[Liev Tolstoi] Por que os homens se entorpecem?
Polêmica de Tolstoy contra o que ele viu como as “fugas” do álcool e dos narcóticos, traduzido do russo para o inglês por Aylmer e Louise Maud. Originalmente publicado em 1890 como prefácio a um livro do Dr. P. S. Alexeyef, que Tolstoy havia conhecido três anos antes.
Qual é a explicação do fato que as pessoas usam coisas que as entorpecem: vodka, vinho, cerveja, haxixe, ópio, tabaco, e outras coisas menos comuns: éter, morfina, cogumelos alucinógenos, etc.? Por que a prática começou? Por que se espalhou tão rapidamente, e por que ainda está se espalhando entre todos os tipos de pessoas, selvagens e civilizadas? Como é que onde não há vódka, vinho ou cerveja, nós encontramos ópio, haxixe, cogumelos alucinógenos, e similares, e que o tabaco é usado em todo lugar?
Por que as pessoas desejam se entorpecer?
Pergunte a qualquer pessoa por que ela começou a beber vinho e por que ela o bebe agora. Ela vai responder, “Ó, eu gosto, e todo mundo bebe,” e ela pode acrescentar, “isso me alegra”. Algumas – aquelas que nunca tiveram o problema de considerar se elas fazem bem ou mal em beber vinho – podem acrescentar que vinho é bom para a saúde e aumenta as forças; quer dizer, vai fazer uma declaração há muito tempo provada infundada.
Pergunte a um fumante por que ele começou a usar tabaco e por que fuma agora, e ele também vai responder: “Para passar o tempo; todo mundo fuma.”
Respostas similares provavelmente seriam dadas por aqueles que usam ópio, haxixe, morfina ou cogumelos alucinógenos.
“Para passar o tempo, para se alegrar; todo mundo faz isso”. Mas pode ser desculpável torcer os dedos, assobiar, cartarolar múscias, tocar uma flauta ou fazer algo desse tipo “para passar o tempo”, “para se alegrar” ou “porque todo mundo faz isso” – quer dizer, pode ser desculpável fazer algo que não involva desperdiçar a riqueza natural, ou gastar o que custou enorme trabalho para se produzir, ou fazer o que traz evidente dano para si próprio e para outros.
Mas para produzir tabaco, vinho, haxixe e ópio, o trabalho de milhões de homens é gasto, e milhões e milhões de acres da melhor terra (frequentemente no meio de uma população que tem pouca terra) são empregados para cultivar batatas, cânhamo, papoula, videiras e tabaco.
Além disso, o uso destas evidentemente nocivas coisas produz terríveis males conhecidos e admitidos por todo mundo, e destrói mais pessoas que todas as guerras e doenças contagiosas somadas. E as pessoas sabem disso, de modo que elas não podem realmente usar essas coisas “para passar o tempo”, “para se alegrar” ou porque “todo mundo faz isso”.
Tem de haver outro motivo. Continuamente e em todo lugar alguém encontra pessoas que amam suas crianças e estão preparadas para fazer todo tipo de sacrifício por elas, mas que ainda gastam em vódka, vinho e cerveja, ou em ópio, haxixe, ou mesmo tabaco, tanto quanto seria completamente suficiente para alimentar suas crianças famintas e miseráveis, ou pelo menos tanto quanto bastaria para salvá-las da miséria.
Evidentemente se um homem que tem de escolher entre as necessidades e sofrimentos de uma família que ele ama por um lado, e abstinência de entorpecentes do outro, escolhe o primeiro – ele deve ser induzido a isso por algo mais potente que a consideração que todo mundo faz isso ou que isso é agradável. Evidentementeisso é feito não “para passar o tempo”, nem meramente “para se alegrar”. Ele é atuado por uma causa mais poderosa.
Essa causa – até onde eu a detectei lendo sobre este assunto e observando outras pessoas, e particularmente observando meu próprio caso quando eu bebia vinho e fumava tabaco – essa causa, eu acredito, pode ser explicada como segue:
Quando, observando sua própria vida, um homem frequentemente percebe nele dois diferentes seres: um é cego e físico, o outro vê e é espiritual. O ser cego e animal come, bebe, descansa, dorme, se reproduz e se movimenta, como um robô. O ser espiritual e observador que está ligado ao animal não faz nada por si, mas apenas avalia a atividade do ser animal; coincidindo com ele quando aprova sua atividade, e divergindo dele quando disaprova.
Este ser observador pode ser comparado à agulha de uma bússola, apontando com uma ponta para o norte e com a outra para o sul, mas rastreada ao longo de todo o seu comprimento por algo que não é visível, desde que isso e a agulha apontam ambos para o mesmo lado; mas que se torna óbvio tão logo eles apontam para lados diferentes.
Da mesma forma o ser observador e espiritual, cuja manifestação nós comumente chamamos consciência, sempre aponta com uma extremidade para o certo e com a outra para o errado, e nós não a notamos enquanto nós seguimos o rumo que ela mostra: o rumo do errado para o certo. Mas alguém precisa apenas fazer alguma coisa contrária à indicação da consciência para tornar-se ciente deste ser espiritual, que então mostra como a atividade animal divergiu da direção indicada pela consciência.
E como um navegador ciente de que ele está no caminho errado não pode continuar a trabalhar o motor, remos ou velas, até que tenha ajustado seu rumo às indicações da bússola, ou até que tenha obliterado sua consciência dessa divergência – cada homem que sentiu a dualidade de sua atividade animal e sua consciência pode continuar sua atividade somente ajustando esta atividade às demandas da consciência, ou escondendo dele próprio as indicações que a consciência lhe dá sobre a incorreção de sua vida animal.
Toda vida humana, podemos dizer, consiste exclusivamente nestas duas atividades:
1. trazer suas atividades em harmonia com a consciência, ou
2. esconder de si próprio as indicações da consciência em ordem de ser capaz de continuar a viver como antes.
Alguns fazem o primeiro, outros o segundo. Para atingir o primeiro há apenas um meio: esclarecimento moral – o aumento da luz em si e atenção ao que ela mostra. Para atingir o segundo – esconder de si próprio as indicações da consciência – existem dois meios: um externo e o outro interno. O meio externo consiste em ocupações que desviam a atenção das indicações dadas pela consciência; o método interno consiste em obscurecer a própria consciência.
Como um homem tem duas formas de evitar ver um objeto que está diante de si: ou desviando sua vista para outros objetos mais notáveis, ou obstruindo a visão de seus próprios olhos – assim também um homem pode esconder de si as indicações da consciência de duas formas: ou pelo método externo de desviar sua ateção para várias ocupações, preocupações, diversões, ou jogos; ou pelo método interno de obstruir o próprio órgão da atenção[1].
Para pessoas de lento, limitado sentimento moral, os desvios externos são muitas vezes completamente suficientes para permitir-lhes não perceber as indicações que a consciência dá sobre a incorreção de suas vidas. Mas para pessoas moralmente sensitivas esses meios são muitas vezes insuficientes.
Os meios externos não desviam muito a atenção do conhecimento de discórdia entre a vida e as demandas da consciência. Esse conhecimento dificulta a vida; e em ordem de ser capaz de seguir vivendo como antes, as pessoas recorreram ao método interno e confiável, que é o do obscurecimento da própria consciência pelo envenenamento do cérebro com substâncias entorpecentes.
Alguém não está vivendo como a consciência damanda, ainda lhe falta força para reformular a vida de acordo com suas exigências. Os desvios que podem distrair a atenção do conhecimento dessa discórdia são insuficientes, ou se tornaram obsoletos, e assim – em ordem de ser capaz de viver, desconsiderando as indicações que a consciência dá acerca da incorreção de suas vidas – as pessoas (envenenando-o temporariamente) param a atividade do órgão [o cérebro] através do qual a consciência se manifesta, como um homem cobrindo seus olhos esconde de si próprio o que ele não quer ver.
II
A causa do consumo mundial de haxixe, ópio, vinho e tabaco consiste não no gosto, nem em algum prazer, recreação, ou alegria que eles proporcionam, mas simplesmente na necessidade do homem de esconder dele mesmo as demandas da consciência.
Eu estava andando ao longo da rua um dia, e passando por alguns cocheiros que estavam conversando, ouvi um deles dizer: “Com certeza quando um homem está sóbrio sente vergonha de fazer isso!”
Quando um homem está sóbrio ele sente vergonha do que parece tudo bem quando ele está embriagado. Nessas palavras nós temos a causa essencial e fundamental que leva os homens a recorrer a entorpecentes. As pessoas recorrem a eles ou para escapar de ter vergonha após ter feito algo contrário às suas consciências, ou para trazer a si mesmo de antemão a um estado no qual elas podem cometer ações contrárias à consciência, mas para as quais sua natureza animal os induzem.
Um homem quando sóbrio tem vergonha de ir atrás de uma prostituta, tem vergonha de roubar, tem vergonha de matar. Um homem embriagadonão sente vergonha de nenhuma dessas coisas, e portanto se um homem deseja fazer algo que sua consciência condena ele se entorpece.
Lembro-me de ser atingido pela evidência de um cozinheiro que foi julgado por assassinar uma conhecida minha, uma velha senhora em cujo serviço ele viveu. Ele relatou que quando ele tinha mandado embora sua amante, a criada, e havia chegado a hora de agir, ele desejou ir ao quarto com uma faca, mas sentiu que enquanto sóbrio ele não poderia cometer o ato que havia planejado… “quando um homem está sóbrio ele sente vergonha.” Ele deu meia volta, bebeu dois copos de vódka que havia preparado de antemão, e só então sentiu-se preparado, e cometeu o crime.
Nove décimos dos crimes são cometidos desta maneira: “Beber para manter a coragem.”
Metade das mulheres que caem fazem isso sob a influência do vinho. Quase todas as visitas a prostíbulos são pagas por homens que estão bêbados. As pessoas conhecem essa capacidade do vinho de sufocar a voz da consciência, e intencionalmente o usam com esse propósito.
As pessoas não apenas entorpecem a si mesmas para sufocar sua própria consciência, mas, sabendo como o vinho age, elas intencionalmente entorpecem outros quando desejam fazê-los cometer ações contrárias à consciência – isto é, elas se organizam para entorpecer pessoas com o objetivo de privá-las da consciência.
Na guerra, soldados são geralmente alcoolizados antes de um combate mão-a-mão. Todos os soldados franceses nos assaltos a Savastopol estavam embriagados.
Quando um local fortificado foi capturado mas os soldados não saqueiam nem matam os velhos e crianças indefesos, frequentemente ordens são dadas para fazê-los beber e então eles fazem o que é esperado.[2]
Todo mundo conhece pessoas que foram levadas a beber em consequência de alguma má alção, que atormentou sua consciência. Qualquer um pode notar que aqueles que levam vidas imorais são mais atraídos por substâncias entorpecentes que outros. Bandos de assaltantes ou ladrões e prostitutas não conseguem viver sem tóxicos.
Todo mundo sabe e admite que o uso de substâncias entorpecentes é uma consequência das aflições da consciência, e que em certos modos imorais de viver as substâncias entorpecentes são empregadas para sufocar a consciência. Todo mundo sabe e admite também que o uso de entorpecentes sufoca a consciência: que um bêbado é capaz de feitos que quando sóbrio ele não pensaria nem por um momento.
Todo mundo concorda com isso, mas é estranho dizerem que quando o uso de entorpecentes não resulta em atos como roubos, assassinatos, estupros, e assim por diante – quando entorpecentes são usados não após crimes terríveis, mas por homens que seguem profissões que não consideramos criminosas, e quando as substâncias são consumidas não em grandes quantidades de uma vez, mas continuamente em doses moderadas – então é assumido que substâncias entorpecentes não tem tendência de sufocar a consciência.
Assim é suposto que um copo de vódka de um russo rico antes cada refeição e um copo de vinho com a refeição, ou o absinto de um francês, ou o vinho do porto e a cerveja porter de um inglês, ou a cerveja lager de um alemão, ou a dose moderada de ópio de um chinês e o fumo de tabaco com eles – é feito só por prazer e não tem qualquer efeito em suas consciências.
É suposto que se após este entorpecimento habitual nenhum crime é cometido – nenhum roubo ou assassinato, mas só costumeiras ações más e estúpidas – então essas ações ocorreram por si mesmas e não são evocadas pelo entorpecimento. É suposto que se essas pessoas não cometeram ofensas contra a lei penal elas não tem necessidade de sufocar a voz da consciência, e que a vida levada por pessoas que habitualmente se entorpecem é uma vida muito boa, e seria precisamente a mesma se eles não se entorpecessem. É suposto que o uso constante de entorpecentes nem sequer obscurece suas consciências.
Embora todo mundo saiba por experiência que o estado de espírito de um homem é alterado pelo uso de vinho ou tabaco, que ele não sente vergonha de coisas que se não fosse o estimulante ele sentiria, que após cada pontada de consciência, mesmo que pequena, ele é inclinado a recorrer a algum entorpecente, e que sob a influência de entorpecentes é difícil refletir sobre sua vida e posição, e que o uso constante e regular de entorpecentes produz o mesmo efeito fisiológico que seu uso ocasional e imoderado – ainda apesar de tudo isso parece aos homens que bebem e fumam moderadamente que eles não usam entorpecentes de forma alguma para sufocar a consciência, mas apenas pelo gosto ou pelo prazer.
Mas alguém precisa apenas pensar no assunto séria e imparcialmente – sem tentar se desculpar – para entender,
1. primeiro, que se o uso de entorpecentes em doses grandes e ocasionais sufoca a consciência, seu uso regular deve ter um efeito parecido (sempre primeiro intensificando e então reduzindo a atividade do cérebro) se eles são tomados em doses pequenas ou grandes.
2. segundo, que todos entorpecentes têm a qualidade de sufocar a consciência, e o têm sempre [inerentemente] – tanto quando sob sua influência assassinatos, roubos e estupros são cometidos, e quando sob sua influência são ditas palavras que não teriam sido ditas, ou são pensadas e sentidas coisa que exceto devido a eles não teriam sido pensadas e sentidas; e,
3. terceiro, que se o uso de entorpecentes é necessário para pacificar e sufocar as consciências de assaltantes, ladrões e prostitutas, também é desejado por pessoas engajadas em ocupações condenadas por sua própria consciência, mesmo que essas ocupações possam ser consideradas apropriadas e dignas por outras pessoas.
Numa palavra, é impossível evitar o entendimento de que o uso de entorpecentes, em grandes ou pequenas quantidades, ocasional ou regularmente, nos círculos altos ou baixos da sociedade, é evocado pela mesma causa, a necessidade de sufocar a voz da consciência em ordem de não estar ciente da discórdia existente entre o modo de vida e as demandas da consciência.
III
Nisso apenas está o motivo do uso difundido de todas substâncias entorpecentes, e entre as demais o tabaco – provavelmente a mais geralmente usada e mais nociva.
Supõe-se que o tabaco anima as pessoas, clareia os pensamentos e atrai alguém meramente como qualquer outro hábito – de qualquer modo sem produzir o amortecimento da consciência produzido pelo vinho.
Mas você precisa apenas observar atentamente as condições sob as quais um especial desejo de fumar surge, e você estará convencido de que se entorpecer com tabaco atua na consciência como o vinho, e que as pessoas conscientemente recorrem a este método de entorpecimento somente quando necessitam disso para tal propósito.
Se o tabaco meramente clareasse os pensamentos e animasse as pessoas, não haveria esse desejo apaixonado por ele, um desejo que se mostra só em certas ocasiões definitivas. As pessoas não diriam, como fazem, que elas preferem passar sem pão que sem tabaco, e não iriam muitas vezes preferir realmente tabaco a comida.
Aquele cozinheiro que assassinou sua amante disse que quando ele entrou no quarto e cortou sua garganta com sua faca e ela caiu com um rasgo na garganta e o sangue derramou numa torrente – ele perdeu a coragem. “Eu não podia acabar com ela,” ele disse, “mas eu voltei do quarto para a sala e sentei ali e fumei um cigarro.”
Só após se entorpecer com tabaco ele foi capaz de retornar ao quarto, terminou de cortar a garganta da fulher, e começou a examinar suas coisas.
Evidentemente o desejo de fumar naquele momento foi evocado nele, não por um desejo de clarear seus pensamentos ou de ficar alegre, mas pela necessidade de sufocar algo que preveniu ele de completar o que ele havia planejado.
Qualquer fumante pode detectar em si próprio o mesmo desejo definitivo de se entorpecer com tabaco em certos momentos especialmente difíceis.
Recordo os dias em que eu costumava fumar: quando foi que eu senti uma necessidade especial de tabaco? Era sempre em momentos quando eu não desejava lembrar de certas coisas que se apresentavam a minha lembrança, quando eu desejava esquecer – não pensar.
1. Sento-me sem fazer nada e sei que deveria começar a trabalhar, mas não me sinto inclinado a fazê-lo, então eu fumo e continuo sentado.
2. Prometi estar na causa de alguém às cinco e ponto, mas fiquei tempo demais em outro lugar. Lembro que perdi o compromisso, mas não gosto de lembrar, então eu fumo.
3. Fico irritado e digo coisas desagradáveis a alguém, e sei que estou fazendo errado e vejo que devo parar, mas quero dar vazão à minha irritabilidade – então eu fumo e continua irritável.
4. Jogo cartas e perco mais do que pretendia arriscar – então eu fumo.
5. Coloquei-me numa posição estranha, agi mal, cometi um erro, e devo reconhecer a confusão em que estou e assim escapar dela, mas não gosto de reconhecê-la, então eu acuso outros – e fumo.
6. Escrevo algo e não estou muito satisfeito com o que escrevi. Eu devo abandoná-lo, mas quero terminar o que planejei – então eu fumo.
7. Participo de um debate, e vejo que meu oponente e eu não entendemos e não podemos entender um ao outro, mas eu quero expressar minha opinião, então eu continuo a falar – e fumo.
O que distingue o tabaco da maioria dos outros entorpecentes, além da facilidade com que se pode entorpecer a si próprio com ele e de ser aparentemente inofensivo, é sua mobilidade e a possibilidade de aplicá-lo em caso de pequenas, isoladas ocorrências que perturbam o usuário.
Para não mencionar que o uso de ópio, vinho e haxixe envolve o uso de certos equipamentos nem sempre à mão, enquanto se pode sempre carregar tabaco e papel consigo; e que o usuário de ópio e o bêbado provocam horror enquanto um fumante de tabaco não parece absolutamente repulsivo – a vantagem do tabaco sobre outros entorpecentes é que o entorpecimento do ópio, haxixe, ou vinho estende-se a todas as sensações e atos recebidos ou produzidos durante um período de tempo mais ou menos prolongado – enquanto o entorpecimento do tabaco pode ser dirigido a qualquer ocorrência separada.
Você deseja fazer o que não devia, então você fuma um cigarro e se entorpece o suficiente para permitir-se fazer o que não deveria ser feito, e então você está [supostamente] tudo bem novamente, e pode pensar e falar claramente; ou você sente que fez o que não deveria – novamente você fuma um cigarro e a desagradável percepção da ação errada ou inábil é obliterada, e você pode se ocupar com outras coisas e esquecer isso.
Mas além dos casos individuais em que todo fumante recorre ao fumo, não para satisfazer um hábito ou passar o tempo, mas como um meio de sufocar sua consciência com referência a atos que ele está prestes a cometer ou já cometeu, não é evidente o bastante que há uma estrita e definitiva relação entre o modo de viver dos homens e sua paixão por fumar?
Quando os rapazes começam a fumar? Geralmente quando eles perdem sua inocência infantil. Como é que fumantes podem abandonar o fumo quando eles vivem entre condições de viva mais morais, e novamente começam a fumar tão logo eles caem entre um meio depravado? Por que quase todos jogadores fumam? Por que entre as mulheres aquelas que levam uma vida regular fumam menos? Por que as prostitutas e os loucos todos fumam?
Hábito é hábito, mas evidentemente fumar está em alguma ligação com o desejo de sufocar a consciência, e alcança o fim que lhe é exigido.
Pode-se observar no caso quase todo fumante para que extensão fumar abafa a voz da consciência. Todo fumante quando submisso ao seu desejo esquece, ou iguala a zero, as primeiras exigências da vida social – exigências que ele espera que outros observem, e que ele observa em todos os outros casos até sua consciência estar sufocada pelo tabaco.
Todo mundo de educação mediana considera inadmissível, mal-educado, e desumano infringir a paz, o conforto e ainda mais a saúde dos outros pelo seu próprio prazer. Ninguém permitiria a si mesmo molhar uma sala onde as pessoas estão sentadas, ou fazer barulho, gritar, deixar o ar frio, quente, ou mal-cheiroso, ou cometer ações que incomodam ou prejudicam os outros. Mas em mil fumantes nem um vai deixar de produzir fumaça nociva numa sala onde o ar é respirado por mulheres não-fumantes e crianças.
Se os fumantes geralmente dizem aos presentes: “Você não se importa?” todo mundo sabe que a resposta costumeira é: “De modo nenhum” (embora não possa ser agradável a um não-fumante respirar ar infectado, nem encontrar pontas de cigarro fedorentas em copos e taças ou em pratos e castiçais, ou mesmo em cinzeiros).[3]
Mas mesmo se adultos não-fumantes não se importam com o uso de tabaco, este não pode ser agradável ou bom para as crianças cujo consentimento ninguém pede. Até pessoas que são honrosas e humanas em todos os outros aspectos fumam na presença de crianças no jantar em pequenas salas, viciando o ar com a fumaça do tabaco, sem sentir a menor pontada de consciência.
Normalmente é dito (e eu costumava dizer) que fumar facilita o trabalho mental. E isso é indiscutivelmente verdadeiro se se considerar apenas a quantidade de trabalho mental. Para um homem que fuma, e que consequentemente cessa estritamente de avaliar e pesar seus pensamentos, parece como se ele repentinamente tivesse vários pensamentos. Mas isso não é porque ele realmente tem vários pensamentos, mas só porque ele perdeu o controle de seus pensamentos.
Quando um homem trabalha ele está sempre consciente de dois seres em si mesmo: um trabalha, o outro avalia o trabalho. Quanto mais rigorosa a avaliação, mais devagar e melhor é o trabalho; e vice-versa, quando o avaliador está sob influência de algo que o entorpece, mais trabalho é feito, mas sua qualidade é mais pobre.
“Se eu não fumar não consigo escrever. Não consigo chegar lá; eu começo e não consigo continuar”, é o que eu normalmente dizia, e o que eu costumava dizer. O que isso realmente significa? Significa ou que você não tem nada para escrever, ou que aquilo que você deseja escrever ainda não amadureceu na sua consciência mas está apenas começando vagamente a se apresentar para você, e a avaliação crítica de dentro, quando não entorpecida com tabaco, assim lhe diz. Se você não fumar, você iria ou abandonar o que começou, ou esperar até o seu pensamento ter se clareado na sua mente; você tentaria penetrar no que se apresenta vagamente a você, consideraria as objeções que se oferecem, e voltaria toda sua atenção à elucidação do pensamento.
Mas você fuma, o crítico dentro de você é entorpecido, e os obstáculos ao seu trabalho são removidos. O que parecia insignificante para você quando não inebriado pelo tabaco, novamente parece importante; o que parecia obscuro não parece mais assim; as objeções que se apresentaram desaparecem e você continua a escrever, e escreve muito e rapidamente.
IV
Mas pode uma alteração tão pequena – tão trivial – como a intoxicação ligeira produzida pelo uso moderado de vinho ou tabaco produzir consequências importantes?
“Se um homem fuma ópio ou haxixe, ou se intoxica com vinho até cair e perder os sentidos, é claro que as consequências podem ser muito sérias; mas com certeza não pode ter nenhuma consequência séria se um homem apenas fica ligeiramente sob influência do lúpulo ou do tabaco”, é o que normalmente é dito.
Parece às pessoas que um entorpecimento leve, um pequeno obscurecimento do juízo, não pode ter nenhuma influência importante. Mas pensar assim é como supor que golpear um relógio com uma pedra pode danificá-lo, mas que uma pequena sujeira introduzida nele não pode.
Lembre, entretanto, que o principal trabalho atuando na vida inteira do homem não é feito por suas mãos, seus pés, ou suas costas, mas por sua consciência. Antes que um homem possa fazer qualquer coisa com seus pés ou mãos, uma certa alteração tem que acontecer na sua consciência primeiro. E essa alteração define todos os movimentos subsequentes do homem. Porém essas alterações são sempre minúsculas e quase imperceptíveis.
Bryullóv um dia corrigiu o estudo de um aluno. O aluno, tendo olhado para o desenho alterado, exclamou: “Por que, você só tocou um pouquinho, mas está algo completamente diferente”. Bryullóv respondeu: “Arte começa onde começam as pequenas coisas”.
Esta fala é notavelmente verdadeira não só à arte mas à toda vida. Pode-se dizer que a verdadeira vida começa onde começam as pequenas coisas – onde acontece o que nos parece alterações minúsculas e infinitamente pequenas. A verdadeira vida não é vivida onde acontecem grandes mudanças externas – onde as pessoas se movem, se confrontam, lutam e matam umas às outras – é vivida só onde essas minúsculas, minúsculas e infinitamente pequenas mudanças ocorrem.
Raskólnikov não viveu sua verdadeira vida quando assassinou a velha ou a irmã dela. Quando assassinava a velha, e ainda mais quando assassinava a irmã dela, ele não viveu sua verdadeira vida, mas agiu como uma máquina, fazendo o que ele não podia deixar de fazer – descarregar o fardo com o qual ele havia sido carregado. Uma mulher foi morta, outra estava diante dele, a machadinha estava em sua mão.
Raskólnikov viveu sua verdadeira vida não quando ele encontrou a irmã da velha, mas no momento em que ele não havia matado ainda nenhuma delas, nem entrado na residência de uma estranha com a intenção de matar, nem segurado a machadinha em sua mão, nem tinha em seu sobretudo o nó no qual o machado foi pendurado..
Ele viveu sua verdadeira vida quando ele estava deitado no divã em seu quarto, deliberando nada sobre a velha, nem mesmo como saber se é permitido ou não à vontade de um homem de limpar da face da terra outra pessoas, desnecessária e nociva, mas se ele devia livre em Petersburgo ou não, se ele devia aceitar dinheiro da sua mãe ou não, e sobre outras questões em nada relacionadas à velha.
E então – naquela região bastante independente das atividades animais – a questão de se ele mataria ou não a velha foi decidida.
Essa questão foi decidida – não quando, tendo matado a velha, ele esteve diante da outra, com a machadinha em mãos – mas quando ele não estava fazendo nada e estava apenas pensando, quando só sua consciência estava ativa: e naquela consciência minúsculas, minúsculas mudanças estavam acontecendo.
É em momentos assim que se necessita da maior clareza [da mente] para decidir corretamente as questões que surgiram, e é só então que um copo de cerveja, ou um cigarro, pode impedir a solução da questão, pode adiar a decisão, sufocar a voz da consciência e induzir uma decisão da questão em favor da baixa natureza animal – como foi o caso com Raskólnikov.
Minúsculas, minúsculas mudanças – mas delas dependem as mais imensas e terríveis consequências. Muitas mudanças materiais podem resultar do que acontece quando um homem toma uma decisão e começa a agir: casas, riquezas e corpos humanos podem perecer, mas nada mais importante pode acontecer que o que estava escondido na consciência do homem. Os limites do que pode acontecer são definidos pela consciência.
E ilimitados resultados de inimaginável importância podem seguir as mudanças mais ínfimas ocorrendo no domínio da consciência.
Não deixe supor-se que o que estou dizendo tem algo a ver com a questão do livre-arbítrio ou do determinismo. Discutir esse assunto é supérfluo para o meu propósito, ou para qualquer outro desta espécie.
Sem decidir a questão de se um homem pode, ou não pode, agir como ele deseja (uma questão em minha opinião não exposta corretamente), estou meramente dizendo que desde que a atividade humana é condicionada por mudanças infinitesimais na consciência, segue-se (não importa se admitimos a existência do livre-arbítrio ou não) que precisamos prestar particular atenção à condição em que essas mudanças ínfimas acontecem, assim como precisa-se estar especialmente atento à escala em que outras coisas estão para ser pesadas.
Precisamos, na medida em que isso depende de nós, tentar colocar-nos e os outros em condições que não perturbarão a clareza e a delicadeza de pensamento necessárias para o correto trabalho da consciência, e precisamos não agir de maneira contrária – tentando entravar e confundir o trabalho da consciência pelo uso de substâncias entorpecentes.
Pois o homem é um ser espiritual assim como um ser animal. Ele pode ser movido por coisas que influenciam sua natureza espiritual, ou por coisas que influenciam sua natureza animal, como um relógio pode ser movido pelos seus ponteiros ou por sua engrenagem principal. E assim como é melhor regular o movimento de um relógio por meio do seu mecanismo interno, assim um homem – ele mesmo ou outro – é melhor regulado por meio de sua consciência. E como com um relógio precisa-se tomar especial cuidado com aquela peça por meio da qual pode-se mover melhor o mecanismo interno, assim com um homem precisa-se tomar especial cuidado com a clareza e limpeza da consciência que é o que melhor move o homem inteiro.
Duvidar disso é impossível; todo mundo sabe disso. Mas surge uma necessidade de enganar a si mesmo. As pessoas não estão tão inquitas de que a consciência deva funcionar corretamente como estão de que deva parecer a elas que o que fazem é certo, e elas deliberadamente fazem uso de substâncias que perturbam o trabalho apropriado de suas consciências.
V
As pessoas bebem e fumam, não casualmente, não por apatia, não para se alegrarem, não porque isso é prazeroso, mas em ordem de abafar a voz da consciência em si próprias.
E nesse caso, quão terríveis devem ser as consequências!
Pense o que seria um prédio se fosse erguido por pessoas que não usaram um fio-de-prumo para fazer as paredes perpendiculares, nem réguas em L para fazer os cantos corretos, mas usaram uma régua flexível que moldasse a todas as irregularidades nas paredes, e uma régua que se expandisse para se adequar a qualquer ângulo, agudo ou obtuso.
Contudo, graças ao auto-entorpecimento, é exatamente isso que está sendo feito na vida. A vida não está de acordo com a consciência, então a consciência é feita para se curvar à vida.
Isso é feito na vida dos indivíduos, e é feito na vida da humanidade como um todo, a qual consiste na vida dos indivíduos.
Para compreender o completo significado de tal entorpecimento da consciência, deixe cada um recordar cuidadosamente as condições espirituais por que passou em cada período da sua vida. Todo mundo achará que em cada período de sua vida certas questões morais o confrontaram que ele deveria resolver, e em solução da qual todo o bem-estar de sua vida dependia. Para a solução dessas questões grande concentração da atenção foi necessário. Tal concentração da atenção é um trabalho. Em todo trabalho, especialmente no começo, há um tempo em que o trabalho parece difícil e doloroso, e quando a fraqueza humana induz um desejo de abandoná-lo.
Trabalhos físicos parem dolorosos no começo; trabalhos mentais ainda mais. Como Lessing diz: as pessoas são inclinadas a cessar de pensar no ponto em que o pensamento começa a ser difícil; mas é exatamente aqui, eu acrescentaria, que pensar começa a ser frutífero.
Um homem sente que para decidir as questões que o confrontam é preciso trabalho – frequentemente trabalho doloroso – e ele deseja escapar disso. Se ele não tivesse meios de entorpecer suas faculdades ele não poderia expulsar da sua consciência as questões que o confrontam , e a necessidade de resolvê-las seria forçada sobre ele.
Mas o homem descobre que existe um meio de afugentar essas questões quando quer que elas se apresentem – e ele o usa.
Tão logo as questões aguardando solução começam a atormentá-lo, ele recorre a esses meios, e evita a inquietude evocada pelas questões incômodas. A consciência cessa de exigir sua solução, e as questões não resolvidas permanecem assim até o próximo período de esclarecimento.
Mas quando esse período chega, a mesma coisa se repete, e o homem segue por meses, anos, ou mesmo por sua vida inteira, diante daquelas mesmas questões morais e sem mover um passo em direção a sua solução. Contudo é na solução das questões morais que todo o movimento da vida consiste.
O que ocorre é como se um homem que precisa ver o fundo de alguma água lamacenta para obter uma pérola preciosa, mas que não gosta de entrar na água, a agitasse cada vez que começasse a estabilizar-se e a tornar-se clara. Muitos homens continuam a se entorpecer por toda a vida, e permanecer imóveis na mesma visão de vida fixa, obscura e contraditória – batendo, quando cada período de esclarecimento o aborda, sempre numa mesma parede contra a qual ele bateu por dez ou vinte anos, e que ele não pode romper porque intencionalmente cega aquela ponta de pensamento que só ela poderia perfurá-la.
Deixe cada homem relembrar como ele tem passado durante os anos de bebedor ou fumante, e deixe ele testar a questão em sua experiência de outras pessoas, e todo mundo verá uma linha constante e precisa dividindo aqueles que são viciados a entorpecentes daqueles que são livres deles. Quanto mais um homem se entorpece mais ele é moralmente imóvel.
VI
Terrível, como são descritas a nós, são as consequências do ópio e do haxixe nos indivíduos; terrível, como as conhecemos, são as consequências do álcool aos bêbados flagrantes; mas incomparavelmente mais terríveis em toda nassa sociedade são as consequências do que é considerado o inofensivo, moderado uso de aguardente, vinho, cerveja e tabaco, a que a maioria dos homens, e especialmente nossas assim-chamadas classes cultas, são viciados.
As consequências necessitam naturalmente ser terríveis, admitindo o fato, que necessita ser admitido, de que as atividades que guiam a sociedade – políticas, oficiais, científicas, literárias e artísticas – são conduzidas na maior parte por pessoas num estado anormal: por pessoas que estão embriagadas.
Geralmente é suposto que um homem que, como a maioria das pessoas das nossas classes abastadas, toma uma bebida alcoólica quase toda vez que come, está numa condição perfeitamente normal e sóbria no dia seguinte, durante as horas de trabalho. Mas isso é um grande erro. Um homem que bebeu uma carrafa de vinho, um copo de aguardente, ou dois copos de cerveja, ontem, está agora no usual estado de sonolência ou depressão que segue a excitação, e portanto numa condição de prostração mental, que é aumentada ao fumar.
Para um homem que habitualmente fuma e bebe com moderação, trazer seu cérebro a uma condição normal exigiria no mínimo uma semana ou mais de abstinência de vinho e tabaco. Mas isso quase nunca ocorre.[4]
De modo que a maioria do que acontece entre nós, seja feito por pessoas que comandam e ensinam outras, ou por aquelas que são comandadas e ensinadas, é feita quando os agentes não estão sóbrios.
E não deixe isso ser tomado como uma piada ou um exagero. A confusão, e acima de tudo a imbecilidade, de nossas vidas, surgem principalmente do constante estado de intoxicação em que a maioria das pessoas vive. Poderiam pessoas que não estão embriagadas possivelmente fazer tudo que está sendo feito ao nosso redor desde construir a Torre Eiffel a aceitar o serviço militar?
Sem qualquer necessidade, uma empresa é formada, capital é coletado, homens trabalham, fazem cálculos, e desenham planos; milhões de jornadas de trabalho e milhares de toneladas de ferro são gastas para construir uma torre; e milhões de pessoas consideram seu dever subi-la, parar um pouco sobre ela, e então descer de novo; e a construção e visitação dessa torre evoca nenhuma outra reflexão além de um desejo e intensão de construir outras torres, em outros lugares, ainda maiores. Poderiam pessoas sóbrias agir assim?
Ou tome outro caso. A duzias de anos atrás todos os povos europeus estavam ocupados elaborando as melhores formas de matar pessoas, e ensinando tantos jovens quanto possível, tão logo eles atingiam a virilidade, como assassinar. Todo mundo sabe que não pode haver invasão de bárbaros, mas que essas preparações feitas por diferentes nações civilizadas e cristãs são direcionadas umas às outras; todo mundo sabe que isso é opressivo, doloroso, inconveniente, desastroso, imoral, ímpio, e irracional, mas todo mundo continua a se preparar para o assassinato mútuo.
Alguns elaboram combinações políticas para decidir que irá matar quem e com que aliados, outros dirigem aqueles que estão sendo ensinados a assassinar, e outros ainda cedem – contra sua vontade, contra sua consciência, contra sua razão – a essas preparações para o assassinato.
Poderiam pessoas sóbrias fazer essas coisas? Só bêbados que nunca atingiram um estado de sobriedade poderiam fazê-lo e viver no horrível estado de discórdia entre vida e consciência em que, não só nesse mas em todos os outros aspectos, as pessoas da nossa sociedade estão vivendo agora.
Nunca antes, suponho, as pessoas viveram com as demandas da sua consciência tão evidentemente em contradição com seus atos.
A humanidade hoje é como se estivesse presa firmemente. É como se uma causa externa a impedisse de ocupar uma posição de natural acordo com suas percepções. E a causa – se não a única, então certamente a maior – é essa condição física de entorpecimento induzido pelo vinho e pelo tabaco à qual a grande maioria das pessoas em nossa sociedade se reduzem.
A emancipação desse terrível mal será uma época na vida da humanidade; e essa época parece estar à mão. O mal está reconhecido. Uma mudança já aconteceu em nossas percepção relativo ao uso de substâncias entorpecentes. As pessoas entenderam o terrível dano dessas coisas e estão começando a apontá-los, e essa mudança quase despercebida na percepção provocará inevitavelmente a emancipação dos homens do uso de entorpecentes, permitirá-lhes abrir os olhos às demandas das suas consciências, e eles começarão a ordenar suas vidas de acordo com suas percepções.
E isso parece estar já começando. Mas como sempre está começando entre as classes superiores só depois que todas as classes inferiores já foram infectadas.