Friedrich Nietzsche
Friedrich Wilhelm Nietzsche (Röcken, 15 de Outubro de 1844 — Weimar, 25 de Agosto de 1900) foi um influente filósofo alemão do século XIX.
Biografia
Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu numa família luterana em 15 de outubro de 1844, filho de Karl Ludwig, seus dois avós eram pastores protestantes; o próprio Nietzsche pensou em seguir a carreira de pastor. Entretanto, Nietzsche rejeita a “fé” (religião/crença religiosa) durante sua adolescência, e os seus estudos de filosofia afastam-no da carreira teológica. Iniciou seus estudos no semestre de Inverno de 1864-1865 na Universidade de Bonn em Filologia clássica e Teologia evangélica. Em Bonn, participou da Burschenschaft Frankonia, a qual acabou abandonando em razão de atrapalhar seus estudos. Por diferentes motivos transfere-se depois para Universidade de Leipzig, mas isso se deve, acima de tudo, à transferência do Prof. Friedrich Wilhelm Ritschl (figura paterna para Nietzsche) para essa Universidade. Durante os seus estudos na universidade de Leipzig, a leitura de Schopenhauer (O Mundo como Vontade e Representação, 1820) vai constituir as premissas da sua vocação filosófica. Aluno brilhante, dotado de sólida formação clássica, Nietzsche é nomeado aos 24 anos professor de Filologia na universidade de Basileia. Adota então a nacionalidade suíça. Desenvolve durante dez anos a sua acuidade filosófica no contacto com o pensamento grego antigo – com predileção para os Pré-socráticos, em especial para Heráclito e Empédocles. Durante os seus anos de ensino, torna-se amigo de Jacob Burckhardt e Richard Wagner. Em 1870, compromete-se como voluntário (médico) na guerra franco-prussiana. A experiência da violência e o sofrimento chocam-no profundamente.
Nietzsche em agosto de 1868.
Em 1879 seu estado de saúde obriga-o a deixar o posto de professor. Sua voz, inaudível, afasta os alunos. Começa então uma vida errante em busca de um clima favorável tanto para sua saúde como para seu pensamento (Veneza, Gênova, Turim, Nice, Sils-Maria…): “Não somos como aqueles que chegam a formar pensamentos senão no meio dos livros – o nosso hábito é pensar ao ar livre, andando, saltando, escalando, dançando (… ).” Em 1882 ele encontra Paul Rée e Lou Andreas-Salomé, a quem pede em casamento. Ela recusa, após ter-lhe feito esperar sentimentos recíprocos. No mesmo ano, começa a escrever o Assim Falou Zaratustra, quando de uma estada em Nice. Nietzsche não cessa de escrever com um ritmo crescente. Este período termina brutalmente em 3 de Janeiro de 1889 com uma “crise de loucura” que, durando até a sua morte, coloca-o sob a tutela da sua mãe e sua irmã. No início desta loucura, Nietzsche encarna alternativamente as figuras de Dionísio e Cristo, expressa em bizarras cartas, afundando depois em um silêncio quase completo até a sua morte. Uma lenda dizia que contraiu sífilis. Estudos recentes se inclinam antes para um cancro no cérebro, que eventualmente pode ter origem sifilítica. Após sua morte, sua irmã, Elisabeth Förster-Nietzsche e Peter Gast, dileto amigo do filósofo, segundo um plano de Nietzsche, datado de 17 de março de 1887, efetuaram uma coletânea de fragmentos póstumos para compor a obra conhecida como Vontade de Poder. Essa obra foi, amiúde, acusada de ser uma deturpação nazista; tal afirmação mostrou-se inverídica, frente as comparações com a edição crítica alemã, como denotaram os tradutores da nova tradução para o português, e especialmente o filósofo Gilvan Fogel, que afirmou que é preciso que se enfatize: os textos são autênticos. Todos são da cunhagem, da lavra de Nietzsche. Não foram, como já se disse e se insinuou, distorcidos ou adulterados pelos organizadores.
Durante toda a vida sempre tentou explicar o insucesso de sua literatura, chegando a conclusão de que nascera póstumo, para os leitores do porvir. O sucesso de Nietzsche, entretanto, sobreveio quando um professor dinamarquês leu a sua obra Assim Falou Zaratustra e, por conseguinte, tratou de difundi-la, em 1888.
Muitos estudiosos da época tentaram localizar os momentos que Nietzsche escrevia sob crises nervosas ou sob efeito de drogas (Nietzsche estudou biologia e tentava descobrir sua própria maneira de minimizar os efeitos da sua doença).
Obra
A cultura ocidental e suas religiões assim como a moral judaico-cristã foram temas comuns em suas obras. Nietzsche se apresenta como alvo de muitas críticas na história da filosofia moderna, isto porque, primariamente, há certas dificuldades de entendimento na forma de apresentação das figuras e/ou categorias ao leitor ou estudioso, causando confusões devido principalmente aos paradoxos dos conceitos de realidade ou verdade.
Nietzsche, sem dúvida considera o Cristianismo e o Budismo como “as duas religiões da decadência”, embora ele afirme haver uma grande diferença nessas duas concepções. O budismo para Nietzsche “é cem vezes mais realista que o cristianismo”. Religiões que aspiram ao Nada, cujos valores dissolveram a mesquinhez histórica. Não obstante, também se auto-intitula ateu:
“Para mim o ateísmo não é nem uma consequência, nem mesmo um fato novo: existe comigo por instinto” (Ecce Homo, pt.II, af.1)
A crítica que Nietzsche faz do idealismo metafísico focaliza as categorias do idealismo e os valores morais que o condicionam, propondo uma outra abordagem: a genealogia dos valores.
Friedrich Nietzsche pretendeu ser o grande “desmascarador” de todos os preconceitos e ilusões do gênero humano, aquele que ousa olhar, sem temor, aquilo que se esconde por trás de valores universalmente aceitos, por trás das grandes e pequenas verdades melhor assentadas, por trás dos ideais que serviram de base para a civilização e nortearam o rumo dos acontecimentos históricos. E assim a moral tradicional, e principalmente esboçada por Kant, a religião e a política não são para ele nada mais que máscaras que escondem uma realidade inquietante e ameaçadora, cuja visão é difícil de suportar. A moral, seja ela kantiana ou hegeliana, e até a catharsis aristotélica são caminhos mais fáceis de serem trilhados para se subtrair à plena visão autêntica da vida.
Nietzsche criticou essa moral que leva à revolta dos indivíduos inferiores, das classes subalternas e escravas contra a classe superior e aristocrática que, por um lado, pela adoção dessa mesma moral, sofre de má consciência e cria a ilusão de que mandar é por si mesmo é adotar essa moral.
A vida só se pode conservar e manter-se através de imbricações incessantes entre os seres vivos, através da luta entre vencidos que gostariam de sair vencedores e vencedores que podem a cada instante ser vencidos e por vezes já se consideram como tais. Neste sentido a vida é vontade de poder ou de domínio ou de potência. Vontade essa que não conhece pausas, e por isso está sempre criando novas máscaras para se esconder do apelo constante e sempre renovado da vida; pois, para Nietzsche, a vida é tudo e tudo se esvai diante da vida humana. Porém as máscaras, segundo ele, tornam a vida mais suportável, ao mesmo tempo em que a deformam, mortificando-a à base de cicuta e, finalmente, ameaçam destruí-la.
Não existe vida média, segundo Nietzsche, entre aceitação da vida e renúncia. Para salvá-la, é mister arrancar-lhe as máscaras e reconhecê-la tal como é: não para sofrê-la ou aceitá-la com resignação, mas para restituir-lhe o seu ritmo exaltante, o seu merismático júbilo.
O homem é um filho do “húmus” e é, portanto, corpo e vontade não somente de sobreviver, mas de vencer. Suas verdadeiras “virtudes” são: o orgulho, a alegria, a saúde, o amor sexual, a inimizade, a veneração, os bons hábitos, a vontade inabalável, a disciplina da intelectualidade superior, a vontade de poder. Mas essas virtudes são privilégios de poucos, e é para esses poucos que a vida é feita. De fato, Nietzsche é contrário a qualquer tipo de igualitarismo e principalmente ao disfarçado legalismo kantiano, que atenta o bom senso através de uma lei inflexível, ou seja, o imperativo categórico: “Proceda em todas as suas ações de modo que a norma de seu proceder possa tornar-se uma lei universal”.
Essas críticas se deveram à hostilidade de Nietzsche em face do racionalismo que logo refutou como pura irracionalidade. Para ele, Kant nada mais é do que um fanático da moral, uma tarântula catastrófica.
Friedrich Nietzsche em 1861.
Para Nietzsche o homem é individualidade irredutível, à qual os limites e imposições de uma razão que tolhe a vida permanecem estranhos a ela mesma, à semelhança de máscaras de que pode e deve libertar-se. Em Nietzsche, diferentemente de Kant, o mundo não tem ordem, estrutura, forma e inteligência. Nele as coisas “dançam nos pés do acaso” e somente a arte pode transfigurar a desordem do mundo em beleza e fazer aceitável tudo aquilo que há de problemático e terrível na vida.
Mesmo assim, apesar de todas as diferenças e oposições, deve-se reconhecer uma matriz comum entre Kant e Nietzsche, como que um substrato tácito mas atuante. Essa matriz comum é a alma do romantismo do século XIX com sua ânsia de infinito, com sua revolta contra os limites e condicionamentos do homem. À semelhança de Platão, Nietzsche queria que o governo da humanidade fosse confiado aos filósofos, mas não a filósofos como Platão ou Kant, que ele considerava simples “operários da filosofia”.
Na obra nietzschiana, a proclamação de uma nova moral contrapõe-se radicalmente ao anúncio utópico de uma nova humanidade, livre pelo imperativo categórico, como esperançosamente acreditava Kant. Para Nietzsche a liberdade não é mais que a aceitação consciente de um destino necessitante. O homem libertado de qualquer vínculo, senhor de si mesmo e dos outros, o homem desprezador de qualquer verdade estabelecida ou por estabelecer e estar apto para se exprimir a vida, em todos os seus atos – era este não apenas o ideal apontado por Nietzsche para o futuro, mas a realidade que ele mesmo tentava personificar.
Aqui, necessário se faz perceber que, ao que superficialmente se parece, Nietzsche cria e cai em seu próprio Imperativo Categórico, por certo, imperativo este baseado na completa liberdade do ser e ausência de normas. Porém, a liberdade de Nietzsche está entre a aceitação consciente (livre-escolha) de um objetivo moral superior (que transcende a racionalidade do ser humano) e a matéria, a razão material Kantiana. Portanto, a realidade está na escolha consciente entre a moral superior (instinto, vontade do coração) e a moral racional (somatório de valores criados pelo homem). O que reside não nas palavras mas nos sentimentos (amor, musica, etc).
Para Kant a razão que se movimenta no seu âmbito, nos seus limites, faz o homem compreender-se a si mesmo e o dispõe para a libertação. Mas, segundo Nietzsche, trata-se de uma libertação escravizada pela razão, que só faz apertar-lhe os grilhões, enclaustrando a vida humana digna e livre.
Em Nietzsche encontra-se uma filosofia antiteorética à procura de um novo filosofar de caráter libertário, superando as formas limitadoras da tradição que só galgou uma “liberdade humana” baseada no ressentimento e na culpa. Portanto toda a teleologia de Kant de nada serve a Nietzsche: a ideia do sujeito racional, condicionado e limitado é rejeitada violentamente em favor de uma visão filosófica muito mais complexa do homem e da moral.
Nietzsche acreditava que a base racional da moral era uma ilusão e por isso, descartou a noção de homem racional, impregnada pela utópica promessa – mais uma máscara que a razão não-autêntica impôs à vida humana. O mundo para Nietzsche não é ordem e racionalidade, mas desordem e irracionalidade. Seu princípio filosófico não era portanto Deus e razão, mas a vida que atua sem objetivo definido, ao acaso, e por isso se está dissolvendo e transformando-se em um constante devir. A única e verdadeira realidade sem máscaras, para Nietzsche, é a vida humana tomada e corroborada pela vivência do instante.
Nietzsche era um crítico das “idéias modernas”, da vida e da cultura moderna, do neo-nacionalismo alemão. Para ele os ideais modernos como democracia, socialismo, igualitarismo, emancipação feminina não eram senão expressões da decadência do “tipo homem”. Por estas razões, é por vezes apontado como um precursor da pós-modernidade.
Nietzsche fotografado por Hans Olde no verão de 1899.
A figura de Nietzsche foi particularmente promovida na Alemanha Nazi, tendo sua irmã, simpatizante do regime hitleriano, fomentado esta associação. Como dizia Heidegger, ele próprio nietzschiano, “na Alemanha se era contra ou a favor de Nietzsche”.
Todavia, Nietzsche era explicitamente contra o movimento anti-semita, posteriormente promovido por Adolf Hitler e seus partidários. A este respeito pode-se ler a posição do filósofo:
Antes direi no ouvido dos psicólogos, supondo que desejem algum dia estudar de perto o ressentimento: hoje esta planta floresce do modo mais esplêndido entre os anarquistas e anti-semitas, aliás onde sempre floresceu, na sombra, como a violeta, embora com outro cheiro.
… tampouco me agradam esses novos especuladores em idealismo, os anti-semitas, que hoje reviram os olhos de modo cristão-ariano-homem-de-bem, e, através do abuso exasperante do mais barato meio de agitação, a afetação moral, buscam incitar o gado de chifres que há no povo…
Sem dúvida, a obra de Nietzsche sobreviveu muito além da apropriação feita pelo regime nazista. Ainda hoje é um dos filósofos mais estudados e fecundos. Por vários momentos, inclusive, Nietzsche tentou juntar seus amigos e pensadores para que um fosse professor do outro, uma espécie de confraria. Contudo, esta idéia fracassou, e Nietzsche continuou sozinho seus estudos e desenvolvimento de idéias, ajudado apenas por poucos amigos que liam em voz alta seus textos que, nos momentos de crise profunda, ele não conseguia ler.
Ideias
Nietzsche em 1862
Seu estilo é aforismático, escrito em trechos concisos, muitas vezes de uma só página, e dos quais são pinçadas máximas. Muitas de suas frases se tornaram famosas, sendo repetidas nos mais diversos contextos, gerando muitas distorções e confusões. Algumas delas:
“A filosofia é o exílio voluntário entre montanhas geladas.”
“Nós, homens do conhecimento, não nos conhecemos; de nós mesmo somos desconhecidos.”
“Não me roube a solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia.”
“O amor é o estado no qual os homens têm mais probabilidades de ver as coisas tal como elas não são.”
“Como são múltiplas as ocasiões para o mal-entendido e para a ruptura hostil!”
“Deus está morto. Viva Perigosamente. Qual o melhor remédio? – Vitória!”.
“Há homens que já nascem póstumos.”
“O Evangelho morreu na cruz.”
“A diferença fundamental entre as duas religiões da decadência: o budismo não promete, mas assegura. O cristianismo promete tudo, mas não cumpre nada.”
“Quando se coloca o centro de gravidade da vida não na vida mas no “além” – no nada -, tira-se da vida o seu centro de gravidade.”
“Para ler o Novo Testamento é conveniente calçar luvas. Diante de tanta sujeira, tal atitude é necessária.”
“O cristianismo foi, até o momento, a maior desgraça da humanidade, por ter desprezado o Corpo.”
“A fé é querer ignorar tudo aquilo que é verdade.”
“As convicções são cárceres.”
“As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras.”
“Até os mais corajosos raramente têm a coragem para aquilo que realmente sabem.”
“Aquilo que não me destrói fortalece-me”
“Sem música, a vida seria um erro.”
“E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música.”
“A moralidade é o instinto do rebanho no indivíduo.”
“O idealista é incorrigível: se é expulso do seu céu, faz um ideal do seu inferno.”
“Em qualquer lugar onde encontro uma criatura viva, encontro desejo de poder.”
“Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos.”
“Quanto mais me elevo, menor eu pareço aos olhos de quem não sabe voar.”
“Se minhas loucuras tivessem explicações, não seriam loucuras.”
“O Homem evolui dos macacos? É, existem macacos!”
“Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.”
“Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.”
“Torna-te quem tu és!”
“Cada pessoa tem que escolher quanta verdade consegue suportar”
“O desespero é o preço pago pela autoconsciência”
“O depois de amanhã me pertence”
“O padre está mentindo.”
“Deus está morto mas o seu cadáver permanece insepulto.”
“Acautela-te quando lutares com monstros, para que não te tornes um.”
“Da escola de guerra da vida: o que não me mata, torna-me mais forte.”
“Será o Homem um erro de Deus, ou Deus um erro dos Homens?”
“É preciso muito caos interior para parir uma estrela que dança.”
Longe de ser um escritor de simples aforismas, ele é considerado pelos seus seguidores um grande estilista da língua alemã, como o provaria Assim Falou Zaratustra, livro que ainda hoje é de dificílima compreensão estilística e conceitual. Muito pode ser compreendido na obra de Nietzsche como exercício de pesquisa filológica, no qual se unem palavras que não poderiam estar próximas (“Nascer póstumo”; “Deus Morreu”, “delicadamente mal-educado”, etc… ).
Adorava a França e a Itália, porque acreditava que eram terras de homens com espíritos-livres. Admirava Voltaire, e considerava como último grande alemão Goethe, humanista como Voltaire. Naqueles países passou boa parte de sua vida e ali produziu seus mais memoráveis livros. Detestava a prepotência e o anti-semitismo prussianos, chegando a romper com a irmã e com Richard Wagner, por ver neles a personificação do que combatia – o rigor germânico, o anti-semitismo, o imperativo categórico, o espírito aprisionado, antípoda de seu espírito-livre. Anteviu o seu país em caminhos perigosos, o que de fato se confirmou catorze anos após sua morte, com a primeira grande guerra e a gestação do Nazismo.
Referências nietzschianas
Contudo, no próprio legado do filósofo podemos inferir suas opiniões em relação a outras filosofias e posições. É sumamente importante notar que Nietzsche perdeu o pai muito cedo, seus primeiros livros publicados até 1878, que não expunham suas idéias mais ácidas, ainda assim fizeram pouco ou nenhum sucesso. Que ele ficou extremamente desapontado com o sucesso de Richard Wagner, o qual se aproximou do cristianismo. Teve uma vida errante, com poucos amigos, e sempre perseguido por surtos de doença.
Na sua obra vemos críticas bastante negativas a Kant, Wagner, Sócrates, Platão, Aristóteles, Xenofonte, Martinho Lutero, à metafísica, ao utilitarismo, anti-semitismo, socialismo, anarquismo, fatalismo, teologia, cristianismo, budismo, à concepção de Deus, ao pessimismo, estoicismo, ao iluminismo e à democracia.
Dentre os poucos elogios deferidos por Nietzsche, coletamos citações, muitas vezes com ressalvas a Schopenhauer, Spinoza, Dostoiévski, Shakespeare, Dante, Napoleão, Goethe, Darwin, Leibniz, Pascal, Edgar Allan Poe, Lord Byron, Musset, Leopardi, Kleist, Gogol, Voltaire e ao próprio Wagner, grande amigo e confidente de Nietzsche até certo momento.
Ele era, sem dúvida, muito apreciador da Natureza, dos pré-socráticos e das culturas helénicas.
Niilismo
O legado da obra de Nietzsche foi e continua sendo ainda hoje de difícil e contraditória compreensão. Assim, há os que, ainda hoje, associam suas idéias ao niilismo, defendendo que para Nietzsche:
“A moral não tem importância e os valores morais não têm qualquer validade, só são úteis ou inúteis consoante a situação”; “A verdade não tem importância; verdades indubitáveis, objectivas e eternas não são reconhecíveis. A verdade é sempre subjectiva”; “Deus está morto: não existe qualquer instância superior, eterna. O Homem depende apenas de si mesmo”; “O eterno retorno do mesmo: A história não é finalista, não há progresso nem objectivo”. Ou ainda “…se existem deuses, como poderia eu suportar não ser um deus!? Por conseguinte não há deus.” passagem que deixa evidente que a conclusão não decorre da premissa, mas sim da pessoal inaceitação do autor a um ente superior ao que ele próprio poderia conceber, ou seja: que, no mínimo, o autor é o ser de maior capacidade intelectiva que existe – eloquente niilismo, portanto.
Outros, entretanto, não pensam que Nietzsche seja um autor do niilismo, mas ao contrário um crítico do niilismo. Na genealogia da moral o filósofo faz critícas abertas ao niilismo, que para ele seria uma “anseio do vazio”, uma manifestação dos seres doentes aonde se conformam e idealizam o vazio e não um verdadeiro estado de força. Além disso, para ele o homem pode ser, além de um destruidor, um criador de valores. E os valores a serem destruídos, como os cristãos (na sua obra, faz menção à doença, à ignorância), um dia seriam substituídos pela saúde, a inteligência, entre outros. Tal afirmação se baseia na obra Assim falou Zaratustra, onde se faz clara a vinda do super-homem, sendo criar a finalidade do ser. Tal correspondência é totalmente contrária ao niilismo, pelo menos em princípio. Ou um “niilismo positivo”, para Heidegger.Todavia, Nietzsche, contrário ou não, não deixando escapar de suas críticas nem mesmo seu mestre Schopenhauer nem seu grande amigo Wagner, procurou denunciar todas as formas de renúncia da existência e da vontade. É esta a concepção fundamental de sua obra Zaratustra, “a eterna, suprema afirmação e confirmação da vida”. O eterno retorno significa o trágico-dionisíaco dizer sim à vida, em sua plenitude e globalidade. É a afirmação incondicional da existência.
Talvez a falta de consenso na apreciação da obra de Nietzsche tenha em parte a ver com os paradoxos no pensamento do próprio autor. As suas últimas obras, sobretudo o seu autobiográfico Ecce Homo (1888), foram escritas em meio à sua crise que se aprofundava. Em Janeiro de 1889, Nietzsche sofreu em Turim um colapso nervoso. Como causa foi-lhe diagnosticada uma possível sífilis. Este diagnóstico permanece também controverso. Mas certo é que Nietzsche passou os últimos 11 anos da sua vida sob observação psiquiátrica, inicialmente num manicômio em Jena, depois em casa de sua mãe em Naumburg e finalmente na casa chamada Villa Silberblick em Weimar, onde, após a morte de sua mãe, foi cuidado por sua irmã.
Faleceu em 25 de agosto de 1900. Encontra-se sepultado em Röcken Churchyard, Röcken, Saxônia-Anhalt na Alemanha.
Nietzsche em 1869.
O legado da obra de Nietzsche foi e continua sendo ainda hoje de difícil e contraditória compreensão. Assim, há os que, ainda hoje, associam suas idéias ao niilismo, defendendo que para Nietzsche:
“A moral não tem importância e os valores morais não têm qualquer validade, só são úteis ou inúteis consoante a situação”; “A verdade não tem importância; verdades indubitáveis, objectivas e eternas não são reconhecíveis. A verdade é sempre subjectiva”; “Deus está morto: não existe qualquer instância superior, eterna. O Homem depende apenas de si mesmo”; “O eterno retorno do mesmo: A história não é finalista, não há progresso nem objectivo”. Ou ainda “…se existem deuses, como poderia eu suportar não ser um deus!? Por conseguinte não há deus.” passagem que deixa evidente que a conclusão não decorre da premissa, mas sim da pessoal inaceitação do autor a um ente superior ao que ele próprio poderia conceber, ou seja: que, no mínimo, o autor é o ser de maior capacidade intelectiva que existe – eloquente niilismo, portanto.
Outros, entretanto, não pensam que Nietzsche seja um autor do niilismo, mas ao contrário um crítico do niilismo. Na genealogia da moral o filósofo faz critícas abertas ao niilismo, que para ele seria uma “anseio do vazio”, uma manifestação dos seres doentes aonde se conformam e idealizam o vazio e não um verdadeiro estado de força. Além disso, para ele o homem pode ser, além de um destruidor, um criador de valores. E os valores a serem destruídos, como os cristãos (na sua obra, faz menção à doença, à ignorância), um dia seriam substituídos pela saúde, a inteligência, entre outros. Tal afirmação se baseia na obra Assim falou Zaratustra, onde se faz clara a vinda do super-homem, sendo criar a finalidade do ser. Tal correspondência é totalmente contrária ao niilismo, pelo menos em princípio. Ou um “niilismo positivo”, para Heidegger.Todavia, Nietzsche, contrário ou não, não deixando escapar de suas críticas nem mesmo seu mestre Schopenhauer nem seu grande amigo Wagner, procurou denunciar todas as formas de renúncia da existência e da vontade. É esta a concepção fundamental de sua obra Zaratustra, “a eterna, suprema afirmação e confirmação da vida”. O eterno retorno significa o trágico-dionisíaco dizer sim à vida, em sua plenitude e globalidade. É a afirmação incondicional da existência.
Talvez a falta de consenso na apreciação da obra de Nietzsche tenha em parte a ver com os paradoxos no pensamento do próprio autor. As suas últimas obras, sobretudo o seu autobiográfico Ecce Homo (1888), foram escritas em meio à sua crise que se aprofundava. Em Janeiro de 1889, Nietzsche sofreu em Turim um colapso nervoso. Como causa foi-lhe diagnosticada uma possível sífilis. Este diagnóstico permanece também controverso. Mas certo é que Nietzsche passou os últimos 11 anos da sua vida sob observação psiquiátrica, inicialmente num manicômio em Jena, depois em casa de sua mãe em Naumburg e finalmente na casa chamada Villa Silberblick em Weimar, onde, após a morte de sua mãe, foi cuidado por sua irmã.
Faleceu em 25 de agosto de 1900. Encontra-se sepultado em Röcken Churchyard, Röcken, Saxônia-Anhalt na Alemanha.