Shusui Kotoku

Shusui-Kotoku

Shūsui Denjiro Kōtoku (1871 – 1911) foi um anarquista japonês que teve um papel fundamental na introdução do anarquismo enquanto filosofia política, no Japão, no início do século XX, especialmente por traduzir obras de anarquistas europeus contemporâneos, como Piotr Kropotkin, para a língua japonesa. Foi um jornalista libertário um mártir do anarquismo em seu país já que foi injustamente executado por traição pelo governo japonês por seu suposto envolvimento no episódio que ficou conhecido como incidente Kotoku.

Socialismo e prisão

Kotoku muda-se de seu lugar de nascimento, a cidade de Nakamura na província de Kochi, para Tóquio na metade de sua adolescência se convertendo precocemente em jornalista no ano de 1893. A partir deste ano torna-se colunista do “Toda Manhã”, um dos jornais mais radicais da época, imediatamente se demite assim que o periódico muda sua postura em favor da guerra russo-japonesa. No mês seguinte funda junto com Toshihiko Saka, outro jornalista do “Toda Manhã”, o jornal Heimin Shimbun (“A Plebe“). Abertamente contra a guerra este diário deixa clara sua postura de depreciação diante das leis de imprensa gerando problemas entre este e o governo em inúmeras ocasiões. Por conta destes problemas Kõtoku é preso e condenado a cinco meses de prisão de Fevereiro a Julho de 1905.

Influência do anarquismo americano

Em 1901, quando Kõtoku tenta fundar o Partido Social Democrata Japonês com Sakai, ainda não era anarquista, mas sim um social-democrata ,de fato, Sakai e Kõtoku foram os primeiros a traduzir O Manifesto Comunista para o japonês, que apareceu em um artigo do jornal Heimin Shimbun. Por sua tradução e divulgação ambos receberam pesadas multas. Gradualmente seu pensamento político se transformou de socialismo estatal à filosofia libertaria quando leu “Campos, fábricas e oficinas” de Piotr Kropotkin na prisão. Em suas próprias palavras, “havia ido (preso) como um socialista marxista e regressara como um anarquista radical”.

Em Novembro de 1905 Kotoku viajou aos Estados Unidos com o objetivo de criticar livremente o Imperador do Japão, considerado por ele o Eixo central do capitalismo japonês. Durante sua estada nos EUA o anarcossindicalismo e o anarcocomunismo, ambas vertentes do anarquismo que estavam se tornando cada vez mais influentes nos contextos dos Estados Unidos e da Europa.

Tomou as “Memórias de um revolucionário” de Kropotkin como leitura de viagem pelo Oceano Pacífico, quando chegou à Califórnia, começou a se corresponder com o anarquista russo e em 1909 traduziu “A conquista do pão” do inglês para o japonês. Mil cópias de sua tradução foram publicadas no Japão em Marzo deste mesmo ano e distribuídas entre estudantes e trabalhadores.

Retorno ao Japão

Em 28 de Junho de 1906 retorna ao Japão onde foi celebrado um mitin de boas vindas em sua homenagem. Neste Kõtoku discursa sobre a “Maré do Movimento Revolucionário no Mundo”, sobre o qual disse que fluía contra a política parlamamentar (a constar, a política marxista dos partidos) em favor da greve geral como “a chave para o futuro da revolução”. Tal visão comum entre os defensores do anarcossindicalismo, era àquela época, muito comum nos Estados Unidos após a fundação da Industrial Workers of the World. Neste mitin deixara claro a influência americana em sua visão libertária.

A este discurso se seguiram uma série de artigos, sendo o mais conhecido deles o de chamado “A mudança em meu pensamento (no sufrágio universal)”. Nestes artigos Kõtoku passara a defender a ação direta em lugar de meios parlamentares e o sufrágio universal como forma de atingir aos objetivos políticos. Tal mudança gerou um choque em muitos de seus companheiros provocando uma divisão entre os anarquistas, comunistas e social-democratas japoneses do movimento operário. Esta separação se fez mais evidente no fechamento do jornal Heimin Shimbun em Abril de 1907, e sua substituíção dois meses depois por duas revistas: a social democrata “Notícias Sociais” e o jornal Osaka Heimin Shimbun (“A Plebe de Osaka”) que defendia uma posição anarquista, em favor da Ação Direta.

Perseguição e execução

Ainda que a maioria dos anarquistas preferissem meios pacíficos, como a difusão de propaganda, muitos outros neste período passaram a empregar ações violentas como meio de alcançar a revolução e o comunismo libertário ou, o ao menos golpear o estado e as autoridades. A repressão à publicações e organizações, como o Partido Socialista do Japão, e “a Lei Policial da Paz Pública”, que proibiu as organizações sindicais e as greves, são dois exemplos da nova tendência no Japão. Contudo, o único incidente grave foi quando quatro anarquistas foram detidos por posse de material explosivo. Ainda que os ataques não haviam sido levados a cabo, em 18 de Janeiro de 1911 vinte e seis anarquistas foram declarados culpados por complô para assassinar o imperador, ainda que somente quatro dos detidos estavam comprovadamente envolvidos em um projeto de atentado contra a vida do Imperador. Kõtoku foi condenado junto com outros 10 companheiros em 24 de Janeiro de 1911. Sua companheira Kanno Suga foi executada no dia seguinte sem quaisquer provas ou julgamento. Este episódio ficou conhecido como Incidente Kōtoku (Kōtoku Jiken) entre os anarquistas, e Incidente da Alta Traição (Taigyaku Jiken) pelo governo.