103 Perguntas e Respostas sobre Anarquismo




103 Perguntas e Respostas sobre Anarquismo

1. Como seria uma sociedade anarquista depois da abolição do Estado, pelo menos no atual território brasileiro?
R: A esmagadora maioria dos anarquistas são adeptos do Federalismo Libertário. Se tratam de pequenas organizações territoriais chamadas Comunas ou Soviets, associadas entre si em Federações e Confederações cada vez maiores. As decisões na Comuna são feitas por consenso e/ou democracia direta e, conforme a amplitude e importância das decisões, vai de baixo pra cima, começando nos indivíduos até decidir os rumos das organizações maiores.

2. Quais são as hipóteses anarquistas mais plausíveis pelas quais o Estado seria abolido e a sociedade se transformaria em democracias absolutas (diretas)?
R: O Anarquismo é amplo nesse aspecto. Os espontaneístas acreditam que devemos “deixar a vida nos levar” e que no momento certo tudo vai acontecer. Os terroristas defendem o assassinato dos governantes e atentados a prédios estatais e capitalistas. Os pacifistas querem uma Revolução a la Gandhi.
Particularmente, eu simpatizo bastante com o Especifismo, que defende que uma organização politica anarquista se aproxime e trabalhe junto com movimentos sociais, até ganhar força e influência o suficientes para a Revolução.
Mais sobre ele aqui

3. Como as sociedades anarquistas a surgir depois da abolição dos Estados aproveitariam a infraestrutura existente à época, infraestrutura essa criada ao longo de décadas ou séculos sob a regência e lógica dos Estados e das sociedades governadas?
R: Eu aconselharia um texto do anarquista ucraniano Nestor Makhno, que acho se encaixar bem aqui.
http://pt-br.protopia.wikia.com/wiki/Parte_Construtiva
Aconselho também o livro de Kropotkin, “A Conquista do Pão”.

4. Se a hipótese da revolução armada contra o Estado prevalecesse, como seria a transição da sociedade estatista às sociedades anarquistas? Como se lidaria com o fato de a porção da sociedade que não se engajou na revolução estar atordoada com a mudança e desejar a volta de um Estado para “pôr ordem” na situação?
R: Apesar dos anarquistas concordarem que um massacre daqueles que discordarem ser algo errado, reconhecem que uma revolução armada tem suas consequências. Aqueles que não apoiarem a revolução provavelmente serão deixados em paz, livres para se organizarem longe dali como quiserem. Ou serão obrigados a se adaptarem através da “democracia direta”, pois a decisão seria da maioria. Agora, conspirar para restaurar o Estado dependeria do contexto de uma revolta armada. Na Espanha, na época da guerra civil, há indícios de campos de concentração anarquistas, que longe de ter qualquer relação com a versão nazista ou soviética, funcionavam como “prisões para reeducar”. No geral, acho que esses detalhes iriam depender do contexto mesmo.

5. Como os anarquistas pretendem lidar (ou lidam) com a existência de forças armadas? Como seria viável uma sociedade anarquista livre do perigo de ser subjugada pelo exército da nação que ela renegou ou de nações estrangeiras que ainda não vivenciaram suas revoluções antiestatistas?
R: Na Espanha e na Ucrânia, foram criadas milícias populares para defenderem a Revolução. Na Ucrânia, especificamente, o Exército Negro de Makhno combateu a invasão de tropas alemãs e austro-húngaras, nacionalistas ucranianos e os Exércitos Branco (capitalistas e monarquistas) e Vermelho (bolsheviques).

6. Haveria espaço para grandes obras de infraestrutura (estradas, ferrovias, usinas hidrelétricas, hospitais de grande porte, escolas grandes, universidades extensas etc.) num panorama de sociedades anarquistas? Se sim, como seriam empreendidas sem um Estado a ordenar essas obras?
R: Não haveria Estado, mas haveriam organizações populares baseadas em Democracia Direta para tomar essas decisões. Haveriam Cooperativas públicas (nos modelos coletivistas e comunistas) e particulares (mutualistas) para atender a esses interesses.

7. Como convencer as pessoas de que é um absurdo, por exemplo, alguém ser tratado como uma unidade ou número (vide RG, CPF e outros documentos) pelo Estado e que governar é de fato dominar, submeter e controlar?
R: Ajudando as pessoas a terem acesso a conhecimento.

8. A Constituição brasileira é contra a secessão, e uma sociedade anarquista se declarar independente do Estado brasileiro seria considerado uma secessão pelo mesmo. Como se daria a reação da sociedade anarquista em emancipação contra uma possível intervenção militar?
R: A Guerra Civil Espanhola ocorreu quando os militares, liderados por Franco, tentaram dar um golpe no país e o povo foi as ruas e impediu, dando início a guerra. A força mais forte entre o povo era a CNT, um sindicato anarquista.

9. Já existem escolas anarquistas, que ensinem às crianças a ética de viver pela própria consciência, sem precisar ser regido por leis, em algum lugar do mundo?
R: Não sei dizer hoje, mas existem casos de escolas no século passado. Pesquise mais sobre Pedagogia Libertária.

10. Como se daria o controle da violência urbana e dos desvios de conduta social perigosos à coletividade, que infelizmente podem ser inevitáveis?
R: Com o fim do Estado e do Capitalismo, espera-se que boa parte, senão toda, a criminalidade desapareça. Em todo caso, se houver criminosos, poderíamos utilizar o método de ressocialização, mas com eficiência maior que o utilizado pelo Estado.

11. Como as sociedades anarquistas lidariam com os conservadores/regressistas estatistas remanescentes?
R: Se eles não fizerem nada, provavelmente seriam deixados em paz. Aconselho Malatesta: http://www.culturabrasil.pro.br/malatesta.htm
Citando ele:

“Seria – já o dissemos – absurdo e em contradição com nosso objetivo querer impor a liberdade, o amor entre os homens, o desenvolvimento integral de todas as faculdades humanas pela força. É preciso contar com a livre vontade dos outros, e a única coisa que podemos fazer é provocar a formação e a manifestação desta vontade. Mas seria da mesma forma absurdo e em contradição com nosso objetivo admitir que aqueles que não pensam como nós impedem-nos de realizar nossa vontade, visto que não os privamos do direito a uma liberdade igual à nossa.
Liberdade, portanto, para todos, de propagar e experimentar suas próprias idéias, sem outros limites senão os que resultam naturalmente da igual liberdade de todos.”

12. Como o anarquismo lida com as propriedades domésticas (ex.: computadores pessoais, móveis, colchões, casas, carros, bicicletas, eletrodomésticos, roupas, álbuns musicais, DVDs etc.)?
R: O texto abaixo explica de forma ótima a questão, parte de diferenças entre propriedade e posse:
http://www.reocities.com/projetoperiferia2/secB3.htm

13. Haveria algum sistema de comércio, com ou sem dinheiro, nas sociedades anarquistas? Há viabilidade de o escambo ser um meio permanente de troca de objetos?
R: Os anarquistas não tem nada contra o comércio. Apesar de muitos entenderem erroneamente que comércio e dinheiro significa capitalismo, a verdade é outra. Os anarquistas aceitam a iniciativa privada, especialmente os mutualistas, que seguem as ideias de Proudhon.

14. Como responder aos estatistas que acusam um anarquista funcionário público de estar sendo hipócrita ao não largar seu emprego que só existe graças ao Estado/Administração Pública?
R: O anarquista precisa pagar imposto para o Estado. Se ele quiser educação, precisa ou estudar em escola pública (estatal) ou particular (capitalista). Sendo honesto, não podemos dançar valsa se o que está tocando é funk. Mas é claro, os anarquistas evitam posições pró-sistema, por exemplo se tornar politico, juíz, proprietário capitalista ou policial. No entanto, fora os casos “óbvios”, temos que ter bom senso. Ser pobre ou ficar isolado do mundo não beneficia a luta anarquista.

15. Como seria a política do consenso numa democracia direta? E quando as opiniões divergirem a ponto de serem virtualmente inconciliáveis e mutuamente excludentes?
R: A maioria dos anarquistas pensam assim: consenso até onde der, e se não der, vontade da maioria.
Aconselho: http://www.reocities.com/projetoperiferia2/secA2.htm

16. Como seria empreendido numa sociedade anarquista o que hoje conhecermos por serviço público?
R: Cooperativas públicas.

17. Como a infraestrutura das grandes propriedades privadas rurais (latifúndios) seria repartida entre a coletividade? Como o solo desses latifúndios seria adaptado a policulturas minifundiárias?
R: Acredito que algo sobre isso possa ser respondido aqui: http://anarquismorj.wordpress.com/textos-e-documentos/programa-da-farj/objetivos-finalistas-a-revolucao-social-e-socialismo-libertario/

18. Por que o anarquismo é hoje relativamente pouco divulgado, mesmo na internet, ao contrário, por exemplo, dos Direitos Animais, cada vez mais divulgados pelos meios democráticos de comunicação?
R: Acredito que seja, em grande parte, culpa de nós mesmos. Mas também acredito que isso possa ser resolvido. É tudo uma questão de esforço. No exterior, até onde se sabe, os anarquistas tem grande força, especialmente na Grécia. No Brasil, infelizmente, acredito que a despolitização do povo e a falta de organizações mais fortes tenham parte da culpa.

19. Como a infraestrutura física da internet (backbones, servidores, cabos conectores, antenas etc.) seria mantida num mundo sem Estados?
R: O fim do Estado não significa o fim de um “poder público”. Continuará a existir, mas será verdadeiramente do povo, sem hierarquia e totalmente autogestionário. A tecnologia no processo anarquista seria livremente distribuida, materiais como esses seriam mais acessíveis, ou seja, os coletivos que se unissem em torno de um mesmo ideal poderiam providenciar os seus. Os já existentes seria abertos para o livre uso.

20. Existe o risco de, num mundo em processo de abolição dos Estados, alguma nação remanescente se aproveitar da extinção de cada vez mais nações e de suas forças armadas e começar um ataque expansionista contra as sociedades anarquistas desmilitarizadas? Se sim, como se pretende lidar com essa ameaça?
R: Extremamente provável. A classe dominante quer, e sempre irá querer, se expandir. Como disse, provavelmente o povo terá que se preparar para guerras, para proteger a Revolução. Por outro lado, esperaremos que as revoltas internas no próprio país resultem em uma Revolução antes que nos ataquem.

21. Supondo a possibilidade de casos em que alguns povos indígenas, livres da ameaça das “civilizações”, se transformassem, ao longo dos séculos, em Estados organizados expansionistas, como as sociedades anarquistas lidariam com isso?
R: Difícil, mas de fato, não impossível. Mas lembre-se que haveriam federações de comunidades anarquistas organizadas. Acredito que se uma ameaça assim aparecesse, haveriam condições de lidar com isso adequadamente.

22. Existe o risco de sociedades anarquistas acabarem se tornando caóticas por despreparo da população a viver sem a regência das leis e por isso regredirem a um regime estatista? Se sim, como pretendem lidar com essa ameaça?
R: Anarquismo não significa, necessariamente, viver sem leis. Apesar da maioria preferir que não houvesse necessidade, muitos reconhecem que, pelo menos num primeiro momento, elas seriam necessárias para manter a ordem. Mas seriam leis criadas pelo povo e não pelos de cima.
De qualquer forma, acredito que se uma sociedade anarquista começou a ser aplicada, é porque ocorreu um avanço na mentalidade da população que evitaria que as coisas regredissem.

23. Em algum lugar eu li que o problema não seria lidar com uma sociedade despreparada a uma vida sem Estado, mas sim preparar a sociedade ao anarquismo abolindo os problemas causados pelos Estados. Há alguma prova científica (sociológica) de que problemas teoricamente controlados pelos instrumentos coercitivos do Estado, como a violência urbana combatida pela polícia e crimes em geral combatidos pelo Poder Judiciário, de fato têm sua origem na essência estatista dessas sociedades e/ou na existência do Estado em si?
R: Sim. Veja:
http://anarcaipira.blogspot.com.br/2012/09/o-bandido-o-cidadao-de-bem-e-os.html
Aconselho também:
http://www.mundoeducacao.com.br/geografia/os-problemas-derivados-capitalismo.htm

24. Como lidar com o problema do abuso e comercialização/doação de drogas pesadas (cocaína, crack, heroína etc.) e com as consequências do abuso de álcool numa sociedade anarquista, que provavelmente não conseguiria abolir o uso de drogas entorpecentes e alteradoras do estado psicológico/psiquiátrico?
R: Essa é uma questão mais delicada. A maioria dos anarquistas tem uma tendência a favor da liberação, mas com um desenvolvimento do sistema de saúde para prestar auxílio adequado. Eu acredito, particularmente, em algumas leis mais reguladoras. Esse seria um tema a ser mais debatido, confesso.

25. Como seria a nova Ética do Trabalho numa sociedade livre do Estado e do capitalismo?
R:  Achei meio vaga a questão, mas vamos lá. Sem o patrão, não haveria a exploração. O número de horas de trabalho seriam reduzidas. Alguns apontam que talvez desse para diminuir até 2 horas diárias, ou menos. Também, a maioria das profissões que geralmente são apenas administrativas e burocráticas desapareceriam, mais pessoas trabalhariam na produção de riquezas, mais bens e serviços para todos e menos tempo de trabalho. O estresse provavelmente desapareceria.

26. Como os anarquistas conseguirão desapropriar os meios de produção urbanos e rurais (tomar dos empresários a propriedade sobre suas empresas e máquinas, assim como tomar dos latifundiários suas grandes fazendas)? Sendo quase certa a reação armada dos atuais donos desses meios de produção, seja através do Estado protetor do direito à propriedade privada ou através de exércitos de seguranças particulares, como os anarquistas iriam proceder?
R:  A essa altura, acho que essa questão já teria sido respondida em outras questões. O uso da força popular para expropriar a burguesia e tornar os meios de produção coletivos.

27. Como os anarquistas pretendem conscientizar as classes médias para a lógica da sociedade sem Estado e sem grandes propriedades privadas?
R: Defina classe média. Mas acredito que aqui explique algumas coisas: http://www.reocities.com/projetoperiferia2/secB7.htm
De forma geral, caso considere as tais classes médias trabalhadoras como as outras, a mesma tática se utilizada, com as devidas alterações para o público alvo.

28. Num mundo em que os redutos de vida silvestre estão cada vez mais reduzidos e os recursos naturais não renováveis cada vez menos abundantes, será possível criar sociedades anarcoprimitivistas a partir do zero?
R: Acredito que a sociedade anarquista saberia se desenvolver sem abusar do planeta. E também creio que seria possível sociedades, pequenas, de anarco-primitivistas. Mas eu, particularmente, não sei se seriam preferíveis.

29. Como se dará o desenvolvimento científico e tecnológico nas sociedades anarquistas, considerando-se os produtos realmente essenciais da ciência e tecnologia (como a internet, os medicamentos que curam doenças graves, os computadores, os eletrodomésticos, os meios geradores de energia etc.)?
R: Hoje, controle de patentes permite que muitos conhecimentos estejam nas mãos das grandes indústrias. O carro elétrico foi barrado para não prejudicar os senhores do petróleo, por exemplo. Com o fim das patentes e do monopolio dos capitalistas, tenho certeza que a tecnologia poderia se desenvolver bastante sim.

30. Como o anarquismo lida com a questão do desenvolvimento de tecnologias de exploração espacial? Ou o anarquismo é essencialmente “geocêntrico” no sentido de não se preocupar com o Universo?
R: Não acho que os anarquistas tenham uma preocupação maior com tal tema do que qualquer outra pessoa hoje. É uma questão que não depende de ser ou não anarquista.

31. Uma sociedade anarquista seria à prova de problemas microssociais como ofensas, brigas e alcoolização?
R: Espera-se que sim. Certeza absoluta? Não temos.

32. Como uma sociedade anarquista lidaria com pessoas neurologicamente tendentes, por exemplo, à psicopatia e sociopatia?
R:  Um livro muito bom é “A Ilha”, do Huxley (autor de Admirável Mundo Novo). Na história, eles detectam as pessoas com essas tendências e ajudam elas direcionando isso para algo não prejudicial. É uma alternativa. Pode-se ter clínicas para afastar da sociedade caso essas pessoas tomem ações negativas e ressocializá-las. Mais uma vez, não é algo totalmente definido. Importante mencionar que quando digo que algo não é “totalmente definido”, não é porque o Anarquismo apresenta falhas. Sim, porque temos ele como o Norte de uma bússola, mas não poderíamos prever como lidar com cada possível problema agora. Podemos elaborar teorias e aplicar as que se apresentarem como melhores. O anarquismo não é um recado divino e imutável, mas sim é amplo, permitindo que novas ideias surjam e que ele se atualize conforme o contexto, desde que mantendo seus princípios.

33. O anarquismo é realmente incompatível com as religiões organizadas, em especial o cristianismo e o islamismo? Se sim, como se pretende extingui-las ou transformá-las em religiões libertárias? Pretende-se extinguir dogmas e princípios como a submissão a Deus; a existência do clero como intermediário entre Deus e o ser humano; a direção de templos por pastores, padres, bispos, cardeais, apóstolos, rabinos, sheiks, imãs etc.?
R: Apesar de muitos anarquistas adotarem uma postura de ateus militantes e falarem do fim das religiões, inspirados pelo texto “Deus e o Estado” de Bakunin, hoje acredito que as coisas estejam mais abertas. Há cristãos, judeus, muçulmanos, ateus, agnósticos, ocultistas, wiccanos, budistas e pessoas das mais diversas religiões, que adotam os princípios anarquistas. É claro que as instituições religiosas hoje, pautadas em hierarquias e em uma elite, o clero, seriam destruídas. Mas quanto as ideias religiosas, esperamos que elas se adaptem conforme a sociedade anarquista substitua a atual. Veja o Cristianismo: teve uma origem comunista primitiva. Quando conquistou Roma, tornou-se escravista, dizendo que os escravos não deveriam questionar seus senhores. Na Idade Média, apoiou a lógica feudal. Depois, a Reforma Protestante auxiliou o Capitalismo. Na Alemanha Nazista, o Cristianismo também foi adaptado. Por que ele não se adaptaria a uma lógica anarquista?

34. Como o anarquismo sob a forma de comunismo libertário pretende lidar com os defensores do direito à propriedade privada? Como lidam inclusive com os minarquistas e anarcocapitalistas (que eu sinceramente não gosto de chamar de “libertários”)?
R: A Propriedade é um roubo, e como tal, será abolida. Seus defensores, se não tiverem como utilizar a força, provavelmente vão aceitar a nova sociedade. Se tiverem, provavelmente haveria uma disputa de forças até uma subjulgar a outra. Os Ultraliberais (que englobam as duas correntes) são rejeitados pelos anarquistas e totalmente hostilizados. Seriam inimigos, se podemos usar esse termo.

35. Como os anarquistas intervêm hoje em dia de modo a construir um futuro conjunto de sociedades sem Estado?
R: Muitos anarquistas se organizam em grupos, coletivos e federações, ou atuam sozinhos e independentes. E cada um utiliza seus próprios métodos. Uns, como os especifistas (Coordenação Anarquista Brasileira), se aproximam de movimentos sociais (sindicatos, estudantis, ambientalistas, etc), para criar uma solidariedade com os explorados e oprimidos, até ganhar força e influência para a Revolução. Outros focam em oferecer educação libertária, com palestras e distribuição de textos (Núcleo de Estudos Carlo Aldegheri). Uns adotam estilos alternativos (Casa da Lagartixa Preta) e outros a contra-cultura (RASH, movimento skinhead anarquista e comunista). Há aqueles que participam de manifestações e mobilizações recentes e populares (Ocuppy, Democracia Real, Anonymous, Mov. Zeitgeist) e aqueles que fazem um pouco de cada.

36. Anarquia é diferente de anomia. Mas como garantir que TODOS os seres humanos integrantes de uma sociedade anarquista, sem exceção, tenham uma consciência elevada o suficiente para viverem independentes de leis?
R: Esse texto já passei anteriormente, mas as respostas da pergunta também estão nele, especialmente nos últimos textos: http://www.reocities.com/projetoperiferia2/secA2.htm

37. O anarquismo tem alguma posição em relação aos pais regularem e disciplinarem o comportamento dos filhos menores de idade (pelo qual impõem castigos, recompensas e autoridade)?
R: Psicologicamente falando, existem formas melhores e menos prejudiciais ao desenvolvimento da criança. Para refletir: http://anarcaipira.blogspot.com.br/2012/09/a-autoridade-na-infancia.html




38. Como o anarquismo lida com os anseios da adolescência, como a busca por uma identidade individual, a socialização, a experimentação de novos prazeres da vida etc.?
R: Não existe um manual de como lidar com isso, mas acredito que numa sociedade anarquista os adolescentes teriam incentivo para tentar novas experiências, mas educados o suficiente para terem responsabilidade.

39. O anarquismo tem alguma posição em relação à reprodução humana, macrossocialmente falando? Como lida(rá) com o descontrole reprodutivo em lugares como a África subsaariana e o Oriente Médio?
R: Geralmente, as famílias que tem muitos filhos possuem um nível de educação menor. Se a educação melhorar, mais conscientes estarão. Nesse caso, acredito que seria melhor um profissional analisar como lidar com isso.

40. O anarquismo tem algo a falar sobre ordem social?
R: Como disse, haveriam conselhos e organizações populares para manterem a ordem, se preciso.

41. Como o anarquismo lida com os conflitos sociais e a perspectiva de as sociedades serem perpetuamente regidas por contradições e conflitos? Como seriam os conflitos dentro das sociedades anarquistas? Haverá o perigo de alguns desses conflitos suscitarem para muitos a volta da ordem estatista e policial?
R: A questão dos conflitos acredito estar explicada no livro “Poder e Domínio”, de Fábio Lopez. Citarem um trecho:

“Neste caso, a sonhada sociedade anarquista teria conflitos, luta por poder, opressão, insatisfação de alguns, porém ninguém seria usado para construir aquilo que não defenda voluntariamente, uma vez que todas as organizações seriam autogestionadas. A autogestão tem de ser percebida como o meio de organização social tipicamente anarquista, pois através dela podemos ter a relação de poder sem domínio.
A principal mensagem deste trabalho aos anarquistas é a revisão de nossos objetivos. O poder não é algo necessariamente antipopular – apesar de ser sempre opressivo. O poder popular legítimo deve existir para oprimir os planos de tirania, que sempre surgem nas cabeças de alguns agentes. A submissão ao poder é uma relação social natural e que pode ser saudável – apesar de não ser desejável. Logo, não somos contra o poder (que pode ser popular) e a opressão (que pode ser contra um tirano) em si. Nossa grande luta é para acabar com as relações de domínio. Isto engloba a derrubada do Estado e a tomada dos meios de produção, além de mostrar que outras instituições também precisam ser revolucionadas como os sindicatos hierarquizados, diretórios centrais de estudantes autoritários etc. Esta posição firme contra a dominação se deve à condição desumana que ela impõe aos agentes. O dominado perde a capacidade de se definir como força oponente, como sabotador, como dono de interesses contrários, em suma, é a perda da capacidade de se colocar como resistência. E isto significa a anulação do dominado como agente nas relações sociais. Não se colocando socialmente, castra sua vontade, perde a iniciativa e a criatividade.”

42. Como o anarquismo contemporâneo lida com a Natureza como um todo? Como propriedade pública humana ou como uma entidade dotada de valor intrínseco que não deve ser tratada como propriedade pública nem privada?
R: Todos os anarquistas hoje, dos primitivistas aos maiores adeptos da tecnologia, reconhecem a necessidade de respeito para com a Natureza. Denominar ela como propriedade pública ou o que seja seriam apenas nomenclaturas daqueles que a utilizam, que acharam melhor tal termo.

43. Como a sociedade anarquista lidará com divergências (entre pessoas ou facções detentoras de determinadas opiniões) tão graves que poderão ameaçar sua coesão social?
R: É complicado tentar presumir detalhes que só poderiam ser tratados naquele momento. Mas como dito, existe o método de democracia direta para decidir determinadas medidas, sempre tentando conciliar os pontos de vistas diversos pacificamente.

44. Ainda haverá algum espaço para a existência de líderes em alguma estrutura microssocial (como grupos ativistas, igrejas, vizinhanças etc.)?
R: O anarquismo é organizado sem hierarquia, verticalidade ou centralização. Claro que poderíamos dizer que uma pessoa que se destacasse poderia ser considerada “líder”, mas não haveria nenhuma posição oficial que garantisse qualquer privilegio, tal como isso seria evitado ao máximo possível encorajando iniciativa de todos.

45. Como a figura do professor é vista na filosofia anarquista? Ele ainda será um “regente” dos alunos? Como lidará com crianças mal comportadas?
R: Os estudos de pedagogia libertária lidam com isso. O professor seria mais um “auxiliar de desenvolvimento” do que uma autoridade na sala de aula. A criança seria incentivada a aprender e buscar conhecimento por vontade própria e iniciativa, sem ter que ficar passivamente recebendo informações do professor.

46. Como o anarquismo lida com o disciplinamento doméstico e escolar das crianças?
R: Não existe um método para lidar assim ou assado. O Anarquismo parte do princípio que tudo deve-se ocorrer o mais longe da autoridade hierarquica. Eu particularmente acredito que não sera um disciplinamento, mas uma conscientização das crianças sobre o que é positivo e negativo, para ela e para os outros.
http://pt.scribd.com/doc/34128279/Anarquismo-e-anarquistas-Educacao-e-Estado-Politica-e-educacao
http://www.dantonmedrado.com.br/downloads/Educacao_Libertaria.pdf
http://www.arteeanarquia.xpg.com.br/a_contribuicao_do_pensamento_pedagogico.htm
http://www.arteeanarquia.xpg.com.br/a_educacao_e_controle.htm

47. Como os anarquistas não veganos veem os animais não humanos? Não é incoerente que, mesmo numa sociedade anarquista, os animais continuem sendo vistos como propriedade humana?
R: Não necessariamente. Eu não sou vegano, por exemplo. Anarquia significa “sem governos”, e governo é algo necessariamente de humanos para humanos (pelo menos por enquanto não descobrimos alienígenas que venham nos escravizar).
A crítica dos vegetarianos se dá, excluindo os aspectos de saúde e economia, mais por um sentimento de afeto com os animais, o suficiente para não gostarem de vê-los morrer para servir de alimentação. Apesar de eu ter certeza que nenhum anarquista é a favor do sofrimento de animais, não há necessariamente um amor a eles o suficiente para abdicarem do consumo de carne. Os ideais anarquistas surgiram para relações entre seres humanos, e se eles devem ou não se adaptarem as relações com os não humanos, é algo a ser debatido.

48. Qual o segredo de uma sociedade anarquista não precisar de polícia para ser uma sociedade livre da criminalidade?
R: Por Polícia, hoje, entendemos um aparato de repressão que, antes de ter como objetivo proteger o povo, serve para proteger a elite. Como explicado anteriormente, acredita-se que a sociedade anarquista, caso não erradique os crimes, os diminua de tal forma que qualquer força de segurança social dificilmente seja necessária. Caso infelizmente seja, algo diferente do que hoje chamamos de Policia, organizada de outra maneira e infinitamente mais eficiente seria colocada para a função, sob o controle da vontade popular.

49. Como se pretende lidar, numa sociedade anarquista, com ladrões de micropropriedades (como computadores, meios de transporte e eletrodomésticos), agressores de pessoas inocentes e animais, cometedores de crimes contra a honra pessoal (injúria, calúnia e/ou difamação), homicidas, assassinos de animais não humanos, destruidores ambientais etc.?
R: Como dito anteriormente em outras questões, esperamos que esses problemas desapareçam. Se não for possível, haverá leis e forças de segurança, controladas pela vontade popular, para lidar adequadamente com a situação.

50. Como o anarquismo pensa a relação geral do ser humano com o meio ambiente?
R: Presumo que se refira ao meio ambiente natural. Aconselho esse texto: http://anarcaipira.blogspot.com.br/2012/01/murray-bookchin-in-por-uma-ecologia.html

51. Como será a transição entre a sociedade estatista e capitalista e a sociedade anarco-comunista?
R: Os pacifistas acreditam que basta começarmos a desobedecer os poderosos que essa nova consciência contaminará a todos que seguirão o exemplo até a substituição pacífica. Muitos apelam para a educação da sociedade de forma que vá ocorrendo leves transições. Eu particularmente acredito que uma Revolução armada é o mais provável, no qual ocorreria a abolição imediada do Estado e da Propriedade, o fim da hierarquia e a construção de um poder popular. Mais uma vez, aconselho o livro “A Conquista do Pão”.

52. Crianças pequenas serão consideradas tomadoras de decisões políticas numa sociedade adepta da democracia direta?
R: Defina criança. Mas no geral, se forem muito pequenas, acredito que não.

53. Como o anarquismo lida(rá) com uma população humana terrestre de diversos bilhões de habitantes?
R: Como nós estamos lidando hoje? Bom, o Projeto Vênus tem algumas ideias interessantes em relação a isso. Apesar de suas falhas em análises economicas e politicas, apresenta propostas interessantes em relação a aspectos tecnológicos.

54. Como o anarquismo poderá ser introduzido e estendido a continentes como a África e a Ásia?
R: Existem grupos anarquistas em países desses continentes. Eles saberiam falar melhor, mas deixo umas entrevistas com eles.
Africa do Sul: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2011/07/494014.shtml
Egito: http://factoriahistorica.wordpress.com/2011/02/15/entrevista-con-nidal-tahrir-anarquista-egipcio/
Síria: http://www.anarkismo.net/article/18738
Indonésia: http://portugal.indymedia.org/conteudo/newswire/3334
Coreia: http://pt.indymedia.org/conteudo/newswire/1190

55. Como as sociedades anarquistas interagirão com povos indígenas tradicionais?
R: Aconselho esse: http://lists.indymedia.org/pipermail/cmi-vitoria/2006-September/0906-gw.html

56. Como o anarquismo lida com as mitologias religiosas apegadas a narrativas ligadas à guerra e ao governo dos deuses sobre os humanos?
R: É algo complicado. Temos uma interpretação antirreligiosa com Bakunin, em seu “Deus e o Estado”, e uma religiosa com Tolstoi, em seu “O Reino dos Ceus esta em Vós”. Acho que essa é uma questão filosófica que está longe de ter um veredito. No anarquismo ou em qualquer outro sistema.

57. Como os anarquistas lidam com (refutam) os argumentos direitistas (tanto ultraconservadores como liberais), que afirmam que certas características humanas, como o egoísmo, o instinto competitivo, a busca pelo mérito e pela ascensão social, a posse de propriedades privadas, a ordem de desigualdade social etc. seriam intrínsecos à natureza humana? Há trabalhos científicos, na Biologia e/ou nas ciências humanas, que refutem esses argumentos?
R: O famoso “o homem é mal”? Primeiramente, aconselho o livro de Kropotkin, “Apoio Mútuo”.
Aqui: http://www.youtube.com/watch?v=pDscJgygL5M
E aqui: http://www.youtube.com/watch?v=qsIiRtnKEd0
http://www.youtube.com/watch?v=KRNUC_6lWFA
http://www.infoescola.com/psicologia/psicologia-social/
http://revistaescola.abril.com.br/lev-vygotsky/
http://pt.wikibooks.org/wiki/Psicologia/Psicologia_social

58. O que o anarquismo contemporâneo pensa sobre a teoria clássica de que uma sociedade capitalista precisa passar por uma fase socialista estatal, precedida por uma revolução popular, para se transformar numa sociedade comunista?
R: Um erro grave. Os anarquistas desde a época de Marx alertam sobre os problemas que essa estratégia causaria. Tudo isso se confirmou com os acontecimentos da Revolução Russa.
Bakunin avisou: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2004/05/279745.shtml
A História confirmou: http://www.reocities.com/projetoperiferia2/secH5.htm

59. É possível propagar o anarquismo em países como Cuba, Coreia do Norte e China?
R: Sim. Inclusive há anarquistas, por exemplo, em Cuba, como mostro abaixo:
http://www.midiaindependente.org/pt/red/2002/04/22055.shtml

60. Como anda o anarquismo nos EUA, país de tradição nacionalista/patriótica que aparentemente dá tão pouco espaço à esquerda anarquista e/ou comunista?
R: O Anarquismo é mais forte nos EUA do que no Brasil. Muitos participaram do Movimento Occupy.

61. Como o anarquismo pretende trabalhar globalmente para abolir as forças armadas e polícias e assim acabar com o perigo de ameaças externas bélicas às sociedades anarquistas desmilitarizadas?
R: Muitos anarquistas atuam em manifestações contra as guerras. Mas a maioria que apoia uma revolução armada não acha que há como evitar um ataque de outros países, e já tem esse pensamento em mente.

62. Como se pretende substituir o modelo de sociedade capitalista, individualista, consumista e estatista hoje dominante por um modelo de sociedade comunista, coletivista (ou que saiba conciliar liberdades individuais com os anseios coletivos), desapegada da “ética de consumo” e independente de Estados?
R: Mudando a organização politica e economica, e conscientizando as pessoas.

63. Como o anarquismo, ele próprio possuidor de bandeira(s), símbolo(s) e cores (rubronegro), lida com a existência de símbolos nacionais (bandeiras, hinos, brasões e selos)?
R: Apesar do anarquismo ser internacionalista, algumas vezes ocorre aproximações com movimentos nacionalistas, quando o foco desses é um combate ao imperialismo. Mas no geral, tratam esses simbolos com desprezo.

64. Como se pretende lidar com o eventual aparecimento de interesses privados deletérios dentro de uma sociedade anarquista?
R: A iniciativa privada não é vista como um problema. O Mutualismo é organizado por uma economia formada por Cooperativas particulares.

65. O anarquismo é essencialmente ateísta? Como lida com o fato de a maioria das religiões existentes reconhecerem no(s) Deus(es) ou entidades subdivinas autoridade, inclusive normativa, sobre os seres humanos?
R: Depende de como você interpreta, como ja mencionei. Por isso muitos acham que Anarquismo deve se focar nas relações entre seres humanos, e deixar de lado a metafísica (Deus) ou a relação com animais irracionais como algo a parte.

66. Como as sociedades anarquistas lidarão com a exportação e importação de alimentos de outros continentes (por exemplo, a soja consumida nas ilhas britânicas é importada de outros continentes)? Aliás, ainda haverá um sistema de comércio global (com ou sem o envolvimento do dinheiro), mesmo de alimentos, ou as sociedades anarquistas focarão totalmente os alimentos produzidos localmente?
R: Olha, nesse aspecto eu não saberia dizer com conhecimento do assunto, mas haveria comercio sim e as sociedades anarquistas poderiam comercializar entre si, inclusive organizando federações de consumidores e produtores com particularidades próprias.

67. Na internet que existirá num mundo cada vez mais anarquista, como serão as redes sociais e fóruns de discussão? O anarquismo tem algo contra a administração e moderação de fóruns de sistemas como Facebook, Orkut e phpBB?
R: Confesso que nunca vi isso ser debatido entre os anarquistas. Até o momento, isso nunca foi visto como um problema. É claro que em uma sociedade anarquista, com a mudança de mentalidade, talvez o formato da internet mude, mas não há nada de imediato em relação a “vamos abolir a administração e moderação”.

68. O anarquismo é aplicável a sistemas de informação e redes sociais de internet? Como funcionaria a gestão desses sistemas, incluindo manutenção de hardware e programação?
R: Aqui isso é abordado: http://anarkhos4ever.blogspot.com.br/2011/08/superinteressante-anarquismo.html

69. Como será o sistema econômico num mundo de sociedades anarquistas?
R: Em relação a isso, existem várias opções, mas todas tem em comum a ausência de hierarquias, dominação e classes sociais, e a presença da autogestão e horizontalidade. O Mutualismo de Proudhon imaginava uma rede de Cooperativas privadas que comercializariam entre si. O Coletivismo (Bakunin) e o Comunismo (Kropotkin e Malatesta) colocam o poder popular controlando a produção de riquezas, com a diferença que o primeiro defende uma distribuição pelo mérito e esforço enquanto o segundo argumenta pela necessidade.

70. Como seriam os esportes que dependem de treinadores, considerando-se que os treinadores, pelo menos nos esportes como conhecemos hoje, geralmente precisam usar valores tendentes ao estatismo e militarismo (disciplina estrita, autoridade, punições contra abusos ou omissões, regulação comportamental etc.)?
R: Não saberia explicar com detalhes isso, mas olha: http://www.fatossurreais.com.br/2012/03/anarquia-e-futebol.html

71. Há condições de surgir uma sociedade anarquista de pelo menos algumas centenas de pessoas, que experimente todas as características de uma ética anarquista, dentro dos próximos 30 anos?
R: Não acho que possamos prever o futuro 😉

72. Como bandas musicais, que hoje dependem de recursos materiais, empresários, roadies etc., viverão numa sociedade anarquista de economia independente de dinheiro?
R: Depende do modelo anarquista. No Mutualismo isso continuaria. Nos outros, acho que a reportagem da Superinteressante anteriormente passada já responde.

73. O anarquismo dá algum espaço ao mérito individual no trabalho? E quando esse trabalho é a educação?
R: Sim. O Coletivismo adota uma distribuição de riquezas conforme o mérito, enquanto o Mutualismo se utiliza de uma iniciativa privada.

74. Como o anarquismo lida com costumes culturais que possuem características como a meritocracia e a popularidade individual (como nas escolas estadunidenses, onde há a cultura do[a] aluno[a] mais popular da classe)?
R: Isso também existe no Brasil hehehe De qualquer forma, de uma olhada na parte sobre o Bullying http://anarcaipira.blogspot.com.br/2012/09/a-guerra-de-todos-contra-todos.html

75. Existe alguma teoria de como o anarquismo poderá triunfar em países cujos Estados fomentam culturalmente a devoção quase religiosa ao Estado, seja como “pátria” ou como entidade governante, como nos EUA e em ditaduras?
R: No início do Anarquismo, acho que quase todos os países eram assim. A Espanha tinha ficado sobre controle de uma monarquia tirana e religiosa, e isso não impediu os anarquistas de se tornarem o grupo mais forte entre as classes trabalhadoras.

76. Como a direita como se conhece hoje, seja conservadora/autoritária, seja liberal/minarquista, vai deixar de existir numa sociedade anarquista?
R: Será que ela irá deixar de existir? Esperamos que construindo uma sociedade mais justa, com o tempo as pessoas percebam qual a melhor solução constatando o óbvio. A Educação é uma boa solução.

77. Como será a disposição de sociedades e culturas num mundo anarquista? E como evitar que diferenças culturais/étnicas desencadeiem sectarismo e intolerância mútua?
R: Evoluindo nós mesmos como seres humanos. Não existe um milagre para isso, mas esperamos que os princípios anarquistas superem esses problemas.

78. Afinal de contas, ainda existirá espaço para o dinheiro, mesmo sem ele ser o centro da ordem social, nas sociedades anarquistas? Ou ele será substituído, por exemplo, pelo escambo?
R: Ambos. Haverá escambo, dinheiro, comércio. Cada grupo escolherá seu modelo economico. Em outros, como os comunistas, nem comércio será necessário, pois todos terão acesso a tudo.

79. Quando Max Weber falou que a violência é intrínseca ao funcionamento do Estado, ele de fato inspirou os anarquistas em sua defesa da abolição dos Estados?
R: Não necessariamente. Rousseau inspirou os anarquistas? Marx inspirou? Há pessoas defendendo ideias semelhantes das anarquistas desde a Grécia antiga. Como podemos dizer quem inspirou quem? Talvez seja um desejo de todo ser humano.

80. Retomando o argumento da “natureza humana” egoísta, competitiva, meritocrática, ostentadora de propriedade privada etc. usado pela direita, se esse argumento realmente não é válido, como se pretende influenciar as pessoas de modo a não serem mais egoístas, competitivos, valorizadores do mérito, desejadores da propriedade privada etc.?
R: O lucro era condenado na Idade Média. Hoje ele é algo natural. Analise os pensamentos de épocas diferentes, de locais distintos. A cultura muda. Por que não seria possível uma outra cultura? As tribos indígenas não possuem propriedade privada. Os cristãos primitivos não defendiam a competição. Além do mais, Stirner, considerado o pai do Anarco-Individualismo, defendia o egoísmo do ser humano. Proudhon dizia que a concorrência poderia ser positiva entre as cooperativas e Bakunin propunha uma distribuição de riqueza pelo mérito. Tudo depende do ponto de vista adotado.

81. Ainda existirão empresas numa sociedade anarquista? Se sim, como funcionarão? A autogestão dá espaço para que pessoas coordenem equipes na produção de bens e serviços?
R: Sim. As cooperativas privadas, como elaboradas por Proudhon, é o melhor exemplo.

82. Como o anarquismo aborda a questão da remuneração, de a pessoa ganhar algo em troca de seu trabalho?
R: O Mutualismo e o Coletivismo abordam isso, de formas diferentes. O Comunismo prefere superar essa necessidade.

83. Existe alguma objeção ética a um anarquista de hoje ser, por exemplo, administrador e/ou moderador de um grupo no Facebook, uma comunidade no Orkut ou um fórum phpBB?
R: Se tivesse, não existiriam anarquistas no mundo hoje hehehe

84. Como os valores da individualidade serão tratados no anarquismo? Que espaço a individualidade do indivíduo terá numa sociedade anarquista?
R: Bakunin disse “a liberdade do outro eleva a minha ao infinito”. Os anarquistas entendem que a individualidade e a coletividade são complementares.

85. O anarquismo tem algo a dizer sobre relacionamentos monogâmicos fechados, inclusive quando o indivíduo prefere, por conta própria, relacionamentos monogâmicos fechados ao poliamor?
R: Amor livre significa amar como quiser e quem quiser. Para o anarquista, uma relação monogâmica não é melhor nem pior do que qualquer outra. Cada um se envolve como preferir.

86. O que será feito com livros defensores das ideologias de direita numa sociedade anarquista? E se eles parecerem convincentes para alguns indivíduos, e esses indivíduos começarem a defender a volta dos Estados, das polícias e dos regimes representativos, o que será feito?
R: Os livros seriam permitidos. Espera-se que os individuos tenham consciencia o suficiente para não cometerem esse erro. E como diz o autor do livro Poder e Domínio, se for necessário, o poder popular usará a força para impedir os planos da tirania.

87. Em relação aos livros, como o anarquismo lida com as bibliotecas pessoais? Exemplares de livros poderão ser considerados micropropriedade privada, que o indivíduo poderá guardar para si de modo a consultá-lo e relê-lo sempre que preciso, ou todos os livros serão considerados bens comuns? Como assegurar, inclusive, que sociedades anarquistas do outro lado do mundo tenham acesso aos livros escritos numa determinada sociedade anarquista?
R: Acredito que a questão de propriedade já foi explicada antes. Sobre como os livros vão chegar do outro lado…bom, das mesmas formas que chegam hoje. Comércio, compartilhamento real ou online.

88. Como o anarquismo lida com a posse sobre blogs e sites? Seu conteúdo será livre para reprodução, mas alguém poderá ainda se dizer, por exemplo, “dono de um blog” numa sociedade anarquista?
R: Eu posso ser dono de um carro, de uma escova de dentes ou de um blog, sem problemas.

89. Como o anarquismo lida com instituições clericais autoritárias, hierárquicas e conservadoras, como a Igreja Católica?
R: Elas seriam derrubadas, tal como o Estado e o Capitalismo.

90. Como o anarquismo lida com culturas “primitivas” que promovem, por exemplo, infanticídios, mutilação genital e patriarcalismo?
R: Questão complicada. Não conheço um consenso nesse assunto. Apesar dos anarquistas criticarem esses costumes, não há uma medida prática. O Patriarcalismo seria combatido pelas ideias feministas. Mas o infanticídio indígena, por exemplo, não há uma resposta. Eu, particularmente, defenderia um acordo para “extraditar” as crianças a serem mortas, sob pena de uma intervenção militar. Mas acredito que muitos outros teriam outras soluções.

91. Socialistas do século 21 (que não defendem os regimes socialistas históricos instaurados no século 20, mas sim uma nova forma de socialismo) são considerados adversários políticos dos anarquistas?
R: Depende. Se eles forem hierárquicos e autoritários, sim.

92. É válida a comparação entre o “Estado de bem-estar social”, que mantém o capitalismo e o regime estatista mas provê bem-estar social à população, e o bem-estarismo animal, que provê condições de bem-estar aos animais não humanos mas continua tratando-os como escravos?
R: Acho complicado. Talvez um vegano pudesse afirmar que sim. Eu como um onívoro, prefiro não usar essa comparação.

93. O anarquismo passará inevitavelmente por transformar a Ética do Trabalho hoje existente por uma bastante diferente. Como se dará essa transformação?
R: Só o tempo dirá. Mas tudo indica que para melhor.

94. Qual é a propriedade privada a ser abolida no anarquismo? (retome-se a pergunta em que se falou das propriedades domésticas, como computadores, eletrodomésticos, carros, roupas etc.)
R: Dos meios de produção, quando utilizados para explorar outros.

95. Considerando-se que o anarquismo implique o comunismo, a igualdade social, a inexistência de classes sociais, como será regulado o tamanho das casas de cada família? Não haveria uma desigualdade entre alguém que tem uma casa de 60m² e alguém que tem uma de 100m²?
R: Tem pessoas que gostam de viver em mansões. Outras preferem lugares menores como um apartamento. Acho que os seres humanos são diferentes, então não adianta criar um parâmetro para isso.

96. Como se daria a divisão social do trabalho numa sociedade anarquista?
R: Não haveriam hierarquias. Os Comunistas e Coletivistas, nas organizações públicas, defendem a não separação dos trabalhos físicos e intelectuais. Mas nada impede uma cooperativa particular de pedreiros, ou de escritores.

97. Grupos ativistas (de seja lá qual for a causa) totalmente desprovidos de coordenadores funcionam melhor que grupos ativistas com coordenação local? O anarquismo tem algo a objetar sobre grupos ativistas com coordenadores?
R: Defina coordenadores. De qualquer forma, olhe a atuação de movimentos como o Anonymous ou Occupy. Totalmente descentralizados, mas coordenados entre si.

98. Por que há diversas posições anarquistas divergentes? Qual versão de anarquismo é, afinal de contas, a mais plausível, ética e igualitária? (não se inclua o anarcocapitalismo nesta questão)
R: Qual a comida mais saborosa? Qual a melhor música? Acho que a resposta disso é individual.
http://www.reocities.com/projetoperiferia2/secA3.htm

99. O fato de algumas pessoas serem mais famosas e prestigiadas que outras, em razão de seu trabalho cultural, científico ou intelectual, é abordado no anarquismo?
R: Desconheço.

100. Como se lida, no anarquismo, com divergências pedagógicas nas escolas? E se essas divergências forem tamanhas a ponto de inspirarem o ensino de ideologias diferentes?
R: É quase um consenso o ato de evitar ideologias, e permitir o desenvolvimento das crianças da forma que quiserem caminhar.

101. Como a coleta de lixo vai se dar numa sociedade anarquista? Como vai se lidar com o lixo que não pode ser reciclado nem convertido em material orgânico (como lixo hospitalar)?R: Cooperativas públicas. A segunda pergunta, acredito que seria algo a se resolvido independente das ideias anarquistas, e sim buscando a melhor opção para dar um fim no lixo (ou evitando a utilização desse material).

102. Como serão geridas as redes de água e esgoto numa sociedade anarquista? Por uma empresa autogerida ou por outro meio?
R: Por uma empresa autogerida, ou por outro meio que a organização popular decida utilizar.
Fonte: Anarcaipira

103 – Outras Perguntas e Respostas Freqüêntes sobre Anarquismo