O Feminismo Transborda: Docência, produção escrita e atuação da professora Áurea Corrêa entre os séculos XIX e XX no Rio de Janeiro
A proposta do artigo é analisar as perspectivas produzidas por uma professora primária municipal do Rio de Janeiro, Aurea Corrêa Villares Ferreira/Martinez, a partir da leitura de sua produção escrita publicada em jornais de grande circulação à época, especialmente a Gazeta de Noticias. O estudo se insere em pesquisa mais ampla sobre a trajetória de professoras e sua participação nos movimentos de luta por direitos civis, políticos e no mundo do trabalho, entre os séculos XIX e XX. A pesquisa realizada sugere que Aurea Corrêa constituiu ampla rede de sociabilidade, baseada nas suas experiências no magistério primário e nas lutas políticas. Atuou na defesa dos direitos dos/as professores/as, na melhoria das escolas e dos métodos de ensino, nas eleições presidenciais de 1910. Participou da criação da Associação Escola Moderna, responsável pela fundação de uma escola no centro do Rio de Janeiro, inspirada nas experiências de educação libertária de Francisco Ferrer desenvolvidas em Barcelona. Única conferencista do sexo feminino a integrar os eventos de difusão da iniciativa, defendeu publicamente o ensino racional para as mulheres. Os indícios de sua trajetória retratada neste artigo, e de outras professoras de seu tempo, evidenciam a ocupação de diversos espaços possíveis a algumas mulheres, ao menos àquelas pertencentes aos meios letrados. Suas lutas relativizam a representação corrente sobre o suposto predomínio do mundo doméstico como limite para as experiências do feminismos naquele contexto histórico.