Sindicalismo Revolucionário e Luta Armada a Trajetória da Federação Anarquista Uruguaia.

 A presente dissertação tem como objetivo analisar a incidência da Federação Anarquista Uruguaia (FAU) nas lutas sociais do Uruguai entre os anos 1968-1973.

Fundada em 1956, aFAU se alimentou de uma grande influência de anarquistas como Malatesta e Bakunin, alémde inúmeras experiências do movimento operário no país, como foi o caso dos sindicatos autônomos e os grêmios solidários. Posta na clandestinidade junto a outras organizações de esquerda em dezembro de 1967, a FAU seguiu desenvolvendo uma consistente atuação político-social.

Nesse período, compreendido pela organização enquanto uma “ditadura constitucional”, ampliou de forma considerável seu raio de influência no movimento sindicale estudantil, conformando uma importante organização de massas, a Resistencia Obrero Estudiantil (ROE) além de impulsionar um campo de agrupações sindicais que sustentavam uma oposição de esquerda à política do Partido Comunista Uruguaio no movimento sindical, a Tendencia Combativa. 

Também participou ativamente no processo de unificação do movimento sindical, que culmina na conformação da Convención Nacional de Trabajadores (CNT). Além de galgar uma significativa expressão nas lutas de massas, a FAU também desenvolveu um pequeno, embora eficaz, aparato armado, a Organización Popular Revolucionaria 33 Orientales (OPR-33).

Apesar de reivindicar expressamente a luta armada como via revolucionária, esta organização não abarcou nas teses do foquismo, que tanto influenciaram organizações no continente, sustentando um projeto de luta armada articulado e dirigido por uma organização política, com incidência de massas. A luta armada era compreendida, portanto, enquanto uma expressão de auto defesa e impulso das lutas de massas.

O presente trabalho é parte de um esforço que busca investigar a atuação da Federação Anarquista Uruguaia (FAU) em meio às “lutas de massas” (sindicais, estudantis e bairros populares) e também na luta armada, entre os anos de seu maior desenvolvimento: de 1963até 1973.

Pretendemos priorizar as análises em torno de sua incidência no movimento sindical, através de sua intervenção na Convención Nacional de Trabajadores (CNT) pela Resistencia Obrero Estudiantil (ROE) e Tendencia Combativa ,assim como sua atuação na luta armada a partir de seu aparato armado Organización Popular Revolucionaria 33Orientais(OPR-33) em função de serem estas frentes de luta as suas prioridades estratégicas. Para tanto, além de investigar o seu trabalho político-social, também buscamos analisar o contexto histórico do Uruguai, sobretudo a partir da ascensão de Pacheco Areco ao poder em finais de 1967, período marcado por um processo de deterioração democrática que culmina em um Golpe de Estado em 1973.

Objetivamos, a partir da investigação das questões citadas, ter uma dimensão da influência que esta organização exerceu na esquerda uruguaia, assim como da complexidade de seu desenvolvimento organizativo. Inserimos a nossa investigação dentro da perspectiva da Nova História Política.

Neste sentido, compreendemos o cenário político do Uruguai para além das instituições e fóruns do Estado assim como dos partidos que encontram nestes espaços o seu lócus privilegiado para a atividade política. Procuramos, assim, identificar a política nas mais diversas relações sociais cotidianas que, por sua vez, também são relações de poder.

A partir disso, concentramos nossas observações em setores sociais tais como sindicatos, associações estudantis, movimentos de bairros e organizações político- ideológicas não institucionalizadas, priorizando, assim, a análise das chamadas “massas anônimas”, seu cotidiano e expressões políticas e culturais, configurando assim uma “História vista de Baixo”. 2 Fundada em 1956, a FAU, embora não tenha alcançado uma hegemonia em meio às forças populares e de esquerda, exerceu considerável incidência nas lutas sociais e, consequentemente, na vida política do país

Via: Academia