Da Periferia para o Centro: Apresentação em Rudolf de Jong, “A Concepção Libertária da Transformação Sujeito Social Revolucionária”
É o próprio povo, são os famintos, são os desertos os que têm de abolir a miséria.
– Ricardo Flores Magón
O CONTEXTO DA AIT
O anarquismo, como ideologia, e, portanto, “um conjunto de idéias, motivações, aspirações,
valores, estrutura ou sistema de conceitos, que possuem uma conexão direta com a ação — o que
chamamos de prática política”1 —, propõe a derrubada do capitalismo e suas instituições
fundamentais — dentre elas o Estado —, rumo ao socialismo libertário. Portanto, uma reflexão sobre
o anarquismo, hoje e sempre, deve considerar este seu caráter ideológico, de busca pela
transformação social.
O próprio surgimento do anarquismo na obra de Proudhon, e mais concretamente no seio da
Associação Internacional dos Trabalhadores (A.I.T.) — na atuação de Bakunin e outros militantes da
Aliança da Democracia Socialista — confirma este caráter.
A estratégia de transformação social proposta por Bakunin e os aliancistas era dupla. Por um
lado, estimulavam o fortalecimento dos movimentos sociais da época e sua aglutinação em torno da
A.I.T., que associava livremente os explorados em torno de uma base econômica comum,
independente de sua ideologia. A força popular da A.I.T. constituía-se como principal meio de se
chegar à revolução social. Por outro lado, trabalhavam — por meio da influência da Aliança (primeira
organização específica anarquista) — para impulsionar os trabalhadores da A.I.T. à revolução social.
Nesta dupla atuação, que diferenciava o nível político e anarquista da Aliança do nível social e
não-anarquista da A.I.T., Bakunin definiu os papéis de cada um destes níveis:
A Aliança é o complemento necessário da Internacional… — Mas a Internacional e a Aliança,
tendendo para o mesmo objetivo final, perseguem ao mesmo tempo objetivos diferentes. Uma tem
por missão reunir as massas operárias, os milhões de trabalhadores, através das diferenças das
nações e dos países, através das fronteiras de todos os Estados, num só corpo imenso e compacto;
a outra, a Aliança, tem por missão dar às massas uma direção verdadeiramente revolucionária. Os
programas de uma e de outra, sem serem nada opostos, são diferentes pelo próprio grau do seu
desenvolvimento respectivo. O da Internacional, se o tomarmos a sério, também [contém] em
germe, mas só em germe, todo o programa da Aliança. O programa da Aliança é a explicação
última do [programa] da Internacional.2
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