depois regressa a Portugal para concluir seus estudos indo viver na casa de seus avós paternos em Amarante.
Formação academica
Matricula-se na Faculdade de Direito do Liceu onde passa a ter aulas. Tem como colegas e amigos futuros ilustres da intelectualidade portuguesa como o poeta Teixeira de Pacoaes, Faria de Vasconcelos e António Resende. No ano de 1901 conclui o curso de bacharelado. Ao mesmo tempo passa a empreender atividades militantes, em 2 de Março de 1901 publica o panfleto – A Academia de Coimbra ao Povo Portuguez – onde faz uma ferrenha crítica às arbitrariedades da polícia. Neste mesmo ano começa a escrever artigos para o jornal republicano O Mundo, à época publicado em Lisboa sob a direção de Mayer Garção.
Retorno ao Brasil e contato com o Anarquismo
No final de 1901 retorna ao Brasil onde rapidamente estabeleceu contato com anarquistas italianos através dos quais tomou conhecimento da obra de Errico Malatesta que daquele momento em diante exerceu uma profunda influência em seu pensamento. Em poucos meses passou a se corresponder com Malatesta e neste contato suas ideias e concepções foram modificadas. Do Brasil escreveu e enviou textos sobre literatura e revolução a serem publicados em Portugal na revista A Sementeira na qual também escreveu um artigo memorável sobre a obra, vida e morte do francês Octave Mirbeau.
Amigo do Povo, Aurora e Voz do Trabalhador
Na cidade de São Paulo em 1902 passa a editar o jornal Amigo do Povo junto com Benjamim Mota, Oreste Ristori, Giulio Sorelli, Tobia Boni, Ângelo Bandoni, Gigi Damiani e Ricardo Gonçalves. A influência do periódico foi imediata sendo ele apropriado, não só como um dos principais espaços de dialogo sobre o movimento anarquista brasileiro, mas também lócus de reflexão de questões relacionadas à “emancipação feminina” por um número considerável mulheres notáveis que passaram a contribuir para esta publicação. A partir destas discussões suas Neno Vasco publicou um artigo neste periódico refutando a tese do naturalista Émile Zola acerca da fecundidade. Algum tempo depois lançou a revista Aurora.
Nas páginas do jornal Voz do Trabalhador Neno Vasco respondeu às críticas de alguns anarquistas (entre eles Luigi Galleani) que acusava as organizações anarcossindicalistas de serem apenas uma nova forma de governo. A polêmica sobre as relações entre anarquismo e sindicalismo, deu à época fundamental margem para um amplo debate, importante para a compreensão das diferentes correntes dentro do movimento libertário se situavam em relação ao movimento operário e à suas organizações.
Casamento, traduções e militância
No ano de 1904 traduziu para o português do francês a obra “Evolução, Revolução e Ideal Anarquista” do francês Élisée Reclus. Em 1905 casou-se com Mercedes Moscovo, anarcafeminista filha de uma família espanhola e anarquista por gerações. A esta época desenvolveu intensa atividade de propagação do pensamento libertário tornando-se uma referência entre os libertários brasileiros com os quais colaborava. Também neste ano passou a editar o periódico A Terra Livre com sua esposa, Edgard Leuenroth e outros. Ao mesmo tempo se manteve em diálogo com outros anarquistas de origem portuguesa que, atuavam no Brasil, entre eles Adelino Tavares de Pinho – um comerciante do Porto que exercera a função de professor na Escola Moderna -, Marques da Costa – editor do jornal O Trabalho -, Manuel Cunha, Diamantino Augusto, Amílcar dos Santos, Raul Pereira dos Santos, José Romero, etc.
Em 1909 traduziu o hino internacionalista progressista A Internacional do francês Eugène Pottier para o português. Rapidamente sua versão se difundiu no meio anarcossindicalista, tanto no Brasil como em Portugal, passando a ser ouvido em manifestações operárias como greves e comícios nestes dois países desde então.
Regresso a Portugal
Proclamada a República em 1910, Neno Vasco retornou a Portugalonde continuou a desenvolver sua militância anarquista, colaborando com a imprensa anarquista brasileira como correspondente. Tornou-se colaborador constante da revista libertária A Sementeira na qual escreveu sobre a situação social no Brasil.
No ano seguinte, nos dias 11, 12 e 13 de Novembro participou do 1º Congresso Anarquista Português. Em 1912 lançou a coleção ‘A Brochura Social’ com Lima da Costa editando duas obras, tomou parte em diversos encontros anarquistas como a (Conferência Anarquista de Lisboa em 1914), publicou o folheto “Geórgias: ao trabalhador rural” no periódico semanal de Pinto Quartin Terra Livre, ofereceu cursos de formação aos jovens das Juventudes Sindicalistas em O Germinal. Em 1910 desentendeu-se com Emídio Costa sobre estratégias diante da Primeira Guerra Mundial, foi amigo de muitos militantes do movimento anarquista português.
Morte
Em 15 de Setembro de 1920 Neno Vasco, intelectual brilhante e influente militante libertário em dois continentes, morreu de tuberculose, pobre e seguro de suas posições anarquistas, na freguesia de São Romão do Coronado do concelho de Trofa, no norte de Portugal.
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