Os vândalos contemporâneos
Os vândalos contemporâneos: As manifestações “democráticas” contra o aumento da passagem, em várias capitais brasileiras, são a expressão da luta entre trabalhadores e capitalistas, a essência do fenômeno.
Alguns reacionários e leigos pensam que o levante do Brasil foi somente por 0,20 centavos… Um adendo: – A Revolução Francesa explodiu graças ao aumento de 0,5 centavos no preço do pão, principal fonte de nutrição para os camponeses da época.
No ano 455, o povo Vândalo, de origem germânica, invadiu e saqueou Roma por duas semanas, impondo uma grande derrota ao poderosíssimo Império Romano. Tamanha humilhação não ficaria impune, anos depois o imperador Justiniano I declara guerra aos Vândalos e escala para comandar o exército, de quinze mil homens, o general Belisário. Após dois anos de intensas batalhas, os romanos ocupam as principais cidades do Reino Vândalo, no norte da África, levando o rei Gelimer à rendição no ano 534. Era o fim de um povo.
A conduta dos Vândalos não foi em nada diferente das práticas de outros povos antigos, mesmo cristãos e inclusive dos próprios romanos, numa época em que se guerreava por território e escravos. Quanto maior o império, maior a demanda de escravos para defesa e sustentação do reino, e também para as constantes frentes de batalha. A palavra “vândalo” virou sinônimo de praticantes da violência, de atos agressivos, porque nossa história tem sido a história contada pelos vencedores. É um uso injusto com a história, que só serve aos interesses dominantes.
O termo “vandalismo” como sinônimo de espírito de destruição foi cunhado no final do século XVIII , em janeiro de 1794 , por Henri Grégoire, bispo constitucional de Blois; ele cunhou o termo e o tornou comum através de uma série de relatórios para a Convenção, denunciando a destruição de artefatos culturais como monumentos, pinturas, livros que estavam sendo destruídos como símbolo de um ódio ao passado de “feudalismo”, “tirania da realeza” e “preconceito religioso”, durante o Reino do Terror. Em seu livro Memoirs, ele escreveu: “Inventei a palavra para abolir o ato”.
As manifestações democráticas contra o aumento da passagem, em várias capitais brasileiras, são a expressão da luta entre trabalhadores e capitalistas, a essência do fenômeno. Todo trabalhador e trabalhadora sabe, e sente no bolso, o que significa o aumento de cada centavo na passagem. Sempre que há um ajuste, é dinheiro que sai do bolso do trabalhador e vai pro bolso do dono da empresa de ônibus, do capitalista. Esta luta vem de tempos, mas no caso do aumento das passagens, neste determinado período histórico, assume contornos peculiares.
Se a imprensa burguesa, porta-voz da ideologia dominante, chama os milhares de trabalhadores e trabalhadoras que ocupam as ruas contra o aumento de vândalos, de bárbaros, não devemos nos envergonhar, eles conhecem esta história. É por isso que os senhores tremem nos palácios em Roma.
Texto Original: Talles Reis, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra [MST].
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Black Bloc – Estratégia de manifestação e protesto anarquista
Fonte: www.brasildefato.com.br