Resenha da conferência de Slavoj Zizek no Brasil

Uma breve Resenha da conferência “De Hegel a Marx… e de volta a Hegel!” proferida por Slavoj Zizek

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A Boitempo Editorial está organizando uma série de eventos chamados de “Marx: a criação destruidora”. Estes eventos consistem em três etapas, a primeira etapa foi realizada durante os dias 5, 6, 7 e 8 de março no Sesc Pinheiros. Da qual tive a oportunidade de participar da conferência proferida por Slavoj Žižek. A segunda etapa consiste no “IV Seminário Margem Esquerda: Marx e O Capital” e será realizada durante dos dias 22 e 23 de março, tendo as inscrições já esgotadas. Por fim a terceira etapa, “IV Curso livre Marx-Engels”, será realizada nos dias 7,8,14 e 15 de maio. Para mais informações acesse o site da série.

No dia 8 de março Žižek veio para o Brasil para lançar seu novo livro pela Boitempo, “Menos que nada, Hegel e a sombra do materialismo dialético”. A conferência foi realizada no Sesc Pinheiros e teve cerca de 1000 participantes.

Farei aqui uma breve síntese dos assuntos mais importantes que foram abordados por Žižek. Para facilitar a compreensão, uma vez que este texto é o resultado de minhas anotações durante o evento, optei por fazer a síntese por assunto e apresentada em tópicos.

Sobre Hugo Chávez

Com críticas e elogios, Žižek iniciou a conferência falando sobre a morte de Hugo Chávez e de seu legado. Žižek não aprovou alguns feitos de Chávez, principalmente nos últimos anos de seu governo. Deixou claro que não fazia acusações sobre a suposta ditadura chavista, mas sim, criticava a política externa e econômica de seu governo. Mencionou que não se pode perdoar amizades com personalidades como Lukashenko e Ahmadinejad. Na política econômica a crítica foi direcionada a uma série de medidas improvisadas que, em vez de resolver realmente os problemas, procuravam encobri-los. Žižek chegou a citar que, de acordo com os conceitos marxistas clássicos, a venda de petróleo venezuelano ao EUA poderia ser considerado exploração. Žižek, menciona que Chávez despertou as massas, que até então estavam adormecidas, criou um governo do povo, para o povo. Žižek pergunta: Este modelo pode ser aplicado fora?

Sobre a Europa e América Latina

Žižek menciona que a Europa está em ruínas, podendo estar à beira de uma guerra civil. Diz que é lindo toda aquela multidão nas ruas, mas aquilo ainda está desorganizado, mas irá se organizar. Menciona que a luta de classes está ressurgindo. Žižek diz que, segundo a escatologia marxista convencional, onde há maior perigo é onde há a maior chance de salvação. Em relação à América Latina, Žižek disse: vocês não inventaram algo como modelo, acho que não dá para fazer isso.

Sobre a mulher

Žižek menciona que a violência contra a mulher é sistemática e ritual. Ocorrências de extrema violência acontecem também em países desenvolvidos e pouco ou nada se faz para resolver os casos ou impedir as ações.

Sobre o stalinismo e menção a Hegel

Com fortes críticas ao stalinismo e ao socialismo do século XX, Žižek chegou a afirmar que a violência que existiu durante o período Stalinista,(1924-1953) principalmente durante as coletivizações forçadas, demonstra um sinal claro de impotência, a impotência de romper com o passado. Diz que devemos rejeitar este raciocínio stalinista, não podemos viver de nostalgia. Não estamos mais no século XX.

Com citações de Hegel, Žižek afirmou que não devemos olhar para o futuro, a primeira vez sempre falha, é necessário falhar na primeira experiência para que da segunda vez a ação tenha sucesso, desta maneira devemos voltar, olhar e progredir. Para ele Marx não foi culpado pelo stalinismo, é preciso repensar o legado marxista e criá-lo novamente.

Desemprego, endividamento, for rent e renda

É crucial repensar a noção de exploração, atualmente é necessário incluir os desempregados como explorados. O desemprego atualmente tem um papel estrutural muito mais forte. A exclusão do desemprego é uma espécie de inclusão.

Não podemos nos esquecer da dívida também, a dívida virou um investimento capitalista, virou uma forma de controle ideológico que torna quase impossível sair desta situação de endividamento.

Hoje, parece que estamos vivendo um capitalismo de caridade, o consumidor pode ter sua consciência limpa, isso está se tornando um modo de vida.

Estamos parcialmente voltando do lucro para a renda. Atualmente o aluguel é uma fonte de riquezas. Os digitalmente ricos como Bill Gates, privatizaram a substância intelectual livre -parte do que Marx chamava de intelecto geral-, pagamos um aluguel ao Bill Gates para que possamos trocar nossos conhecimentos.

Alguns acham que o neoliberalismo se baseia no FMI, estão errados. O neoliberalismo não é um sistema homogêneo no qual o FMI dita as regras, infelizmente essa questão é muito mais complexa, afirma Žižek.

Assista a conferência na íntegra

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