Cronologia histórica da luta das mulheres anarquistas e operárias

Anarcafeminismo

1895
Argentina.- Aparece em Buenos Aires o panfleto Propaganda Anarquista entre as mulheres, sob a assinatura de livre pensadora italiana Ana María Mozón, que aborda temas como o amor livre, a família, a exploração no trabalho fabril, as distintas formas de violência conjugal: golpes, maltrato psicológico. “Queremos liberá-las da cobiça do patrão que as explora, da espreita do pároco que as enche a cabeça de superstições, da autoridade do marido que as maltrata…”. Foi reproduzido pelo periódico La Questione Sociale. 1896 Argentina.- Começa a circular o periódico La Voz de la Mujer (A Voz da Mulher – 1896-1897). Expressão da corrente comunista anarquista, circula entre as trabalhadoras de Buenos Aires, La Plata e Rosário, principalmente. O primeiro número é recebido com hostilidade por alguns setores anarquistas masculinos, que denominaram algumas redatoras como “feroces de lengua y pluma”, por seus ataques dirigidos contra as atitudes pouco consequentes com o anarquismo a respeito da igualdade entre mulheres e homens.

1890
Uruguai. – A anarquista uruguaia Virginia Bolten encabeça a primeira marcha que se realiza em Rosário, Argentina, celebrando o 1 de maio. Leva uma bandeira vermelha com letras negras com a seguinte inscrição: “Primero de Mayo. Fraternidad Universal. Los trabajadores de Rosario cumplimos las disposiciones del Comité Obrero Internacional de París”. Foi a única mulher que pronunciou um discurso.

1901
Argentina.- Um número importante de sindicatos da Federação Operária Argentina (FORA) de orientação anarquista, apóia o lema “a trabalho igual, pagamento igual”. Uruguai. – Se criam Sociedades de Resistência de lavadeiras, passadeiras, fosforeiras e cigarreiras.

1902
Perú.- A revista anarquista La Idea Libre inicia a Sessão Feminista, onde entre outros artigos, reproduz textos das sufragistas estadounidenses. Argentina.- Se cria o grupo “Las Libertarias”, que apresenta “alternativas de resistência para as mulheres trabalhadoras”. Virginia Bolten inicia uma viagem de propaganda por distintas cidades da Argentina.

1903
Chile.- É criada a Federação Cosmopolita de Operárias em Resistência, de orientação anarquista. Ángela Muñoz Arancibia tem atuação destacada na criação deste espaço.

1905
Chile.- Em 10 de setembro circula em Valparaíso o primeiro número de La Alborada, “publicação quinzenal defensora das classes proletárias” (1905-1907), periódico operário de tendência anarquista, fundado e dirigido pela operária tipógrafa Carmela Jeria, com o propósito de “defender muito em particular as humilhadas trabalhadoras…”. Um ano depois, após uma interrupção devido ao terremoto que sofre Valparaíso, reaparece em Santiago sob a denominação de “publicação feminista”.

1906
Brasil.- Por iniciativa da ativista anarquista Ernestina Lesina se cria a Associação de Costureiras de Sacos. Lesina lança uma convocatória convidando as trabalhadoras a se unirem à luta para
conseguir a redução da jornada de trabalho. Ernestina funda em São Paulo, o periódico Anima e Vita. Conferencista e oradora, abraçou a causa da emancipação feminina. Em São Paulo, as operárias anarquistas, Maria Lopes, Teresa Fabri y Teresa María Carini, lançam um Manifesto dirigido às trabalhadoras. Publicado no periódico anarquista Terra Livre, as convoca a participar no movimento grevista desencadeado em São Paulo, e as incentiva a denunciar as péssimas condições de trabalho que têm de suportar, as jornadas excessivas de trabalho, e os salários miseráveis que recebem. Chile.- A Associação de Costureiras de Santiago inicia a publicação
do periódico La Palanca. Se abordam temas sobre o movimento operário e artigos específicos sobre a condição das mulheres e a “opressão masculina”. Chile.- Carmela Jeria pronuncia um discurso ante 40 mil pessoas durante a celebração do 1 de Maio.

1910 
Porto Rico.- Luisa Capetillo edita a revista Mujer. O VI Congresso Operário da Federação Livre de Trabalhadores (FLT), de orientação anarquista, aprova a resolução de criar uma organização feminina dentro de suas fileiras. Uruguai.- Dentro da Federação Operária Anarquista do Uruguai, se cria a Associação Feminina de Ofícios Vários.

1911
Perú.- Aparece o periódico anarquista La Protesta, onde escreve um grupo de mulheres que abordam temas relacionados com a condição feminina.

1913
Perú.- O sindicato de Cozinheiras se organiza para protestar por um decreto da Intendência, contrario a livre associação das  trabalhadoras.

1915
Uruguai.- Aparece em Montevidéu La Batalla, “periódico de idéias e de críticas”, sob a direção da lutadora anarquista María Collazo.

1916
Chile.- Em Iquique se cria o Centro Instrutivo de Livre-pensadoras “Louise Michel”. México.- Se forma o Grupo de Mulheres Ácratas, pertencente a Casa do Operário Mundial, encabeçado pela costureira Esther Torres.

1918
México.- Em 16 de agosto é fundado o Centro Radical Feminino dentro da corrente anarcosindicalista da Casa do Operário Mundial. O Centro publica um periódico El Iconoclasta e diz ser uma publicação produzida por “esforçadas lutadoras, destinada a criar consciência da mulher escravizada pelo vampirismo romano” (em referência ao clero católico “que chupa o sangue das mulheres”). Peru. – Na cidade de Huacho se cria o Centro Feminio “Luz y Libertad” de inspiração anarquista, presidido por Luzmila La Rosa.

1921
Chile.- Nasce a Federação União Operária Feminina, apoiada pela Industrial Workers of the World (IWW), central sindical anarquista mundial.

1927
Bolívia.- Nasce a Federação Operária Feminina (FOF), ramo da Federação Operária Local (FOL) de tendência anarquista que agrupa em sua maioria empregadas de serviço doméstico, trabalhadoras do mercado e cozinheiras. Decidem manter uma linha autônoma em relação às organizações masculinas. Além de levantar uma plataforma de reivindicações trabalhistas, demandam o divórcio absoluto, a criação de proteções e a igualdade ante a lei de todos os filhas.

1936
Bolívia.- É criado o sindicato da União Feminina de Floristas. Petronila Infantes, anarquista, funda a União Sindical de Culinárias, para exigir um horário de trabalho. O Congresso Operário, reunido em La Paz, aprova exigir “a universalização do descanso dominical”, a jornada de 8 horas, a incorporação das trabalhadoras domésticas na legislação social e a substituição da palavra “doméstica” pela de empregada de trabalhos de casa.

1937
Bolívia.- Com as seguintes palavras: “A minhas companheiras proletárias”, Petronila Infantes, anarquista, inicia seu discurso durante uma manifestação da FOL, para se referir à exploração que sofrem as mulheres que recebem salários inferiores ao dos homens. “As mulheres carregam a corrente mais pesada, mais negra e mais difamadora…O remédio é a rebelião…”.

1947
Chile.- Em plena ditadura de Gabriel González Videla, nasce em Iquique o Ateneu Libertário “Luisa Michel”, para “atender às necessidades das trabalhadoras tecedoras de redes”, sob a condução de Flora Sanhueza, uma das figuras mais destacadas do anarquismo e desaparecida em 1973, durante a ditadura de Augusto Pinochet.