Zenão de Cítio

Zenao-de-Citio

Zenão de Cítio (em grego: Ζήνων ὁ Κιτιεύς, transl. Zēnōn ho Kitieŭs; Cítio, 333 a.C. — Atenas, 263 a.C.) foi um filósofo da Grécia Antiga. Nasceu na ilha de Chipre. Lecionou em Atenas, onde fundou a escola filosófica estoica por volta de 300 a.C. Com base nas ideias dos cínicos, o estoicismo(*1*) enfatizava a paz de espírito, conquistada através de uma vida plena de virtude, de acordo com as leis da natureza. O estoicismo floresceu como a filosofia predominante no mundo greco-romano até o advento do cristianismo.

Vida

Zenão nasceu em Cítio, na ilha de Chipre. Possuía origem fenícia1. A maioria dos detalhes que se sabem acerca da sua vida foram preservados por Diógenes Laércio na sua obra Vidas e Opiniões de Filósofos Eminentes. Diógenes relata a lenda segundo a qual Zenão seria um comerciante e que, após sobreviver a um naufrágio na costa da Ática, teria sido atraído por alguns escritos sobre Sócrates a um local de compra de livros em Atenas, para onde se teria transferido por volta de 312 ou 311 a.C. Teria perguntado como poderia encontrar tal homem. Em resposta, o livreiro teria indicado Crates de Tebas, o mais famoso cínico vivo naquele tempo na Grécia.

Zenão é descrito como tendo uma aparência desgastada e bronzeada, levando uma vida simples e ascética. Isto coincide com os ensinamentos do cinismo, que foram, pelo menos em parte, continuados na sua filosofia estoica.

Em Atenas, Zenão foi discípulo de Crates de Tebas e estudou os antigos filósofos (dentre estes, Heráclito de Éfeso, que muito o influenciou). Teve também influência da escola megárica, incluindo Estílpon, e dos dialéticos Diodoro Cronos, e Fílon. Também é referido ter estudado filosofia platônica sob direção de Xenócrates, e Polemão.

Zenão começou os seus ensinamentos nos pórticos cobertos da ágora de Atenas conhecidos como Stoà Poikíle, em 301 a.C.. Os seus discípulos foram conhecidos inicialmente como zenonianos, mas, eventualmente, começaram a ser denominados estoicos, um nome previamente aplicado a poetas que se congregavam na Stoà Poikíle.

Entre os admiradores de Zenão, encontrava-se Antígono II Gónatas da Macedónia, que, sempre que vinha a Atenas, visitava Zenão. É referido que Zenão terá recusado um convite para visitar Antígono na Macedónia, apesar de a sua correspondência preservada por Laércio ser uma invenção de um retórico posterior. Zeno teria enviado o seu amigo e discípulo Perseu de Cítio, que viveu na casa de Zenão. Entre outros discípulos de Zenão, encontravam-se Aristo de Cítio, Sphaerus e Cleantes de Assos, que sucedeu Zenão como escolarca (líder da academia) da escola estóica de Atenas.

Filosofia

Seguindo as ideias da Academia platónica, Zenão propôs uma tripartição na filosofia: lógica (incluindo retórica, gramática e as teorias da percepção e pensamento), física (não apenas do ponto de vista de ciência, mas também a natureza divina do universo) e ética. A lógica fornece um critério de verdade. A física constitui um materialismo monista(*2*) e panteísta(*3*). A ética regula as ações humanas, cujo objetivo é a conquista da felicidade. Esta deve ser perseguida “segundo a natureza”.

A doutrina filosófica de Zenão de Cítio afirma que o ser humano atinge a plenitude e a felicidade quando abandona todas as paixões terrenas, contrariedades, aborrecimentos e desassossegos. Para Zenão, a única forma de viver sem essas contrariedades é viver em ataraxia ou apatia, ou seja, abandonado ao destino, impassivamente, nada receando e nada esperando.

Apesar de compartilhar diversos conceitos básicos da filosofia de Epicuro de Samos, Zenão e o estoicismo em geral divergem do epicurismo por entender que a virtude, e não o prazer, constitui o bem supremo. Além disso, consideram que o princípio-chave do universo é a lei racional da natureza, e não e o movimento aleatório dos átomos.

Porque as ideias de Zenão foram trabalhadas posteriormente por Crisipo de Solis e outros estóicos, pode ser difícil determinar, em algumas temáticas, precisamente o que pensava, mas a sua visão geral pode ser resumida abaixo.

Física

O universo, na visão de Zenão, é Deus: uma entidade divina racional, onde todas as partes pertencem ao todo. Neste sistema panteísta, ele incorpora a física de Heráclito; o universo contém fogo-artesão divino, que controla todas as coisas e que, estando imerso em todo o universo, deve produzir todas as coisas.

Este fogo divino ou éter, é a base de toda a atividade no Universo, operando em matéria anteriormente passiva, ela própria nem aumentando nem diminuindo. A substância primária no universo vem do fogo, passa pelo estado de ar, e depois torna-se água: a parte mais concentrada torna-se terra e a menos concentrada torna-se ar novamente, rarefazendo-se de novo em fogo. As almas individuais fazem parte do mesmo fogo, como a alma-mundo do universo. Seguindo Heráclito, Zenão adaptou a visão de que o universo passou por ciclos regulares de formação e destruição.

A natureza do universo é tal que realiza o que é certo e previne o que é oposto, e é identificado como destino incondicional, ao mesmo tempo permitindo o livre-arbítrio que lhe é atribuído.

Zenão, retratado por um académico medieval na Crónica de Nuremberga
Zenão, retratado por um académico medieval na Crónica de Nuremberga

Ética

Como os cínicos, Zenão reconhecia um bem único e simples que seria o único motivo a ser atingido. “A felicidade é um fluxo de vida bom,” disse Zenão, e isto apenas pode ser atingido através do uso da razão correta coincidente com a razão universal (logos), que tudo governa. Um mau sentimento (pathos) “é um distúrbio da mente repugnante à razão e contra a natureza.” Esta essência a partir da qual as acções moralmente boas emergem é a virtude. O verdadeiro bem pode apenas consistir em virtude.

*1* Estoicismo
O estoicismo (do grego Στωικισμός) é uma escola de filosofia helenística fundada em Atenas por Zenão de Cítio no início do século III a.C. Os estoicos ensinavam que as emoções destrutivas resultam de erros de julgamento, e que um sábio, ou pessoa com “perfeição moral e intelectual”, não sofreria dessas emoções. O estoicismo afirma que todo o universo é corpóreo e governado por um Logos divino (noção que os estoicos tomam de Heráclito e desenvolvem). A alma está identificada com este princípio divino como parte de um todo ao qual pertence. Este logos (ou razão universal) ordena todas as coisas: tudo surge a partir dele e de acordo com ele, graças a ele o mundo é um kosmos (termo grego que significa “harmonia”).

*2* Monismo
Do grego μόνος mónos, “sozinho, único” é o nome dado às teorias filosóficas que defendem a unidade da realidade como um todo (em metafísica) ou a identidade entre mente e corpo (em filosofia da mente) por oposição ao dualismo ou ao pluralismo, à afirmação de realidades separadas.

*3* Panteísmo
É a crença de que absolutamente tudo e todos compõem um Deus abrangente e imanente,1 ou que o Universo (ou a Natureza) e Deus são idênticos.2 Sendo assim, os adeptos dessa posição, os panteístas, não acreditam num deus pessoal, antropomórfico ou criador.

Obras

Nenhum dos escritos de Zenão sobreviveu, exceto citações fragmentárias preservadas por escritores posteriores. Os títulos de muitos delas são, no entanto, conhecidos:

Escritos sobre ética:
Πολιτεία – República
ἠθικά – Ética
περὶ τοῦ κατὰ φύσιν βίου – Sobre o de acordo com a natureza
περὶ ὁρμῆς ἧ περὶ ἁνθρώρου φύσεως – Sobre o impulso, ou sobre a natureza dos humanos
περὶ παθῶν – Sobre as paixões
περὶ τοῦ καθήκοντος – Sobre o dever
περὶ νόμου – Sobre a lei
περὶ Έλληνικῆς παιδείας – Sobre a educação grega
ἐρωτικὴ τέχνη – A arte do amor
Escritos sobre física:
περὶ τοῦ ὅλου – Sobre o universo
περὶ οὐσίας – Sobre o ser
περὶ σημείων – Sobre os símbolos
περὶ ὄψεως – Sobre a visão
περὶ τοῦ λόγου – Sobre o logos
Escritos sobre lógica:
διατριϐαί – Discursos
περὶ λεξεως – Sobre o estilo verbal
λύσεις, ἔλεγχοι – Soluções e refutações

Outras obras:
περὶ ποιητικῆς ἀκροάσεως – Sobre leituras poéticas
προϐλημάτων Όμηρικῶη πέντε – Problemas homéricos
καθολικά – Assuntos gerais
Άπομνημονεύματα Κράτητος – Reminiscências de Crates
Πυθαγορικά – Doutrinas pitagóricas

A mais famosa destas obras foi A República, escrita em imitação ou oposição a Platão. Apesar de não ter sobrevivido, mais é conhecido acerca desta sua obra do que sobre qualquer outra obra sua. Apresenta a visão de Zenão sobre a sociedade estoica ideal, construída sob princípios de igualdade.

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