A presença anarquista na américa central segundo suas fontes documentais (1910-1930)

O anarquismo é uma corrente de pensamento e ação que busca a substituição do princípio de autoridade como forma de regulação da sociedade, por um sistema regido pela vontade, pela cooperação e pela participação direta das pessoas envolvidas na gestão global da vida social. Para conseguir isso é vital desenvolver um movimento social amplo e generalizado que proponha mecanismos concretos de redistribuição total do poder em um território determinado. Motivar essa transformação, dar uma base social e criar ferramentas políticas para desencadear esse processo revolucionário foram algumas das tarefas práticas do anarquismo no transcurso de sua história.

Sobre as origens sócio-históricas deste movimento, existem distintas interpretações investigativas que se sobrepuseram e foram confundidas desde meados do século XIX, tornando muitas vezes difícil distinguir com clareza as fronteiras próprias do anarquismo como doutrina. Propor esse debate e dar-lhe alguns contornos básicos é imprescindível para todo historiador que queira entrar a fundo nas vicissitudes da investigação social desse movimento desde uma perspectiva dinâmica, internacional e com múltiplos níveis, como será apresentada neste texto. De forma geral, é possível distinguir duas abordagens principais na historiografia do anarquismo, que inclui trabalhos de acadêmicos profissionais, artistas e militantes. A primeira conceitua o anarquismo como um sentimento natural do ser humano de revolta e recusa à dominação, que estaria representado ao longo de toda a história por alguns movimentos e lideranças específicas. Sob essa interpretação, as origens do anarquismo não teriam uma territorialização específica, mas antes seriam uma forma de consciência de protesto que está latente em toda sociedade regida pela autoridade e organizada hierarquicamente. Essa interpretação tem seus antecedentes no livro clássico de Paul Eltzbacher, publicado em 1900, no qual oautor rastreia o anarquismo dentro das expressões de revoltana Grécia, em Roma, na Idade Média e nas seitas gnósticas. Segundo sua argumentação, cada um dos movimentos formaria parte de uma espécie de genealogia ácrata que se transmitiria no inconsciente coletivo popular durante vários séculos na Europa. As antologias documentais que seguemessa perspectiva historiográfica são muitas e se converteramna visão dominante sobre o movimento até a atualidade.